Ceará
Por que hoje é feriado? Entenda o que aconteceu no Ceará em 25 de março
O convite é uma volta no tempo. Para o dia 25 de março, mas há 137 anos. É 1884 e o guia são os escritos do historiador Raimundo Girão em “A abolição no Ceará”. Um livro lançado em 1969 que me chegou depois de uma compra à Estante Virtual. Quase um mês após o pedido, a obra passou a engrossar o material de pesquisa para uma reportagem, em andamento, que cata personagens desaparecidos e silenciados nos redemoinhos da história. Negros, negras e figuras pouco narradas (ou nem isso) em publicações e nos registros jornalísticos.
É pelas páginas de um dos escritores que mais registraram a história do Ceará que desembarcamos naquela Fortaleza de 1884, marco pioneiro da abolição da escravização no País, segundo a memória oficial. Quatro anos antes da princesa Isabel assinar a Lei Áurea.
O recorte é o dia da culminância festiva do 25 de março de 1884. De acordo com Raimundo Girão os acontecimentos daquele dia, urdidos para comemorar o fim do cativeiro na província cearense, dão conta de uma cidade tomada por uma euforia sacra e carnavalesca ao redor do que ficou conhecido como o Ceará Livre.
Uma memória produzida, principalmente por abolicionistas do Ceará, do Rio de Janeiro, por intelectuais do Instituto do Ceará – fundado em 4 de março de 1887, pela imprensa e pelo que se fiou de oralidade (e eventos) na roca do tempo.
Foi uma festa de múltiplos acontecimentos — da Igreja do Rosário às ruas de Fortaleza e à praia dos jangadeiros. Mais para celebrar o feito idealista dos abolicionistas, envolvidos também numa camada político-econômica da questão, do que para aprofundar a inclusão de fato da população negra da província no contexto da “pós-abolição pioneira” do País.
“Afora as memórias em que é erigido o edifício da façanha abolicionista, o pós-abolição na terra da luz é formatado pelo silêncio sobre o liberto e o negro do Ceará ou a depreciação de sua atuação de forma mais ampla”, afirma Paulo Henrique de Souza Martins, mestre pelo Programa de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense.
Paulo Henrique, professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), pesquisou a “Escravidão, abolição e pós-abolição no Ceará: sobre a histórias, memórias e narrativas dos últimos escravos e seus descendentes no Sertão cearense”. Foi “uma elegia aos abolicionistas libertadores”, aos “intrépidos pioneiros” afirma o historiador em sua dissertação.
Para Saulo Moreno, mestre em Museologia e Patrimônio pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins, é “preciso recordar que a grande parte das agremiações abolicionistas, como a Sociedade Cearense Libertadora, era formada por homens brancos e com algum capital simbólico e poder aquisitivo”.
O museólogo e educador do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC) observa que “grande parte das narrativas que chegaram até nós foram produzidas pelas penas de tais agentes que publicavam textos no jornal Libertador, que enviavam notícias e textos para jornais de fora do Ceará e, também, produziram relatos e memórias postumamente. E em tais relatos é perceptível a prevalência de discurso exaltador deles próprios e o esforço de uma elaboração de uma imagem positiva do Ceará como terra da Luz”, afirma.
O dia 25 de março de 1884, registra Raimundo Girão, comemorou um feito dos “doze apóstolos da santa causa”. Expressão usada por Antônio Martins, um dos 12 abolicionistas da primeira formação da Sociedade Libertadora Cearense. Uma agremiação, composta por intelectuais, comerciantes e outros atores e que tiveram o mérito de puxar a ideia de fechar o porto de Fortaleza para acabar de vez com a venda e o tráfico de gente negra – mulheres, crianças e homens.
A ideia só tomou corpo, lembra o sociólogo José Hilário Ferreira Sobrinho, porque o negro liberto José Luís Napoleão e sua companheira Tia Simoa convenceram “a praia” a entrar em greve e combalir ainda mais o comércio interprovincial de pretos e pretas.
Respeitados entre os navegantes, Napoleão e Simoa protagonizaram a primeira Greve de Jangadeiros – 27, 29 e 30 de janeiro de 1881 – e deram visibilidade e desdobramentos a um dos atos mais ousados contra a escravização no Brasil. A segunda paralisação foi encabeçada por Francisco José do Nascimento – o Dragão do Mar.
Hilário Ferreira, mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará, pontua que os escravizados também foram protagonistas desse enredo cheio de nuances, resistências e lutas cotidianas daquele período. Porém, deslembrados na festa cívica comemorada há 137 anos entre silêncios e labirintos da história.
ALGUNS FATOS
- No dia 25 de março, segundo o jornal o Libertador, a Sociedade Libertadora Cearense promove a Festa da Liberdade com a alforria comprada de 35 cativos
- Às 5h30min da tarde, segundo o jornalista José Teles de Marrocos, 2 mil pessoas “se achavam apinhadas” na Igreja do Rosário e adro da praça
- Há foguetório, alvoroço, sinos, trovejada de canhão e música da banda da Polícia Militar. O reverendo João Augusto da Frota consagra a liberdade dos 35
- Do Rosário, a multidão e os 35 agora escravizados seguem em desfile para o Passeio Público. Moças jogam flores
- O abolicionista Antônio Bezerra discursa e diz aos 35 libertos que não há mais “senhores nem escravos”.
Multidão
Entre os 35 libertados no dia 25/3/1884 estava Ponciano Francisco de Paulo. A Festa da Liberdade, em Fortaleza, foi de 5h30min da tarde até 21h30min. Cinco mil pessoas teriam participado.
Fonte: O Povo
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