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Terapeuta mexicana transforma em quadrinhos o ‘machismo light’ que homens e mulheres perpetuam

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Na fila da vacina no posto de saúde, talvez você já tenha escutado pais e mães dizerem para seus filhos: “Chorar não é coisa de menino”.

“Desde pequenos, os meninos são imbuídos dessa necessidade de demonstrar que são homens”, diz à BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC) a psicoterapeuta mexicana Marina Castañeda, que se uniu à desenhista Eva Lobatón para retratar em quadrinhos essa e outras cenas cotidianas que, em sua opinião, acabam reafirmando o machismo na sociedade.

A consequência dessas atitudes, afirma, é um “machismo light” que pode não levar necessariamente à violência física contra a mulher, mas perpetua estereótipos de gênero.

Com um viés bem-humorado, Castañeda retrata em El Machismo Ilustrado (“O machismo ilustrado”) cenas da sociedade mexicana, mas que podem por vezes soar familiares no Brasil e no restante da América Latina.

“Há elementos do machismo que hoje são caricaturais, detalhes da vida cotidiana que são dignos de risos, e não apenas de lamentações”, opina Castañeda.

A seguir, trechos de sua entrevista à BBC Mundo:

BBC Mundo – De onde surgiu a ideia de ilustrar o machismo?

Castañeda – A intenção é descrever as formas sutis do machismo no México. Mas não o machismo violento, flagrante, e sim aquele light, aqueles pequenos gestos e atitudes da vida cotidiana tanto de mulheres como de homens.

(Há) a atitude do macho mexicano que nunca admite ter cometido um erro, que considera ter direito a ter razão. Ou os homens que não admitem que uma mulher os interrompa.

Em meu trabalho como psicoterapeuta, encontrei muitos casos assim. Um deles foi um paciente que me contou, no meio de uma sessão, que havia “retirado (o direito) à fala” de sua esposa havia uma semana porque ela o havia interrompido no meio de uma conversa. Essa frase contém a noção implícita de que a fala é um favor concedido à mulher. É como tirar o brinquedo da criança.

Outro exemplo é que os homens sempre dirigem (o carro). Entrevistei mais de cem mulheres que diziam dirigir e que o faziam bem.

Então perguntei a elas por que seus maridos costumavam estar ao volante, e me responderam que quando elas dirigiam ouviam tantas críticas que decidiam dar o lugar a eles. “(Meu marido) me dava tantas instruções”, me disseram várias.

Em contrapartida, quando perguntava aos homens, a resposta era “porque eu dirijo melhor”.

Tirinha do livro de Marina Castañeda‘Como se fabrica um machinho?’, pergunta a tirinha. As respostas: ‘Consiga uma babá que viva só para ele’. ‘Entende bem qual é o nosso trabalho?’, diz a mãe. ‘Claro que sim, senhora, me ensinaram desde bem pequena’, responde a babá | Ilustração: Eva Lobatón 

Decidi investigar. E todas as companhias de seguro que consultei me disseram que, estatisticamente, as mulheres dirigem melhor que os homens. “Causam menos acidentes. São mais cautelosas e prudentes”, me responderam.

É um exemplo de como um comportamento que tem a ver com controle e poder se torna um axioma, isso que “as mulheres dirigem mal”, e não é verdade.

É um dos muitos costumes inscritos na cultura popular.

BBC Mundo – Por que essas coisas continuam se perpetuando?

Castañeda – Porque ficaram inscritas como verdades quase biológicas. Um exemplo é (a ideia de que) as mulheres são as únicas que podem criar um bebê e que só elas têm instinto maternal. É totalmente falso. Há milhares de livros ensinando a criar um bebê, ou seja, é algo que se aprende.

Essas “verdades quase biológicas” fazem com que os homens sejam considerados inaptos para certas tarefas. O machismo também afeta os homens, porque considerá-los inaptos para cuidar dos filhos é o mesmo que considerar as mulheres inaptas para usar o computador.

