Em 9 de dezembro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado Daniel Silveira (PTB-SP) tentaram aliciar o senador Marcos do Val (Podemos-ES) em um plano para prender o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A revelação, registrada em áudio, foi feita pelo próprio senador. O plano, segundo Val, consistia em ele gravar uma conversa com Moraes e arrancar dele alguma declaração que indicasse parcialidade na condução das eleições. O equipamento de escuta seria fornecido pela Abin e pelo GSI. Com a gravação, Bolsonaro interviria no TSE e se perpetuaria na presidência. O senador afirmou ter procurado Moraes e denunciado a trama, mas, como se recusou a depor pessoalmente, o ministro disse não poder tomar providências.
O relato de Marcos do Val pode dar contexto à minuta de um decreto golpista encontrado pela Polícia Federal na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Segundo o documento, seria decretado “estado de Emergência no TSE” para impedir a posse de Lula. A gravação que o senador deveria obter seria a justificativa para a ação.
Tão logo ficou clara a dimensão da denúncia de Val, a cúpula bolsonarista traçou uma estratégia, como revelou Luciana Lima: jogar a responsabilidade nas largas costas de Daniel Silveira.
Pois é…. O senador mudou sua versão após receber telefonemas de Flávio e de Eduardo Bolsonaro. À Veja, ele disse e a revista gravou, que a reunião foi agendada pelo presidente. Após as conversas com os filhos do presidente, passou a dizer que a iniciativa fora do deputado e que este apresentara os detalhes do plano, embora mantivesse que isso aconteceu na presença de Jair Bolsonaro. Do Val também voltou atrás na ideia de renunciar ao mandato.
O senador e filho Zero Um Flávio Bolsonaro (PL-RJ) argumentou, em discurso no Senado, que a conversa relatada por Marcos do Val “não configura crime”. “Ainda que fosse verdade — porque eu não sei se é — conversar sobre isso não é um crime. Executar isso seria”, disse.
Já Daniel Silveira foi acordado pela PF em sua casa de Petrópolis, Região Serrana do estado do Rio. Ele voltou a ser preso por ordem de Alexandre de Moraes, mas a decisão não tem relação com as denúncias de Val. A justificativa foi o descumprimento sistemático de ordens do Supremo, danificando a tornozeleira eletrônica que deveria usar, abrindo novas contas em redes sociais e reiterando os ataques às instituições.
Em depoimento ontem à Polícia Federal, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto afirmou ter usado de uma metáfora quando, em entrevista ao Globo, disse haver propostas golpistas “na casa de todo mundo” no governo Bolsonaro. Ele havia dado a declaração para minimizar a minuta encontrada pela PF na casa de Anderson Torres.