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Entre Olhares: Tragédia anunciada

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Cidadãos e cidadãs comuns ficaram perplexos diante do anúncio pela imprensa nacional das carnificinas ocorridas dentro de presídios brasileiros. Dezenas de pessoas mortas e mutiladas das formas mais cruéis de que a espécie humana é capaz de imaginar. Não bastasse as famílias dessas pessoas já estarem corroídas pela perda da liberdade e as condições de condenado de seus membros agora pranteiam sua perda definitiva e trágica.

Holofotes, luz câmeras e ação! Mais do que de imediato entram em cenas atores e atrizes de todos os tipos e de todas as formas, contracenando com as vítimas dessa barbárie. Ninguém sabia de nada, ninguém viu nada, ninguém poderia imaginar nada disso, estamos todos chocados e estamos acelerando todas as providências para sanar a situação. Reuniões de emergência são articuladas, tropas são arregimentadas, relatórios são apresentados, recursos emergenciais são liberados.

Para não perder o costume do que é encenado em todas as outras tragédias que já ocorreram em nosso país, autoridades do mais alto escalão se desdobram em elucubrações e prosopopeias para explicar e justificar o inexplicável e o injustificável. Num passe de mágica, começam a dança das cadeiras e o jogo do empurra empurra. Foi fulano que não avisou; não, foi ciclano que retardou o encaminhamento do projeto; não, foi beltrano que engavetou os formulários, atrasando a documentação.

No fim das contas, a mídia cansa de anunciar, pois precisa de outro fato sensacionalista para garantir o IBOPE da audiência, e tudo cai no puro e simples esquecimento. Mais um fato social, histórico, político e traumatizante é jogado para debaixo do tapete e tudo deverá continuar como antes. As famílias que perderam seus entes queridos só restam o consolo da religião para se confortar e superar a dor. Os presídios continuarão superlotados. Os detentos continuarão a determinar sentenças de morte aos seus companheiros de cela. O Poder Judiciário continuará inepto.

Depois de muito disse me disse, muita encenação e muito sensacionalismo, vêm à tona relatórios, documentos, pesquisas, alertas e toda sorte de comunicação, inclusive de órgãos, entidades e autoridades nacionais e internacionais chamando à atenção do Estado brasileiro acerca da situação desumana, irracional e insustentável das cadeias, casas de detenção e presídios do nosso país, citando nominalmente, inclusive, os locais onde foram perpetradas as barbáries.

Esse é só mais um exemplo de como a suposta Democracia Representativa do Estado de Bem Estar Social do Brasil está totalmente falida. O Estado Brasileiro é insuficiente, ineficiente e incapaz. Não conseguimos mais citar um e único setor público brasileiro que esteja atendendo às necessidades das pessoas que dele precisam. A corrupção simplesmente aniquilou a capacidade de sobrevivência do Estado.

Os bilhões de dólares desviados dos cofres públicos fazem falta ao bom funcionamento da saúde, dos transportes públicos, da educação básica de qualidade, a segurança já não existe mais. O sistema prisional do nosso país é um dos piores do mundo. Nosso Poder Judiciário é uma piada de muito mau gosto. Certamente, os abutres do patrimônio público nacional já devem estar com os olhos brilhantes e a boca cheia d’água, pois eis que surge mais uma grandiosa oportunidade de desviar dinheiro público a título emergencial e com obras superfaturadas.

*Por Lucio José de Oliveira Oliveira

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