E o argumento não se sustenta: há centenas de homens que criaram seus filhos sozinhos, (sendo) divorciados, viúvos, gays…

Também é algo extensivo à linguagem: o homem que cozinha é chef, mas a mulher é cozinheira. O homem é alfaiate, mas a mulher é costureira. Segue-se menosprezando a atividade da mulher, mesmo que ela faça exatamente o mesmo que um homem.

Tirinha do livro de Marina Castañeda‘Macho atual: Olhar agressivo que significa: aqui só meus culhões reinam. Possibilidade de castigar. Instrumento de controle. Colocá-lo sobre a mesa é dizer ‘aqui mando eu’. Necessidade de dirigir um veículo poderoso e rápido, que mostre a importância do proprietário’ | Ilustração: Eva Lobatón

BBC Mundo – Há uma observação no livro que gostaria que você esclarecesse: a de que os homens têm que “demonstrar que são homens”, mas as mulheres, não.

Castañeda – É algo que observo há muito tempo e em que penso: qual a essência do machismo?

A definição mais precisa que encontrei foi esta: as mulheres não precisam demonstrar o tempo todo que são mulheres. Não é necessário. Já para os homens, o ato de dizer “sou homem” não é suficiente para declarar sua identidade. Muitos sentem a necessidade de demonstrar que são muito homens ou muito machos.

O machismo é esse esforço extra que os homens fazem para demonstrar que são “muito homens”.

Que forma toma esse esforço perpétuo, que me parece tão cansativo? Consiste, primeiro, na competição eterna com os demais homens. E, segundo, em demonstrar que são superiores às mulheres em todas as situações.

BBC Mundo – Acha que os homens precisam ler mais (seu livro) do que as mulheres?

Castañeda – Vou te contar um caso. Um homem me disse um dia durante a terapia: “depois de ler o livro percebi que estava fazendo algo errado com as mulheres”.

Ele não sabia exatamente o que acontecia, mas me disse que era um homem divorciado que gostaria ter uma relação melhor com as mulheres.

Perguntei se ele tinha alguma amiga mulher. Ele respondeu que não, que não via sentido em ter amigas mulheres porque, se gostasse dela, não ia querê-la como amiga, e sim como outra coisa. (…) Então dei a ele a tarefa de falar com sua irmã e buscar amigas. E pouco a pouco ele mudou sua forma de se comunicar com as mulheres e assim foi conseguindo ter amigas.

Encontrou uma forma de lidar com as mulheres, para além de vê-las como um objeto sexual. Essa é outra característica da sociedade machista: que homens e mulheres não sejam amigos, o que é absolutamente ridículo.

BBC Mundo – O livro tem um adendo sobre regras de como se cria um machista. (…) Qual seria essa receita para criar um machinho?

Castañeda – Uma é fazê-lo sentir que é o rei do mundo. Dois, dar a entender que as mulheres ao seu redor estão ali para atendê-lo. Três, educar meninos e meninas de maneira distinta. Estender essa crença de que os meninos são bons para algumas coisas e as meninas, para outras.

Não é assim. Porque o machismo não se trata apenas de criar o menino (como um) machinho, mas sim a menina como alguém que assuma um papel de submissa e conciliadora.

BBC Mundo – Você fala de um princípio que parece generalizar esse machismo light: o de que a mulher está sozinha se não estiver acompanhada de um homem. De onde veio esse conceito para transformá-lo em caricatura no livro?

Castañeda – Há muitas facetas disso. Para começar, acho que já é equivocado dizer que duas mulheres que viajam ou estão em um bar estão sozinhas.

Quando uma mulher se divorcia, na maioria dos casos não volta a casar. Enquanto que, em sua maioria, os homens divorciados voltam a se casar em média depois de dois anos.

Isso nos dá a ideia de que sociologicamente há mais mulheres vivendo sozinhas e perfeitamente bem sem homens. Isso é estatisticamente demonstrado, mas a crença popular diz que as mulheres não podem viver sem homens.

Há um comentário da antropóloga Margaret Mead nesse sentido: “Quando o homem perde sua esposa, ele volta a se casar. Quando a mulher perde seu marido, simplesmente segue cozinhando”.

Livro Homens sentem a necessidade constante de provar sua masculinidade, diz autora de ‘El machismo ilustrado’ | Ilustração: Taurus

Fonte: BBC

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