Ceará

Avanço de dunas alerta para riscos a usuários e impactos ambientais

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A disputa por espaço entre ecossistemas naturais e obras de infraestrutura urbana se repete em Fortaleza e Região Metropolitana, gerando riscos a usuários desses equipamentos e, sobretudo, prejuízos ambientais. Nos casos mais recentes, o movimento natural de dunas sobre estradas, potencializado pela estação dos ventos, é o que vem gerando preocupação.

Na praia do Cumbuco, em Caucaia, o alerta vem de um trecho da CE-571, que foi tomada pela areia na lateral da estrada. Ela se espalha tanto pelo sentido Cumbuco-Lagoa do Cauipe- onde se acumulam mais sedimentos – quanto pelo sentido oposto.

No último sábado (2), os efeitos das dunas sobre o fluxo do trânsito na via culminaram em tragédia. Ao tentar desviar do monte de areia acumulada, o kitesurfista Carlos Madson, 23, perdeu o controle da motocicleta que conduzia, avançou na contramão e colidiu em um carro que trafegava no sentido oposto. O jovem precisou ser levado para uma unidade hospitalar, e não resistiu aos graves ferimentos do acidente. Ele faleceu na madrugada de domingo (3).

Pela manhã, os riscos da obstrução da via se tornam ainda mais evidentes. Os carros que trafegam em direção ao Pecém reduzem a velocidade diante da duna, e precisam esperar o fluxo diminuir no sentido oposto, para que só então possam desviar pela contramão e seguir a rota.

“A gente passa por aqui a passeio, mas é uma preocupação, né? Tem que tomar muito cuidado, frear. Fica difícil até de ver quem vem de lá pra cá, por causa da areia no meio. Quando vê, já ‘tá’ em cima”, relata o eletricista Neudo Monteiro.

A esposa e colega de trabalho de Neudo, Alice Fernandes, também revela ter cautela ao trafegar pela rodovia. “Dá um certo medo, porque os acidentes acontecem mesmo, ainda mais de noite”, lamenta Alice.

Em setembro deste ano, outro acidente foi registrado na mesma estrada. Um motorista seguia no sentido Lagoa do Cauipe-Cumbuco, quando tentou fazer uma ultrapassagem. Ele não percebeu a areia acumulada na via, perdendo o controle da direção e capotando. O condutor do veículo e os passageiros precisaram ser levados para a unidade hospitalar mais próxima.

O problema se repete ano após ano, em locais variados, já tendo sido noticiado por diversas vezes no Diário do Nordeste. Desde a inauguração CE-010, que liga a Sabiaguaba ao Eusébio, a duna tem avançado na pista. Uma ação civil pública ingressada pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) segue em juízo, solicitando o reparo dos danos ambientais na Unidade de Conservação do Parque Nacional das Dunas da Sabiaguaba pela construção da via.

Para o órgão, o licenciamento da obra foi concedido de forma irregular. Segundo ressalta a promotora de Justiça Jacqueline Faustino, coordenadora do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (CAOMACE), construções irregulares saem do papel, geralmente, pela flexibilização do licenciamento ambiental.

“Muitas vezes o licenciamento não observa questões que devem ser analisadas, ou porque ele é simplificado, ou porque acredita-se que pode mitigar esses efeitos. E quando o equipamento já está edificado se dão conta de que não é tão fácil assim. Ao edificar uma estrada num caminho natural da duna você não vai conseguir reverter esse processo de soterramento dessa estrada. Esse caminho natural existe em face de um sistema complexo”, diz.

Impactos

Para o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, essas rodovias devem ser analisadas pela administração pública de forma específica com um planejamento bem feito, que permita, assim, a preservação dos campos de dunas. Do contrário, conforme acrescenta, se repetem os danos já conhecidos em decorrência da má gestão, como a degradação dos campos, conflitos com comunidades, a inviabilização da dinâmica eólica, a alteração de topografias, entre outros.

“Além disso, elas não são sinalizadas. As dunas migram, passam, bloqueiam a estrada nas curvas, isso gera acidentes. O vento altera a forma das dunas diuturnamente e agora, nesses meses finais do ano, que os ventos são mais competentes, degradam a base das rodovias”, explica.

Manutenção

Por nota, a Superintendência de Obras Públicas (SOP) do Governo do Estado informa que executa ações de manutenção e retirada de areia das pistas, ressaltando, no entanto, a importância de respeitar a velocidade máxima da via, assim como demais regras de trânsito.

“Durante a chamada estação dos ventos, é importante que condutores reforcem a atenção para o deslocamento de areia”, diz. Os sedimentos na estrada estão sendo retirados, segundo o órgão.

Fonte: Diário do Nordeste

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