Dia-a-Dia com Maria
Dia-a-Dia com Maria: preconceito hibernante enterrando vivos
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Recentemente, um caso abalou o Brasil pela forma violenta e humilhante como aconteceu. Suspeito de ter cometido um assalto foi amarrado em poste e espancado até a morte por moradores do Bairro São Cristóvão, em São Luís, no Maranhão.


Foto: Biné Morais / Especial
Recentemente, um caso abalou o Brasil pela forma violenta e humilhante como aconteceu. Suspeito de ter cometido um assalto foi amarrado em poste e espancado até a morte por moradores do Bairro São Cristóvão, em São Luís, no Maranhão.
Trata-se de Cleydenilson Pereira Silva, 29 anos, que teve suas roupas rasgadas e as mãos, pernas e tronco presos a um poste de luz, fora agredido com socos, chutes, pedradas e garrafadas, não resistiu e perdeu a vida ainda no local.
Vamos aos detalhes: o poste, o tronco de açoite; as cordas, um repetiz histórico que ecoa assombrosa e nitidamente páginas da escravidão brasileira, ainda tão presente nos instintos brancos de insensatez e maculados de aversões que transpassam aos limites dos séculos.
Veio-me, por conta da tragédia, a lembrança da obra e da figura consagrada na literatura, Lima Barreto, mestiço, filho de um tipógrafo e de uma professora, que morreu quando ele tinha apenas sete anos e que ainda estudante, começou a publicar seus textos em pequenos jornais e revistas estudantis. Chegou a ser grande e a colaborar para diversas revistas literárias, como “Careta”, “Fon-Fon” e “O Malho”. Também militou na imprensa, durante este período, lutando contra as injustiças sociais e os preconceitos de raça, de que ele próprio era vítima.
O que se questiona é que os casos expressos de violência que envolvem a questão étnica continuam e, embora se possa dizer que no caso do suposto assaltante maranhense amarrado a um poste, trate-se de uma manifestação de repúdio às impunidades (ou quase impunidades) por parte da justiça, não se justifica a exposição pública de se amarrar alguém, coincidentemente, ‘um negro’.
Mas nossos leitores podem buscar pontos de convergência entre os casos ora focados, o dito criminoso e Lima Barreto. Então vejamos: a Cleydenilson não foi concedido o direito à cadeia, ao justo processo legal, ao princípio motriz da lei processual “da ampla defesa e do contraditório”, aos prazos… Condenaram-no à pena de morte.
Quanto ao escritor, candidatou-se em duas ocasiões à Academia Brasileira de Letras, não obteve a vaga, mas chegou a receber uma menção honrosa. Morreu aos 41 anos, deixando uma obra de dezessete volumes, entre contos, crônicas e ensaios, além de crítica literária, memórias e uma vasta correspondência.
Consideremos, pois, a menção honrosa, como possível ‘título de consolação’ para a injustiça a ele direcionada e, também, o considerável volume de sua obra, inclusive, postumamente publicada. Fora-lhe negada, no entanto, uma cadeira na disputada Academia Brasileira de Letras.
Um indício bem claro que corrobora o preconceito que tento enfatizar, infere-se na escrita de Lima que transpira a revolta contra a sociedade, inclusive, seu primeiro livro, “Memórias do Escrivão Isaías Caminha”, contém muitos elementos autobiográficos, e tem como personagem central um jovem negro que procura estabelecer sua carreira, tanto é que o autor foi considerado um “escritor menor”, tendo em vista o “purismo das formas”, sendo que o tal purismo e o racismo misturavam-se em um só lodo na rejeição da crítica a ele direcionada, segundo alguns críticos de sua época.
Era Lima Barreto um autêntico incisivo:
“É mais decente pôr a nossa ignorância no mistério, do que querer mascará-la em explicações que a nossa lógica comum, quotidiana, de dia-a-dia, repele imediatamente, e para as quais as justificações com argumentos de ordem especial não fazem mais do que embrulhá-las, obscurecê-las a mais não poder”.
Masmorras direcionadas ao ser humano por conta de um traço, seja ele qual for, não se justifica, até porque hoje somos cientes das diferenças raciais, culturais existentes, e insertos na civilização em que direitos e individualidades são a tônica do respeito, positivado ou não.
O que há exatamente em comum entre um homem amarrado num poste, após uma posterior e suposta tentativa de assalto e um escritor ao qual não foi dado o espaço merecido pelo seu talento fluente, seria ou poderia ser a cor da pele (?!).
Entenda o leitor que não estou me sobrepondo à opinião das pessoas que se sentem agredidas por elementos que usam da violência para viverem (assaltantes), não é isso, apenas reclamo pela falta de proporcionalidade nos casos que percorrem as páginas noticiosas da nossa pátria em que corruptos de toda variedade enlameiam o país com desvios de dinheiro público, negando aos mais simples, dentre os tais, boa parcela de negros, o direito de desfrutarem de uma vida tão digna quanto à nobre Constituição Cidadã que nos esteia legalmente.
Em frágil acepção do fato, até admito meu potencial entendimento, que estamos, sim, carentes de políticas que possam minimizar significativamente a violência, acreditando que, a partir do momento no qual já reconhecemos essa necessidade, tenhamos do na via de solução, questionando-se nesse texto o “racismo”, possivelmente enrustido nos atos de bestialidade coletiva do negro no tronco moderno (poste).
Encerro minhas considerações reportando-me a outro caso emblemático que envolveu um jovem negro que foi amarrado, nu, a um poste no Rio de Janeiro. Na época, o caso ganhou mais visibilidade porque a apresentadora Rachel Sheherazade, do SBT, afirmou que o espancamento do rapaz “era justificável”.
Fonte acessória:
http://www.esquerdadiario.com.br/Lima-Barreto-negro-escritor-rebelde
*Mariazinha é advogada e escritora
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