Músicos e amigos lamentam a morte de Dominguinhos

Durante sua trajetória, Dominguinhos deixou um legado de seguidores de sua obra. Não é incomum encontrar pessoas ligadas à área que tenham o sanfoneiro como principal referência de formação musical.

Além de “alunos”, muitos destes profissionais também foram se tornando amigos do mestre. São vários os relatos da acessibilidade de Dominguinhos para contribuir em trabalhos com músicos da nova geração. Mas essa relação, devido à simplicidade do sanfoneiro, costumava transcender a atuação profissional para se transformar em grandes amizades. 

O músico e amigo Adelson Viana se refere a Dominguinhos como uma pessoa iluminada e um ser humano generoso. O “artista genial que vai deixar saudades” é para Adelson um ídolo na música. Música essa que não é só forró, também é MPB, e vários outros gêneros, completo, com muita perfeição. O amigo era responsável pela produção do CD que o sanfoneiro estava finalizando antes de adoecer, ao todo havia 20 músicas prontas, entre regravações, homenagens e músicas ineditas. “(Ele) queria gravar mais três músicas, além das 20. Ainda vai ser incluida uma musica do guitarrista Sandro Haick, uma homenagem à Dominguinhos”, informa Viana.

Elaine Brito, empresária que gere a casa de show Kukuaia, conheceu Dominguinhos pessoalmente no início da década de 1990. Na época, ela viu uma entrevista em que o músico se queixava de tocar poucas vezes no Ceará. Para sanar a queixa, ela fez contato profissional, que aos poucos foi se transformando em amizade. “De lá para cá vivemos momentos maravilhosos, de diálogos fortes, de muito conhecimento. Ele é de uma humildade ímpar porque mesmo com todo o potencial que ele tem, sempre o observava como um cordeiro manso. Ele é essa pessoa pronta para atender, dá espaços para novos músicos”, afirma. O último show do sanfoneiro em Fortaleza foi em dezembro de 2012.

Luizinho Calixto é mais um dos músicos que têm Dominguinhos como referência e lembra os bons momentos e a simplicidade do sanfoneiro. “Há uns oito anos, nos hospedamos na casa de um amigo, em Recife. Eu acordava cedo, tocava fole baixinho e ele acordava, pegava a cadeira e sentava diante de mim por quase uma hora para me ouvir tocar. Para mim, era uma alegria muito grande”, afirma. O que mais fica na memória de Luizinho é a tranquilidade e afeto de Dominguinhos. “Era um cara de personalidade tranquila, acessível. Cada vez que ele se encontrava comigo, perguntava pela minha família toda. E assim ele era não só comigo, mas com todos os colegas de profissão”, recorda.

Influenciado pelo pai, ainda menino, Waldonys conheceu Dominguinhos em um show em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Pouco tempo depois, em Fortaleza, teve oportunidade de tocar para o sanfoneiro. “Começou a nascer daí uma amizade que eu nunca imaginei que ia ficar tão forte. Era um relacionamento de muita confidência, de pai para filho. Foi ele que me apresentou o Seu Luiz Gonzaga”, louva. Foram muitos discos gravados juntos, havendo inclusive canções ainda inéditas, segundo Waldonys. Entre 1990 e 1992, os músicos participaram do Projeto Asa Branca, viajando pelo País para difundir a música tradicional nordestina. Há pouco tempo, enquanto ouvia uma música na rádio, Waldonys lembra a criticidade do mestre em relação à “música de mercado”. Dominguinhos teria dito: “Tantos músicos trabalham, se esforçam tanto, e olha quem está ganhando espaço”, ironizou.

Fonte: O Povo