Ceará
Centro oncológico tem queda de 72,89% na identificação de câncer durante pandemia no Ceará, aponta levantamento
Um levantamento feito em conjunto pela Sociedades Brasileiras de Cirurgia Oncológica (SBCO) e de Patologia (SBP) mostra redução de 72.89% das biópsias feitas em um único centro oncológico do Ceará durante a pandemia do novo coronavírus. A queda no diagnóstico de câncer gera acúmulo na demanda e pode levar pacientes ao estágio avançado da doença.
Os dados colhidos pela SBCO e SBP compreendem 11 de março a 11 de maio deste ano, com o registro de 4.993 biópsias, em comparação com igual período do ano passado, quando foram realizados 18.419 procedimentos. O nome do centro de referência não foi divulgado no levantamento a pedido da instituição.
Clóvis Klock, presidente da Sociedade de Cirurgia Oncológica, destaca a necessidade de conciliar os atendimentos aos pacientes com a Covid-19 e manter as investigações dos casos de câncer. “Nós estamos numa quarentena e muitos desses serviços de diagnósticos estão fechados para a realização de endoscopia, radiologia intervencionista e o paciente não tem onde fazer essas biópsias”, comenta.
Outro fator observado na diminuição pela procura de atendimento médico está no receio da contaminação pelo SARS-Cov-2, como acrescenta Clóvis Klock. “Muitos pacientes não estão indo consultar em virtude do medo, o que é justificável, porque o covid, dependendo da faixa etária, pode ser grave”.
Cenário regional
No Instituto do Câncer do Ceará (ICC) o volume de atendimento no final do último mês estavam em 80%, como estima Reginaldo Costa, superintendente clínico da unidade hospitalar. “No início do mês de maio houve uma queda no número de pacientes que chegaram até o ICC para iniciar o atendimento de investigação e diagnóstico de câncer, mas a partir da segunda quinzena de maio esse número acabou voltando há um número bem maior”, afirmou
“Muitos pacientes estavam alegando que não estavam conseguindo sair do município de origem e nós temos um número expressivo dessa diminuição dos pacientes do interior em cerca de 75%”, acrescentou.
Reginaldo Costa analisa que o ICC possui infraestrutura adequada para o atendimento de investigação de câncer quando os serviços retomaram o fluxo normal.
“Como existe um perenidade em relação aos casos de câncer a gente não acredita numa lotação, certamente vai ter uma demanda que hoje está reprimida, talvez inicialmente tenha um número maior, mas existe infraestrutura”, destaca.
Foram reforçados os critérios de triagem dos pacientes de modo a evitar a contaminação pelo novo coronavírus nos atendimentos. Já foram notificadas oficialmente 4.217 óbitos pelo novo coronavírus e 67.604 infectados pela doença até esta terça-feira (9), como registra a plataforma IntegraSUS. As taxas de ocupação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e enfermarias estão em 77,5% e 51,39%, respectivamente.
No período, houve redução de 20% na realização de cirurgias oncológicas, como conta o superintendente, mas a expectativa é da volta ao fluxo regular em breve.
“A gente está projetando para o final do mês de junho o retorno para a capacidade normal, em 100%, mas em nenhum momento houve paralisação de cirurgias, a quimioterapia e radioterapia mantiveram atendimento em volume normal”, reforça.
Diagnóstico
Uma mancha branca na boca de Francisca de Assis, 48 anos, gerou dúvida que ela buscou explicações em uma consulta de rotina no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). “Eu procurei atendimento bem quando começou a pandemia, em março, eu tive receio, mas eu tinha que fazer o tratamento e pensei lá (hospital) teriam algumas restrição”, lembra.
Ela ganhou confiança ao ver os cuidados com álcool em gel, uso de máscaras e adoção do distanciamento de segurança entre os pacientes. “Eu nunca tive casos de câncer na minha família, nunca fumei e nem bebi”, reflete dona Francisca de Assis. Ela mantém o tratamento da doença descoberta precocemente no Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio).
“Se esse diagnóstico for retardado, nós podemos estar daqui a alguns meses, não se sabe até quando vamos estar nesse caos, com uma quantidade muito grande de casos câncer em estágios avançados o que talvez teriam de fazer uma cirurgia maior”, pondera Clóvis Klock, presidente da Sociedade de Cirurgia Oncológica.
O especialista conta que cerca de 55 mil diagnóstico de câncer são feito por mês no Brasil e as dificultantes anteriores do período de pandemia reforçam as dúvidas sobre os próximos meses. “Quando a pandemia der uma acalmada e as pessoas puderem procurar o serviço de saúde como que vai ser essa fila? Como que nós vamos selecionar o paciente que vamos biopsiar e operar? A fila de cirurgia já era complicada, imagina na problemática de diminuição de diagnóstico e quase parada das cirurgias”.
“No Brasil todo mundo tem acesso a saúde de graça e ainda bem que nós temos um sistema único de saúde que, com falhas, consegue dá conta dessa pandemia dependendo do estado”.
Entre as alternativas, Clóvis Klock destaca a realização de atendimentos virtuais para facilitar a identificação da doença. “O importante é que a gente tem de ver caso a caso, com a opção da telemedicina, se o paciente tiver uma suspeita de câncer, como o tumor, deve procurar um médico de confiança e ver se há necessidade de fazer biópsia e tratamento”, conclui.
Fonte: G1 CE
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