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‘Talvez, se morrermos, poderemos brincar’: os comoventes desenhos de crianças afetadas pela guerra na Síria

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“Talvez, se morrermos, poderemos brincar”. Este é um sentimento ecoado por várias crianças que sofrem com a guerra na Síria, diz o médico Mohammad Khalid Hamza.

As crianças, assim como a população civil, foram empurradas para um sangrento teatro de guerra há sete anos (2011), no conflito entre governo e rebeldes que já deixou mais de 350 mil mortos, provocou a fuga de 5 milhões de pessoas para outros países, devastou cidades e envolveu outros países.

Hamza lidera um time de médicos e psicólogos da Sociedade Médica Sírio-Americana (Sams) que trabalha com crianças afetadas pelos sete anos de conflito. Ele e outras organizações humanitárias têm coletado desenhos feitos pelos pequenos pacientes.

As obras, feitas por crianças de até 14 anos, revelam como elas enxergam a guerra. Os nomes de alguns dos autores foram omitidos por razões de segurança.

As legendas neste desenho dizem: “Força aérea de Assad (presidente da Síria)”, “ambulância”, “as crianças de Khan Sheikhoun” e “sangue das crianças”. Segundo a ONU, a cidade de Khan Sheikhoun foi palco, em abril de 2017, de um ataque químico promovido por forças do governo e que deixou dezenas de mortos, entre eles, várias crianças; o governo nega ter realizado o ataque.

As palavras escritas em vermelho dentro das lágrimas dizem: “Bela Síria”.

Este desenho mostra um aparente ataque aéreo com mísseis atingindo um edifício. O texto acima do soldade que dispara uma metralhadora diz: “Este é nosso exército de resistência. Nação, honra e lealdade”.

Este desenho mostra um adulto de pé ao lado de um cadáver. “Isto é a Síria”, diz a frase escrita acima do desenho. O médico Hamza, neuropsicólogo da Sociedade Médica Sírio-Americana, diz que as crianças que conheceu se mostraram desprovidas de qualquer esperança no futuro.

Mais da metade da população da Síria foi desalojada por causa da guerra. Mais de 5,6 milhões sírios deixaram o país. Apesar dos riscos em cruzar o mar Mediterrâneo em embarcações inadequadas e controladas por coiotes – muitos barcos viraram ou naufragaram, deixando centenas de mortos – milhares de refugiados têm buscado asilo na Europa. Desenho feito por uma criança mostra uma embarcação no mar com um grupo de pessoas à bordo e outras na água.

“Minha pátria”, diz a legenda acima do desenho. Mais de 118 mil sírios foram presos ou desapareceram desde 2011. A grande maioria foi detida por forças governamentais, de acordo com a Rede Síria pelos Direitos Humanos, um grupo de monitoramento internacional.

A legenda na parte superior do desenho diz: “Irmãos: Safa, Zahra, Fatima, Osama, Joud”. A legenda na parte inferior do desenho diz (da esquerda para a direita): “Meu pai em 2010”, “Meu pai em 2011”, “Meu pai em 2014”.

Myassar, de 14 anos: “Eu desenhei a mim e à minha irmã chorando quando meu pai nos deixou, há dois anos. Não sabemos nada dele. Esta é minha lembrança mais triste”.

Este desenho de uma criança síria parece mostrar a torre do relógio, na praça central de Homs, como era antes e depois da guerra. A terceira maior cidade da Síria já foi considerada a “capital da revolução” contra o president Bashar al-Assad. Ela foi devastada no enfrentamento entre governo e forças rebeldes.

Desenho cita poema famoso no mundo árabe que se tornou grito de guerra durante os protestos da Primavera Árabe.

O desenho acima cita um poema do famoso poeta tunisiano Abu al-Qasim al-Shabbi, chamado A vontade de viver. É um verso amplamente ensinado nas escolas do mundo árabe e que se tornou um dos “gritos de Guerra” dos protestos da Primavera Árabe, movimento popular que reivindicava a transição dos regimes autoritários para a democracia.

O primeiro verso diz:

“Se um dia o povo deseja viver, então o destino vai responder ao seu clamor. A noite vai desvanecer e as correntes vão se quebrar e cair”.

Fonte: BBC

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