Iguatu

Distrito de José Alencar se mobiliza contra extração de minério

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As atividades de uma empresa de mineração iniciadas semana passada na comunidade do distrito de José de Alencar, a cerca de 10km de Iguatu, têm gerado preocupação e manifestação da própria região, motivadas pelo fato de que a intervenção pode causar danos físicos nas imediações e até mesmo risco á saúde da população local.

A intervenção da empresa ocorre na Serra dos Morais, próxima à barragem do ‘Açude do S’ no distrito. Os moradores e Conselho Popular temem que a ação com fins de lucratividade ameace a tranquilidade e o ambiente com explosões, colocando em risco a barragem, construída há décadas, o solo que conta com lençol freático e um poço que serve a região.

O local possui potencial turístico conforme a população local (Foto -Jan Messias/Mais FM)

O distrito já tem histórico de outras empresas que instalaram seus empreendimentos. As companhias exploravam principalmente o magnésio. Existe também o temor por impactos diretos nas moradias, causados pelas atividades das máquinas. Além de relatos de outros locais com altos impactos negativos para a comunidade, a população também tem suas próprias histórias de instalação e impacto de outras três empresas de mineração no local. “Não estamos afirmando que isso tenha relação desses empreendimentos. Mas o Alencar nos últimos anos tem tido um aumento no número de câncer em sua população. O poço da sede teve seu uso da água proibido diante da grande quantidade de metais pesados neles encontrados. É preciso um estudo mais a fundo das consequências desse progresso em nossa região”, alertou Ivano Paulino da Silva.

No caso mais recente a população foi pega de surpresa, quando os trabalhos de prospecção da empresa Milgran Indústria e Comércio de Granitos Ltda se estabeleceram. Conforme relatos, o barulho podia ser ouvido da rodovia que liga a CE-282 à região de Barrocas.

Um dos motivos de preocupação de alencarinos frequentadores da localidade é no impacto direto que essa atividade vai ter sobre a barragem feita no início do século passado, e que pode ser considerada patrimônio do local. “Lá muitos apreenderam a nadar, a pescar, entre outras atividades. Atualmente, os esgotos do distrito acabam em grande quantidade para a barragem”, contou Daniel de Araújo, professor e membro do conselho popular do local.

A serra dos morais fica próximo da barragem do S, e recebe aventureiros que buscam desafiar as trilhas que ela possui (Foto -Jan Messias/Mais FM)

Interrupção

Por meio de nota assinada pelo sócio-proprietário da empresa com sede em Sobral, Manoel Camelo, a Milgran Indústria disse estar respaldada por licença de pesquisa mineral para uma futura extração de granito, e que decidiu paralisar as atividades após acordo com a Secretaria de Meio Ambiente até que sejam esclarecidos os termos do empreendimento, seus objetivos, operações e perspectivas reais.

Também por meio de nota a Secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano – (SEMURB) de Iguatu afirmou que diante da mobilização popular pode confirmar que a licença à empresa foi emitida somente pela SEMACE, e que não foi emitida nenhuma licença por parte da pasta local. Marcos Ageu, titular da pasta, vem se reunindo com a comissão popular que trata o assunto.

Ecoturismo

Além da barragem, as pedras logo depois são o início de uma trilha de pedras que serpenteiam sobre o lombo da serra em um labirinto de rochas. A trilha, além de desafiadora, tem sempre um caminho diferente a se fazer. O local tem até uma vegetação que muita gente duvidaria de ver, como os imensos cajueiros no topo da dessa em plena caatinga.

O local tem algumas pequenas cachoeiras quando está em período chuvoso e formam um belo cenário. Tudo isso fica a menos de 100m do local da intervenção.

Preocupação e mobilização

O que deixa muitos moradores inquietos é possibilidade do impacto possa ter na comunidade. “Foi um acordo entre os entes, mas tememos que a empresa volte a continuar a exploração”, disse Luiz Gustavo, morador da comunidade.

O Conselho Popular também está organizando uma missa campal para o amanhã, domingo, 22, às 5h30 da manhã, nas proximidades da barragem. Na sequência a ideia é realizar uma limpeza no lixo que existe no local.

Na quinta-feira, 19, a questão de José de Alencar foi pauta da sessão dominando os discursos dos parlamentares da Câmara Municipal de Iguatu (CMI), com momento para a população exercer o direito à tribuna. A sessão resultou na formação de uma nova comissão mista de parlamentares e sociedade para analisar a possibilidade futura de embargo da ação da empresa, motivada pelas não condicionantes de licença, placas explicativas e delimitação do local. Para isso a CMI disponibilizou de sua assessoria jurídica.

Para proteger a área o grupo trabalha junto aos parlamentares a possibilidade também de transformar o local afetado numa APP (Área de Preservação Permanente) por meio de projeto de lei. Por ser um ambiente cercado de água necessitaria tão somente de uma georreferenciamento.

Desejo ainda do grupo é de se concretizar a luta ambiental transformando a longo prazo a serra que recebe aventureiros que desfrutam da trilha, numa Área de Proteção Ambiental (APA). O estudo para essa etapa visando a defesa do local demandaria um extenso estudo da área natural destinada à proteção, dos atributos bióticos (fauna e flora), estéticos ou culturais ali existentes.

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