Artigo

Entre Olhares: Muito Obrigado!

Published

on

Há dias tenho sido acometido pela vontade de escrever sobre esta questão do agradecimento. Motivos não me faltam. Faltou-me a decisão de sentar e estabelecer um diálogo entre nós, para refletir um pouco mais a respeito do assunto. Finalmente consegui. Esforçar-me-ei a fim de que eu possa trazer alguma contribuição no sentido de instigar a cada um dos meus leitores a praticar sem parcimônia este ato que (no meu entendimento) é o mais nobre, difícil e singelo que nós seres humanos deveríamos exercitá-lo em TODOS os momentos de nossas vidas.

O que me moveu no sentido de escrever sobre este assunto foi o discurso de agradecimento à UNB (Universidade de Brasília), pela outorga do Título de Doutor Honoris Causa, em 2015, ao Doutor em Educação e em História, António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa, Catedrático e Reitor Honorário da Universidade de Lisboa. Segundo ele, existem três níveis de agradecimento: um extremamente superficial, a exemplo dos alemães e dos norte americanos; um outro nível intermediário, a exemplo dos europeus e espanhóis e, um terceiro nível extremamente profundo, expresso em Português.

Coincidentemente, na viagem que fiz à Salvador, minutos antes de embarcar no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, ao dar uma rápida passada pelo livreiro, deparei-me com uma verdadeira obra prima da escritora Carolina Chagas: O livro da gratidão, Editora Fontanar, 2017. Devorei-o! Recomendo-o! Trata-se de excelente leitura! Logo na introdução fiquei a imaginar como nossa sociedade é preconceituosa: nalgumas comunidades litorâneas é comum as pessoas aplaudirem o pôr do sol. Não conto as vezes que ouvi: “isso é coisa de maconheiro!”. Contudo, essa era a prática diária dos Povos Pré Hispânicos.

Uma das maiores matriarcas do Candomblé do Brasil (Mãe Stella de Oxóssi), herdeira do Axé de Mãe Menininha, nos ensina que logo nos primeiros passos rumo ao sacerdócio dentro das Religiões Afrodescendentes é primordial que o Abiã (curioso) aprenda desde muito cedo o significado da palavra “dupè”, derivada de uma outra expressão Iorubana “opè”. Ambas estão relacionadas à expressão da gratidão. Segundo a nossa venerada Yalorixá, do latim, “obligare” significa ‘para unir’. Por tanto, ao pronunciar “muito obrigado!” você cria vínculos de amizade e cooperação.

Esopo foi escravizado na Grécia, Século VII antes de Cristo. Ele é o criador do estilo literário chamado de fábula, onde animais se comportam como seres humanos. Platão e Aristóteles não se fizeram de rogados e, muitas de suas inspirações provinham dessas fábulas. E já naquela época, Esopo afirmava: “A gratidão é a virtude das almas nobres”. Sidarta Gautama (BUDA – cujo significado é “o iluminado”), morreu aos 80 anos, em 484 antes de Cristo, na Índia. Para o fundador do Budismo, o simples fato de nos levantarmos ao início do dia, já é suficiente para sermos gratos.

O texto mais antigo do Novo Testamento é intitulado de Carta aos Tessalonicenses, escrita no ano 51 pelo apóstolo Paulo. Afirma-se que este apóstolo foi o responsável pela evangelização da Tessalônica, capital da Macedônia, às margens do Mar Egeu. No seu texto Paulo afirma: “Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Jesus Cristo” (5, 18). O próprio Jesus Cristo pediu para que fôssemos gratos em qualquer situação. O maior dramaturgo de todos os tempos, William Shakespeare (Inglaterra, 1564 – 1616), afirmou: “a gratidão é o único tesouro dos humildes”.

Mestiço, apenas com o curso primário, falava fluentemente francês, inglês e alemão. Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS (Rio de Janeiro, 1839 – 1908), ícone da Literatura Brasileira, escreveu: “a gratidão de quem recebe um benefício é sempre menor do que o pazer daquele que o faz”. Em sua Suma Teológica, São Tomás de Aquino (Itália, 1225 – 1274) discute a importância e os níveis de gratidão, afirmando: “a amizade se conserva pela compensação de benefícios – se bem que isso pertença especialmente à virtude da gratidão”.

Ativista dos Movimentos de Esquerda, pedagogo, eleito Senador pelo Partido Comunista Chileno, viveu na clandestinidade, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1971, Ricardo Eliezer Neftalí Reyes Basoalto, o famoso Pablo Neruda (Chile, 1904 – 1973) também escreveu: “grato pela palavra que agradece. Grato a grato pelo quanto essa palavra derrete neve ou ferro. Grato, és pílula contra os óxidos cortantes do desprezo, a luz contra o altar da dureza”. Para Jorge Mario Bergolgio ( PAPA FRANSCISCO), “a alegria brota de um coração agradecido”.

Muito mais ainda poderia ser escrito a respeito da palavra gratidão. Contudo, o espaço que aqui me é reservado não o permite. Por tanto, sem mais delongas a todos vocês, muito obrigado!

EM ALTA

Sair da versão mobile