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Entre Olhares: Marcas de amor

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Semana que passou me referi à questão da violência simbólica perpetrada contra as mulheres, impondo-lhes padrões de comportamentais e estéticos a fim que possam se sentir inclusas na vida societária e aceitas em especial por seus “escolhidos”. Na esteira dessa violência considero oportuno incluir ainda o que estou a chamar neste momento de “marcas de amor”, ou seja, as tatuagens.

Osório (2007) fez um estudo a respeito do tema e descobriu a existência de inúmeros estilos de tatuagens: tribais, orientais, old school, new school, realistas, homenagem escrita ou imagética, de amor, religiosas, nacionalistas, ideológicas e vingativas. Estas últimas (de amor) são impressas no corpo para referendar sentimentos de afetividade entre pais e filhos, a animais de estimação, namorados (as), cônjuges, parceiros (as), nalguns casos servindo inclusive como atestado de propriedade.

Está constatado que 70% da clientela dos estúdios de tatuagem é feminina que tem por intuito marcar o seu corpo com insígnias que remontam a lembrança do outro. Nas Décadas de 1950/60, nos EUA, o público tatuador era restrito às prostitutas, criminosos e marinheiros para quem a tatuagem era um voto de amor que deveria ser gravado nalguma parte escondida do corpo como seios, coxas, nádegas e quadris. Na gangue de motoqueiros HELL’s ANGELS as mulheres eram tatuadas com a expressão “propriedade de….”, seguida do nome do companheiro.

A excentricidade do público tatuador, muito provavelmente por se tratar de pessoas marginalizadas do convívio social, gerou um estigma a esta prática artística de estética corporal, que ainda nos dias de hoje muita rejeição é expressada contra aqueles que fazem o seu uso. Não obstante, dado o fato de que esta expressão está relacionada ao afetivo, também sempre fica muito próxima das regiões erotizadas do corpo.

No que tange à localização da tatuagem no corpo Do Rio (1977) descreveu a prática das prostitutas cariocas em tatuar o nome do seu “ex” no calcanhar com o objetivo de expressar todo o seu ódio e realizar a sua vingança, pisoteando/enlameando subjetiva e simbolicamente o então parceiro. Mesmo como vingança, percebe-se a questão de que nos relacionamentos amorosos, os corpos se imbricam e mutuamente se pertencem e, na hora da raiva, neles também se expressam.

A tatuagem também é vista como expressão artística e, desta forma, seus executores podem ser alvos de regras de inclusão/exclusão sociais, classificados como profissionais ou amadores. É o tatuador quem determina todos os procedimentos, as melhores regiões do corpo de acordo com o desenho a ser feito, o tamanho, as cores a serem usadas em função da pele. É interessante observar que esses profissionais parecem contrários às “marcas de amor”, pois raramente se encontra um assim tatuado.

Particularmente tenho um posicionamento reacionário às tatuagens. Provavelmente meu subconsciente foi contagiado com a percepção histórica de que a tatuagem está relacionada à marginalidade social. Peço minhas desculpas a todos e a todas que admiram este tipo de expressão artística. No entanto, até hoje, ainda não consegui superar este trauma. Acredito noutras formas e maneiras de expressar nossas crenças afetivas sejam elas positivas ou não.

Para concluir, sugiro aos adoradores da prática de tatuagem que ao tomarem a decisão de tatuar os seus corpos, procurem aconselhamento médico com um dermatologista, aconselhamento psicológico e procurem se certificar da idoneidade do estúdio e do tatuador escolhidos, bem como, do tipo de tatuagem a ser feito, pois o arrependimento posterior vai custar muito mais caro para se fazer o seu reparo.

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