Regional
Maiores açudes do Ceará têm perdas de água por conta da seca
Mesmo com a queda nos níveis de reservas, a piscicultura se manteve no Castanhão e é aposta para a açudagem
Mesmo com a queda nos níveis de reservas, a piscicultura se manteve no Castanhão e é aposta para a açudagem
Os dois maiores açudes do Estado, o Castanhão, na Bacia do Médio Jaguaribe, e o Orós, no Alto Jaguaribe, vêm perdendo água a cada mês, reduzindo o volume devido à perda por evaporação, liberação de água para irrigação e para o consumo humano e animal. A situação mais crítica é a do Castanhão, que acumula 22,6% de sua capacidade que é de 6,7 bilhões de metros cúbicos. O Orós está com 46% de seu volume total.
A perspectiva de chuvas abaixo da média, ocasionando a impossibilidade de recarga nos reservatórios, preocupa o governo e os produtores rurais. O Açude Castanhão tem papel importante na irrigação do Perímetro Jaguaribe-Apodi, onde há extensas áreas de cultivos de frutas e capineiras, do vale do Baixo Jaguaribe, na criação de tilápias em tanques-redes e no abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Nesse contexto, o Açude Orós é uma reserva estratégica. Em 1993, ainda quando não havia o Castanhão, foi o Orós que abasteceu Fortaleza, salvando os moradores da Capital de um colapso no abastecimento de água. Resultado: o Orós chegou ao seu volume morto. Esse fato ainda hoje traz preocupação e povoa o imaginário das famílias da bacia da barragem como um fantasma que ameaça voltar depois de sucessivos anos de estiagem no sertão cearense. Cada um desses reservatórios perde, em média, 0,2% do volume por semana.
Prejudicados
Os produtores lembram os prejuízos que sofreram, sem serem indenizados. “O governo fez, às pressas, o Canal do Trabalhador e retirou toda a água para salvar Fortaleza”, disse o agricultor Pedro Lopes, da localidade de Serrote, zona rural de Iguatu. “Deixou a gente sem água”. Famílias de Iguatu, Quixelô, Orós e Jaguaribe foram drasticamente afetadas. “O nosso temor é que tudo isso vá se repetir”.
No entorno dos dois reservatórios, os produtores rurais já se ressentem do afastamento da água, cada vez mais distante das casas, das áreas de produção e da criação de animais. “Se não houver recarga de água neste inverno, no próximo ano a produção de arroz irrigado vai cair muito porque as águas estão muito longe”, disse o agricultor Marconi Souza, que é rizicultor na bacia do Açude Orós. Outra preocupação é com a qualidade da água, cada vez mais escura e poluída. O reservatório recebe esgoto de várias cidades, dentre elas Iguatu, o maior centro urbano da região Centro-Sul.
Para o ex-secretário de Recursos Hídricos e ex-deputado federal, Hypérides Macedo, o maior responsável pelo esvaziamento dos reservatórios na seca é a irrigação, que nas crises climáticas se amplia. “Não havendo uma política de subsídio para aumentar a eficiência da irrigação mudando a metodologia de aplicação d’água no terreno e, ao mesmo tempo, limitando os cultivos temporários, por meio de taxa de compensação definida entre os setores essenciais da indústria e a agricultura irrigada, a gestão dos reservatórios ficará subordinada a pressões de produtores e políticos”, afirma. Para o técnico, além de um freio na agricultura irrigada, são necessárias obras complementares para a política de açudagem.
“As ações que melhor complementam os açudes, pois aumentam a eficiência do uso da água, são os canais e as adutoras. Poços e cisternas são também alternativas voltadas para a saúde pública, pois a água não é contaminada”, ressalta.
Peixamento
Uma atividade que se beneficia com a açudagem é a piscicultura. Apesar da incidência de seca, que já perdura por quatro anos no Semiárido brasileiro, o açude Castanhão – maior reservatório construído pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) para usos múltiplos – apresentou uma produção de peixe relevante em 2014. No período, foram produzidos e pescados 12.901.400 quilos, que renderam aos produtores e pescadores o valor de R$ 79.833.800,00.
Para o diretor-geral do Dnocs, Walter Gomes de Sousa, é mito dizer que somente o peixamento paga o valor de construção do açude. Mas não é mito que, mesmo em período de seca, houve uma atividade produtiva pesqueira de alta relevância, não obstante a diminuição dos níveis de água do maior reservatório do Estado e um dos maiores do mundo.
“Não se quer dizer que o peixamento vai pagar o investimento feito em açudagem porque só o Castanhão gerou R$ 80 milhões com a produção de peixe. Se considerarmos todos os açudes onde há criação de peixe, esse valor praticamente duplica. O peixamento é viável”, afirma o diretor geral do Dnocs.
No Açude Castanhão, a criação intensiva de tilápias em gaiolas cresceu sobremaneira nos últimos anos, tornando-se o maior produtor do Ceará. São cerca de 850 lotes de criação, em três parques aquícolas, que beneficiam os municípios de Jaguaribara, Jaguaretama, Alto Santo e Jaguaribe. A produção, em 2014, segundo o Dnocs, foi superior a 12 mil toneladas.
De acordo com a secretária executiva de Pesca e Aquicultura de Jaguaribara, Eva Parente, a perda de água ainda não afetou os piscicultores. “Muitos vieram para cá porque outros açudes já secaram”, disse. “A produção até aumentou”. A maioria dos criadores de tilápia ainda permanece confiante de que a atividade não será afetada pela seca, mas outros estão temerosos. “Por enquanto, não há o que fazer, é esperar”, disse o produtor, Francisco Alves. A crise atual impõe controle no número de gaiolas e no uso da água para a irrigação, mas, por enquanto, essas medidas têm sido retardadas à espera de boas chuvas para recarga dos reservatórios.
No geral, o Dnocs aposta, ainda, numa boa quadra chuvosa. Para Walter Gomes, “seca é falta d’água numa região que acontece com certa frequência. Fazia tempo que não havia quatro anos de seca. Está começando a chover no Ceará. Se acontecer, haverá melhor gestão de recursos. Deixamos de construir cisternas e nos concentramos na construção de mais açudes”, afirmou o diretor-geral do Dnocs.
Fonte: Diario do Nordeste
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