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ENTRE OLHARES: Sociedade provinciana

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Quando recebi o convite para escrever semanalmente esta coluna, também me solicitaram um nome para batizá-la. Uns cem números de ideias acorreram ao meu pensamento, até que, finalmente, me decidi por ENTRE OLHARES. Acredito eu que determinados posicionamentos por mim adotados neste espaço, muito provavelmente, causa estranheza nas pessoas, levando-as a se entre olharem, sem entender direito, na realidade o que é que eu estou dizendo, querendo dizer ou pretendendo com o que estou a afirmar.

Esse nome também leva a entender que, o que aqui está escrito é apenas um olhar entre tantos outros olhares a respeito da mesma questão. E é neste sentido que nesta oportunidade vou me reportar a um acontecido funesto que por demais ocupou a imprensa e a sociedade brasileira nestes últimos dias. Trata-se do óbito de Marisa Letícia, ex-primeira dama do nosso país. Qualquer ser vivente na face da Terra tem garantido para si o único verdadeiramente inalienável direito de morrer. Isso é fato. Contudo, a morte da senhora referida anteriormente, foi espetaculosa.

Em sociedades presidencialistas tal qual a nossa, nada mais natural que ex primeiras damas venham a morrer. Inúmeras de nossas ex primeiras damas já fizeram isso. Dona Ruth Cardoso, antropóloga, Doutora, pesquisadora, professora universitária, já cumpriu esta etapa natural. Não lembro de nenhum estardalhaço a respeito disso. No episódio recente, vejo que os holofotes não foram por um único segundo direcionados à urna fúnebre da dileta ex primeira dama. Não lembro sequer de terem sido mostrados os restos mortais da celebridade em tela.

Enxergo nas cenas grotescas do episódio em debate mais uma oportunidade de registrar minha perplexidade ao que concerne à forma como a nossa sociedade brasileira está se desmantelando, se esfacelando e regredindo a passos largos para a barbárie. Os profissionais de medicina de nosso país já receberam a pecha de MÁFIA DE BRANCO, em alusão ao rigor com que levavam até então à sério o seu famoso Código de Ética. Entretanto, este código foi rasgado no desenrolar do epíteto da morte de Marisa Letícia.

A imprensa é livre e há de se resguardar o direito de informar e de acesso à informação, seja ela deturpada ou não, ideológica ou não. Membros do Ministério Público, que a rigor estão à serviço da sociedade e pagos por ela para preservar os princípios legais, postando mensagens incitando ao ódio, em desmesurado desrespeito à aflição a que um ser humano estava vivenciando em seu leito de morte. Uma verdadeira competição para se estabelecer qual a melhor e a mais vibrante torcida deste funesto campeonato: a torcida pró ou contra????

Finalmente a morta resolve morrer. Deus seja louvado! De jeito Nenhum, vamos louvar o egocentrismo, o oportunismo, a megalomania!!!!! Mais luzes, mais holofotes, um som da mais alta potência, pois o espetáculo não pode parar. Urge agora capitalizar benefícios, chantagear, assediar moral e psicologicamente e, por fim, endeusar aquele que sequer conhece o percurso do caminho do que é sagrado. Aplausos!!!!!!! Estamos regredindo no tempo e recriando uma sociedade provinciana em que a debilidade mental já está beira à esquizofrenia.

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