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Entre Olhares: Prevenir, não remediar.

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Esta é a terceira semana que venho me reportando à questão das drogas na nossa sociedade. Tenho a intenção de realizar um trabalho educativo e esclarecedor. Tenho claro que os jargões preconceituosos e negatórios alardeados no passado, já não funcionam mais. Discursos do tipo: “Uma sociedade sem drogas”; “Diga não às drogas” ou “Guerra às drogas”, além de ultrapassados, também não contribuem em nada na solução do problema.

Data de 4000 antes de Cristo que civilizações da Ásia, Turquistão e China extraíam óleo da semente de maconha para temperar as suas comidas e, a parte seca do vegetal, era dada ao gado, na forma de forragem. Os Incas utilizavam as folhas de coca (de onde se extrai a cocaína) em rituais sagrados. Os Andinos, além do uso religioso, também utilizavam a folha de coca para fins terapêuticos e nutricionais. Os Espanhóis usaram-na como moeda de pagamento.

Até onde consegui pesquisar e tomar conhecimento, não consta nenhum registro histórico de violência e/ou delinquência infanto juvenil naquelas sociedades derivados do uso e consumo daquela substância. Como se pode perceber, a questão das drogas está relacionada à cultura de uma sociedade. O advento da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL e o nascimento do CAPITALISMO são ao meu ver os dois pilares que sustentam a problemática das drogas nos nossos dias.

Na Idade Média a manifestação da dor era considerada uma manifestação divina que servia ao expurgo de todos os males e de todos os pecados. A partir do Século XIX, surge a Revolução Industrial e , com ela a produção em grande escala, necessitando de um grande mercado consumidor: 1806 – morfina; 1832 – codeína; 1841 – cafeína; 1856 – seringa hipodérmica; 1860 – cocaína; 1874 – heroína, ecstasy e remédios psicoativos.

A partir de então, a dor passou a ser uma coisa desnecessária, ruim, passível de tratamento e a sua cura extremamente necessária; ou seja, muito mais importante do as tradições culturais e/ou religiosas, saciar a fome de lucro do mercado capitalista passa a ser a ordem do dia. Para se ter uma ideia, no ano passado, a indústria farmacêutica cresceu mais de 13%; enquanto a inflação oficial ficou entorno de 6%, os remédios tiveram reajuste superior a 12%.

Este foi o maior índice de reajuste dos remédios desde 2000. No ano passado os 10 maiores grupos farmacêuticos do Brasil faturam mais de R$ 48 bilhões, o que representa quase 57% do mercado varejista do nosso país. Os ansiolíticos, os hipnóticos e os benzodiazepínicos lideram todas as listas de vendas e todos eles, a depender da dosagem e da saúde do consumidor, podem gerar dependência química, ou seja, podem se transformar numa DROGA!

Hipócrates e Galeno, na antiguidade já sentenciavam: “a diferença entre remédio e veneno está na dosagem”. Vejo como necessário e oportuno que a sociedade civil organizada em seus Movimentos Sociais de Base tome a iniciativa de uma campanha educacional ampla e irrestrita para esclarecer à população que a questão das drogas em nosso país é também uma questão política e econômica, à mercê dos interesses dos grandes grupos empresariais.

Acredito que o enfrentamento desta problemática social das drogas precisa deixar de lado a sua negação hipócrita e descabida. Urge estratégias educativas para mostrar aos usuários e dependentes de drogas que eles podem e devem obter a libertação de suas angústias, prazer e felicidade através de opções saudáveis, politicamente corretas e socialmente construtivas. Melhor dizendo: PREVENIR, NÃO REMEDIAR…

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