Artigo
Entre Olhares: “Meu cabelo duro é assim…”(Chiclete com Banana)
Artigos de consumo, produtos de beleza, vestuário e até mesmo formas de conduta que passam a caracterizar o cotidiano da classe dominante acabam por ser imitados por aqueles que fazem parte das classes sociais subalternas para distingui-los, dando origem assim à chamada moda. Seu mote é a elegância e o bom gosto. Contudo, no momento em que cai no domínio público, seus precursores a abandonam. A moda distingue, individualiza e insere numa coletividade (SABINO, 2007).
O cabelo assume o papel de etiqueta, marca registrada, que individualiza, mas ao mesmo tempo insere o seu portador numa coletividade distinta, é quase uma exclusividade. O significado da cor, da forma, do corte vai estar diretamente relacionado aos costumes, às práticas e representações sociais e à classe social na qual o seu dono é integrante. Leach (1983) considerava o cabelo um símbolo universal, estando o penteado relacionado a determinados comportamentos e status sexual.
Símbolo de poder, identidade individual e social, extremamente pessoal, público e hierarquizador. A um só tempo e simultaneamente o cabelo no que tange ao seu corte, formato, cumprimento e cor, pode estar representando gênero, ocupação, idade, fé, etnia, status social e econômico, orientação política e sexual, disposições e preferencias pessoais, que necessariamente irão remeter à classe social daquela pessoa, o seu sexo e sua concepção de mundo.
Synnott (1993) regionalizou o cabelo de acordo com a sua localização no corpo: assim temos o cabelo da cabeça, da face (sobrancelha, bigode, costeleta, buço, cavanhaque, cílios) e o cabelo de outras regiões distintas do corpo: peito, ventre, coxa, canela, braço, axilas, costas. Essas regiões também estarão relacionadas às questões ideológicas e de gênero de cada um. Por se tratar de um instrumento de comunicação, o cabelo pode sofrer inúmeras modificações (comprimento, enrolado, liso, colorido ou não, quantidade – naturais ou artificiais).
Na cultura popular americana e inglesa a expressão capilar está relacionada ao gênero. As mulheres buscam manter seus corpos totalmente lisos, sem pêlos; os homens fazem ao contrário, pois isso representa sua virilidade e sensualidade. No caso brasileiro, ocorre uma inversão. Entre os fisiculturistas, os homens procuram depilar os seus corpos; já as mulheres preferem o cultivo de pêlos alourados ou descoloridos do joelho para cima, no ventre e na região do cóccix. Para elas, seus pêlos estão relacionados à sua beleza, à sensualidade e à feminilidade.
No imaginário masculino brasileiro nada mais belo do que mulheres com longos e cheirosos cabelos, de preferência louros. Chama à atenção esta contradição, pois são justamente as negras e as “mulatas” as mais valorizadas no mercado do sexo tipo exportação. Esta “louritude” é advinda do desenvolvimento comercial do Brasil Colônia, que tudo trazia e copiava da sociedade francesa, à época, com suas bonecas de olhos azuis e louros cabelos, que passaram a povoar o ideário das meninas brasileiras de classe social abastada.
No processo de branqueamento da sociedade brasileira cabelos duros “de pichauim” foram renegados. Além da necessidade de pintá-los de louro havia também a obrigatoriedade de esticá-los à força, tornando-os lisos. Este escárnio inicialmente era realizado através do uso de produtos químicos contidos nos famosos “enês” que mutilaram inúmeros couros cabeludos, causavam quedas bruscas de cabelo além de outros impropérios de saúde.
Com o avanço e o recrudescimento dos movimentos sociais relacionados à autoafirmação, contra os preconceitos e fobias de gênero, classe social e etnia podemos afirmar que hoje vivenciamos uma nova realidade mais favorável ao “cabelo ruim”. A própria indústria de beleza acabou por se conscientizar de que a insistência no branqueamento estava causando-lhe prejuízos, por conta da perda de uma considerável fatia do mercado consumidor representado por pessoas de diferentes etnias, mas possuidoras dos mesmos cabelos.
Mais uma vez, em nome do capital e do capitalismo, VIVA À DIVERSIDADE !!!!!!
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