Política

Disputa presidencial será decidida sem haver debate na TV

Published

on

Aliado do candidato confirmou ontem que Bolsonaro não participará de nenhum debate com Fernando Haddad.

Pela primeira vez desde a redemocratização, um candidato à Presidência da República poderá se eleger sem ter ido a qualquer debate no segundo turno da corrida ao Palácio do Planalto.

Na tarde dessa quinta-feira, o presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno, garantiu que Jair Bolsonaro não irá aos dois últimos debates da campanha: na Rede Record, no domingo próximo, e na TV Globo, na sexta-feira da semana que vem.

O dirigente afirmou que o estado de saúde de Bolsonaro é de “absoluto desconforto” e que ele não pode ser submetido a “uma situação de alto estresse, sem nenhum motivo”.

Braço direito de Bolsonaro, Bebianno deu a declaração no mesmo dia em que o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem que aponta suposta compra de pacotes de mensagens disparadas no WhatsApp contra a candidatura do adversário do nome do PSL, o petista Fernando Haddad.

Caso se confirme a ausência de Bolsonaro, dos 13 debates previstos durante toda a campanha até agora, incluindo-se o primeiro turno, o candidato terá participado ao final apenas de dois: na TV Bandeirantes e na RedeTV!, ambos na primeira quinzena de agosto, quando Haddad ainda era vice na chapa capitaneada pelo ex-presidente Lula, preso em Curitiba.

Nunca antes qualquer postulante se elegeu tendo se submetido a tão poucos confrontos com seus adversários diretos na briga. Candidato à reeleição em 2006, Lula faltou a debates, mas no primeiro turno.

Bolsonaro, todavia, inverteu essa lógica. Na briga pela Presidência, o militar priorizou as transmissões online e a comunicação sem intermediários com seus eleitores, utilizando intensivamente as redes sociais.

Impedido de participar do último debate do primeiro turno por recomendação médica, o postulante concedeu entrevista à Rede Record, que a transmitiu no mesmo horário em que a rival Globo realizava o encontro entre os presidenciáveis.

Pesquisador da Universidade Federal do Ceará e membro do Conselho de Leitores do O POVO, Cleyton Monte afirma que esse é o “modus operandi do candidato desde as manifestações pró-impeachment”, em 2016.

“Bolsonaro chegou a participar de dois debates, e é consenso que ele não se saiu tão bem porque não conseguiu articular as suas propostas. Então, para ele, não faz sentido ir”, avalia Monte.

De acordo com o analista, o mau desempenho nas mídias tradicionais foi crucial para a estratégia do ex-capitão. “O debate se destina mais a tirar voto do que a ganhar”, assegura o sociólogo. “E ele teria muito a perder.” Para o estudioso, Bolsonaro “foi até sincero quando disse que vai faltar por questão estratégica”.

Monte também argumenta que, embora uma fração expressiva do eleitorado defenda a participação do deputado federal em programas televisivos (73%, segundo Datafolha de ontem), o militar não deve perder votos por ausentar-se desses eventos.

“O candidato já encontrou outras formas de se comunicar com os seus eleitores, e isso é fundamental. Ele construiu um canal”, acrescenta. “Estas são as eleições das redes sociais, principalmente do Whatsapp. E a campanha do Bolsonaro já tinha exata noção disso desde o começo.”

Deputado federal reeleito e um dos coordenadores da campanha de Haddad no Ceará, José Guimarães (PT) classificou a falta de Bolsonaro nos debates como “um vexame e um absurdo”.

Para o líder petista, o “Brasil não pode se permitir isso” sob risco de caminhar para um beco sem saída. “Bolsonaro é um engodo e uma violência. Tem que exigir a retirada dele. É um embuste. Nunca se viu isso”, criticou o deputado. “Ele não tem compromisso com o povo, com as instituições. É odiento e capacho do mercado.”

Secretário-geral do PSL no Ceará, o advogado Aldairton Carvalho disse que Bolsonaro ainda não falou se deixará de ir também ao debate da Rede Globo, na sexta-feira. “Ele não vai ao da Record, isso está certo. É a avaliação hoje. Mas até essa pode mudar amanhã”, respondeu Carvalho.

BOLETIM

Médicos de Bolsonaro divulgaram ontem um boletim em que destacavam a “melhora da composição corpórea, mas ainda exigindo suporte nutricional e fisioterapia”. O Estadão apurou que a decisão de participar ou não dos debates já estaria nas mãos do próprio candidato.

Fonte: O Povo

EM ALTA

Sair da versão mobile