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Meio Ambiente em Iguatu: Destruição e descaso na terra da água boa. Por Jan Messias

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A questão ambiental não é das que rende mais votos. Em cidade do interior ela é ainda menos lembrada, ficando mais para discursos de alunos e professores do que de políticos.
Se em campanhas esse assunto é pouco lembrado, fora delas é quase que totalmente esquecido. Em nossa cidade a pouca atenção ao meio ambiente é praticamente cultural, vindo de muito tempo e sendo continuada.
Os problemas e riscos ambientais são muitos para uma cidade construída sobre uma planície ainda em formação. A água boa, referência da cidade, é o ponto central da devastação.

Ruas com problemas de drenagem que afetam a vida dos moradores.

Diante desse cenário, o poder público segue praticamente inerte, deixando o tema da preservação em segundo plano e fora dos seus projetos maiores, com uma secretaria de meio ambiente que mais cumpre as burocracias do que promove a preservação ambiental.
O tão falado projeto “Iguatu Cidade do Futuro”, na questão ambiental, se preocupou mais com paisagismo do que com preservação verdadeira e até agora o que temos disso são obras inacabadas em áreas que deveriam estar sendo preservadas.
Com isso a cidade vivencia a poluição dos cursos de água urbanos pelo esgoto e dos cursos de água rurais pelos defensivos agrícolas, além de outros problemas.
Infelizmente, em se tratado do meio ambiente, o poder público de Iguatu só parece se importar na hora de assinar as autorizações e cumprir as burocracias para que a destruição aconteça disfarçada de progresso.
Lagoas de Iguatu: um patrimônio esquecido e pouco a pouco aterrado

As lagoas são uma prova da resistência do meio ambiente, com seu ecossistema frágil resistindo aos avanços desordenados da cidade. Foto jan Messias

A civilização Asteca foi uma civilização pré-colombiana que entre seus grandes feitos, construiu uma cidade dentro de um lago.
Tenochtitlán, considerada capital do Império Asteca, ficava no local onde hoje é a Cidade do México e foi erguida a partir de uma ilha principal e com ilhas artificiais próximas. A harmonia com o ecossistema ao próximo encontrado pelo povo Asteca nem de perto lembra o que vivenciamos em Iguatu.

Foto aérea antiga de Iguatu mostra o a extensão de lagoas centrais da cidade, hoje completamente soterradas.

Nossa cidade nasceu em uma região cercada por água, com muitas lagoas e braços de rio espalhados pela planície do Jaguaribe. Com o crescimento urbano as lagoas e braços de rio menores foram sendo soterrados ou drenados.
O crescimento urbano acentuado vivenciado na última década fez aflorar também acelerar a destruição dos ecossistemas lacustres em nossa cidade, com a autorização de loteamentos e construções em áreas vulneráveis, próximas a lagoas que, quando em época chuvosa, faziam parte da lagoa original.
A partir das permissões iniciais para construção, pouco a pouco se vai matando as lagoas da cidade, com destaque para a Lagoa da Bastiana e Lagoa do Julião.

O Rio Jaguaribe: uma artéria escondida por muros e agredida por lixo

Foto histórica do rio Jaguabibe em cheia. O tempo passou e as agressões ao rio aumentaram.

Um visitante mais desavisado pode não saber que Iguatu é cortada pelo maior rio do estado. O Rio Jaguaribe, o Rio da Onça, além das agressões ambientais que sofre em seu curso, em Iguatu, é escondido por muros e agredido pelo lixo.
Galerias de águas pluviais contaminadas com ligações de esgoto clandestinas, carradas de lixo jogadas diretamente no leito do rio e uso abusivo de agrotóxicos são os principais pontos que ameaçam Rio da Onça.
Os muros que impedem o acesso ao rio, criados décadas atrás com a absurda justificativa de diminuir a criminalidade, tornam o rio ainda mais esquecido e abandonado.
O poder público não se importa e o que restou ao rio foi a insistente. perseverante e corajosa campanha promovida pelo projeto Cidadania é Ação, conduzido por Cícero Correia Lima, o Neto Braga, que movimenta vários setores da sociedade em defesa do Jaguaribe em Iguatu.

Lixão: um persistente cartão posta às avessas

O lixão alcança a cidade com sua fumaça tóxica e contamina o solo com seus resíduos. Foto Jan Messias

Chega a ser cansativo falar do lixão de Iguatu, localizado nas margens da CE-282 e praticamente com o lixo avançando sobre a rodovia. A fumaça produzida pela queima do lixo chega à cidade e embora afete mais diretamente a vida das comunidades mais próximas, mesmo em bairros centrais é sentida.
Mesmo tendo atingido sua capacidade máxima anos atrás, continua sendo utilizado, contaminando solos, águas e ar e ferindo a visão de quem chega à cidade.
A solução para esse problema existe, mas acabou virando caso de polícia. O aterro sanitário da cidade ficou pronto com recursos federais, mas acabou nunca entrando em atividade por suspeitas de irregularidades e desvios de recursos. Além do processo por desvios de recursos, envolvendo o ex-prefeito Agenor Neto e secretários, o Aterro encontra-se fora de atividade por ter sido construído em área de lagoa e assim voltamos ao primeiro tópico do texto.

Cuidado com o meio ambiente: uma necessidade mais que urgente

A urbanização sem o devido planejamento acarreta problemas para a população de Iguatu.

Diante do exposto, podemos ver que o meio ambiente em Iguatu é deixado de lado em termos de preservação, sem iniciativas significativas de educação, cuidado e recuperação dos ecossistemas presentes em nossa cidade. A necessidade de cuidado se torna mais urgente quando avaliamos os impactos desse descaso para o futuro, que são muitos.
As construções em área de lagoa hoje são as áreas alagadas no futuro, trazendo transtornos e prejuízos.
A contaminação dos nossos solos, águas e ar com agrotóxicos e fumaça do lixão já são sentidos e representam mais problemas e gastos na área da saúde em um futuro nem tão distante.

Foto no lixão de Iguatu, com os catadores tendo que lidar diretamente com a fumaça tóxica.

Os problemas são muitos e diversificados, alcançado a cidade e a sociedade como um todo, sendo uns mais prejudicados que outros.
Se o problema é de todos, a solução também deve ser construída e executada pela sociedade como um todo, porém, é do poder público que deve partir a ação principal e a vontade de mudar a realidade perigosa para nosso meio ambiente.
Infelizmente, novamente reafirmo, em se tratado do meio ambiente, o poder público de Iguatu só parece se importar na hora de assinar as autorizações e cumprir as burocracias para que a destruição aconteça disfarçada de progresso.

*Jan Messias é iguatuense, professor e coordenador da Rádio MaisFM Educativa de Iguatu.
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