Americando
Americando: Moralismo pragmático
Estava eu na calçada de casa, olhando a rua precisamente ao meio-dia. Um senhor com aspecto de morador de rua aproximou-se, deu bom dia e foi vasculhar o lixo que ali perto estava. Respondi ao seu bom dia, embora já fosse boa tarde. Puxei conversa com ele sobre calor, que ia chover e que esperava que as coisas melhorassem… Dito isso, ele fixou o olhar em mim e começou a me dizer umas coisas que tentarei descrever abaixo. Olha… foi um soco no meu estômago… fiquei meio que com síndrome de vergonha de mim mesmo… Ele falou de pragmatismo, moralismo e diversas críticas à sociedade em uma fluência admirável… Acho que me vi em muitas de suas críticas e observações… Foi algo mais ou mesmo assim, disse ele: “A maioria das pessoas, sem sobra de dúvidas, vivem de aparências… Inventam que possuem um casamento, que dominam em certo grau um conhecimento que professam, maquiam a própria realidade para se sentirem confortadas e criam delírios e imagens de si que só elas, que querem provar que tais aspectos são realidade, acreditam. Contudo, meu jovem, o simples fato de querer provar, já evidencia o fracasso e o não ser… Eis a representação real do não ser… o que acha que é, mas sabe que não é… impõem isso aos outros que também são não seres…
A cumplicidade é mútua, pois eles precisam, tais indivíduos disso, para suportarem a realidade… Precisam dessa hipocrisia comum entre si já que são pares na representação daquilo que não existe… Sobra covardia… sabotagem da mente, vivem algo que não existe e vez ou outra estoura um suicídio, uma receita de psicotrópicos, pois logo, logo, só inventar, não adianta…. Presta atenção rapaz, o inconsciente sabe que é só representação e sabotagem, e a mente em convulsão uma hora vai cobrar isso… Sobra covardia, cinismo e pragmatismo de seres não seres na representação prática do não ser…
Entra nisso tudo a conduta de tais pessoas em participarem de uma religião. Eles são bem íntimos de um ser que chamam de deus… sim… eles conversam com deus em reciprocidade de perguntas e respostas. Tudo é um universo de literatura fantástica para explicar todas as coisas que ocorrem em suas vidas. Já pensou? Desastres, doenças, maldições e bonanças são explicáveis no íntimo delas por um plano de deus. Nunca é uma consequência de suas próprias escolhas… e se tudo der certo foi deus, mas se der errado, embora seja paradoxal, foi culpa delas… ou mesmo sendo culpa, deus permitiu para que elas lá na frente conseguissem coisas melhores… Tudo é objeto de criação de uma literatura fantástica. Eles dizem que pegaram uma doença incurável, e têm até laudo e tudo, muitos morreram, mas eles ouviram a voz de deus dizendo que eles não iam morrer… É bem isso… meu jovem… nesse naipe… Outra, alguns vivem falando em deus e tal…, mas transformam a vida dos outros ao seu entorno em algo ruim… um inferno, talvez… Acredita?
O moralista pragmático é antes de tudo um frustrado… vive com a cara emburrada, a legalidade é contemplada por ele com olhos altivos, mas esta legalidade seria melhor se ele a executasse. Eles, os tais moralizadores pragmáticos, são conhecedores do bem e do mal, sabem de tudo! Tudo mesmo! Entendem até de um livro que você inventa que leu e eles também dizem que leram. Caso você revele que é mentira, que o livro não existe, que inventou tudo só para caçoar; eles dizem que sabiam da mentira e estavam levando a conversa para ver até aonde ia… Pois é… eu já fiz isso com alguns… A coisa está complicada rapaz… se cuida… boa sorte…”
Fiquei ali a refletir sobre aquilo… pasmado, uma reflexão precisa… Um andarilho comum, em plena uma pandemia, maltrapilho, sujo, catador de coisas recicláveis do lixo, me chega com essas reflexões para tornar meu dia mais inquieto, instigante e sobretudo desafiador de minhas próprias concepções. Infelizmente não perguntei seu nome, não sei de onde veio, nem para aonde foi, apenas falei pouquíssimas palavras e fui surpreendido. No acaso da vida, por conta de ter vindo olhar a rua deserta ao meio-dia, recebi uma reflexão filosófica e analítica de um anônimo que me olhou fixamente e tudo isso me disse. Suas palavras ressoam ainda em mim, tanto que quis escrever o mais rápido possível para não esquecer, a despeito de muitas de suas observações terem me deixado constrangido. A aparência daquele homem para mim tornou-se essas palavras… não lembro de sua face com precisão, apenas seu aspecto maltrapilho, seus olhos vivos a mim olharem e suas palavras a jogarem reflexões que me perturbaram e me fizeram ver muitas coisas tanto em mim como em muitos ao meu redor. Que aula de filosofia tive…
*Por Américo Neto
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