Ceará

Dois anos após assassinato, Dandara é lembrada em ato na Beira Mar

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Dois anos se completaram ontem, 15, desde que Dandara dos Santos foi assassinada no Bom Jardim, em Fortaleza. Em memória ao nome da travesti, reconhecido nacional e internacionalmente depois que a morte violenta desencadeou discussões e políticas públicas sobre violência contra pessoas LGBT, um grupo de aproximadamente 20 pessoas, entre mulheres trans e representantes das religiões católica, evangélica e umbandista, se reuniu em torno de uma cruz ao lado do espigão da avenida Rui Barbosa, na Beira Mar. O intuito era gritar contra a transfobia.

“O Deus, que me fez, não faz coisas imperfeitas”, acredita a cabeleireira Amanda Queiroz, 23, mulher trans. “Quando escutei sobre Dandara, era usuária de crack, morava na rua, tava à margem da sociedade e perto do perigo, dessa violência toda. Poderia ter sido eu”. Desde então, Amanda se “limpou”, se profissionalizou como cabeleireira e hoje luta junto às suas semelhantes pelo direito à própria vida. “A morte da Dandara trouxe uma coisa boa: as trans estão ‘entrando’. Neste momento, não sei depois. Mas, o que importa, é agora”.

Coordenador de cursos profissionalizantes para travestis e mulheres trans na Casa de Andaluzia, Francisco Javier, 55, fez questão de mobilizar diferentes representatividades religiosas para integrar o momento. “Em toda religião tem dois lados: um homofóbico, transfóbico, e um que pensa que o pecado é ser homofóbico, transfóbico”, comentou.

Legitimando essa afirmação, o padre Ermanno Allegri, da Arquidiocese de Fortaleza, se fez presente à Beira Mar, ontem, para ouvir o que as mulheres trans tinham a dizer. LGBTs, segundo o padre, compõem “um setor da sociedade que está sendo massacrado”.

Provocou: “Como a gente fica fora da vida dessas pessoas? Se a Igreja fica longe desses setores, fica longe de todos. É uma omissão séria”. Além disso, ele criticou discursos que, dentro da Igreja Católica, amaldiçoam o diferente. “Essa atitude da Igreja, não só de afastar, mas de condenar, é o que abre espaço para os mais fanáticos se sentirem autorizados a exercer a violência”.

Preocupada com a violência legitimada pela religião e pela propagação de vozes homofóbicas e transfóbicas no eixo político local e nacional, Gioconda Aguiar, 47, mãe de uma mulher trans e integrante do grupo Mães pela Diversidade, aconselhou que ninguém cabe mais em armário. “A gente pode até dar um passo pra trás pra se organizar, mas jamais retroceder. É luta”.

Fonte: O Povo

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