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Artesanato de Aiuaba encanta pela diversidade

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O Ceará apresenta diversidade na produção artesanal em tecido, palha, cerâmica, madeira e outros materiais, produzidos por mãos hábeis de mulheres e homens, em grupos ou isoladamente, no Interior, no litoral e na serra. E é do alto sertão dos Inhamuns que vem um exemplo de criatividade, o ponto estrela, aplicado em redes e panos diversos, marca única do isolado distrito de Barra do Umbuzeiro.

Para se chegar à localidade de Barra, área rural deste município, limite com o Piauí, é preciso percorrer 30 km de estrada de terra solta e muitas pedras. Nessa época do ano, a poeira encobre a rodovia com o passar de carros e motos, que fazem a ligação entre o distrito e a sede urbana. Mas vale a pena o desafio.

Nas calçadas da vila, há dezenas de mulheres que fazem sem cessar artesanato em tecido: croché e bordados em ponto cruz e em ponto estrela. É um trabalho solitário que se repete em outras localidades rurais e até na cidade. “Temos um artesanato rico, reconhecido”, pontua a secretária de Empreendedorismo do município, Gerúsia Andrade. “No passado, já houve um impulso maior, mas agora mediante essa crise, houve retração”.

Flor da Barra

No distrito de Barra do Umbuzeiro (a denominação está associada a um riacho de mesmo nome, afluente do Rio Jaguaribe, onde habitavam os índios Jucá) foi formada em 1991 a Associação Comunitária dos Moradores de Barra, que reúne um grupo de 20 mulheres artesãs. O núcleo tem uma denominação ‘Flor da Barra do Umbuzeiro’ e um subtítulo, ‘Flor do mandacaru’.

São das mãos dessas mulheres, jovens e idosas, que surgem os lindos desenhos e bordados em redes e outras peças de tecidos para uso doméstico: caminho de mesa (passarela), guardanapos, jogo americano, cobertas de utensílios e eletrodomésticos.
“O nosso forte, a nossa marca própria é o ponto estrela”, observa a presidente da Associação, Maria Luíza do Nascimento, 45 anos. “Surgiu aqui e valoriza o nosso artesanato”. Aplicado principalmente em redes de dormir, ganhou destaque no Ceará e em feiras de artesanato em outros Estados.

Não se sabe a origem do ponto estrela. Aplicado no tecido, não tem avesso, assim a peça pode ser usada tanto de um lado, quanto de outro. As artesãs afirmam que dá muito trabalho a sua feitura, pois é necessário perpassar oito vezes a agulha e o fio, indo e voltando até assumir a forma que lembra uma estrela.

“Aqui a gente trabalha com a rede de Jaguaruana, cujo tecido de algodão foi fiado, e que outros chamam de tanga”, explica a artesã, Zulmira Bezerra Pereira, 51 anos. “Aprendi com a mãe, desde criança, mas profissionalmente só comecei a trabalhar em 1989”. É na confecção do artesanato que procura superar a dor da perda recente de um filho.

As artesãs locais têm uma história de vida comum: aprenderam o ofício com as mães e avós. “Antes era o bordado em ponto cruz, que mantemos, mas para nós veio o ponto estrela”, explica Maria Luíza que foi instrutora das mulheres do grupo da Barra.
Maria Salete da Costa, 48 anos, foi aluno, mas hoje destaca-se como a artesã que trabalha com maior rapidez. O tempo médio de bordado de uma rede em ponto estrela são 60 dias. “Faço em 45 dias, trabalhando quatro, cinco horas por dia”, disse. A habilidade é reconhecida pelas colegas.

Antônia Maria de Castro, 54 anos, é a mais idosa do grupo de artesãs e ao lado da filha, Maria Evilândia, permanece produzindo diariamente as peças em tecidos. Raimunda de Souza Araújo é exemplo para as colegas, pois tem perseverança e sustenta a família com a renda oriunda do artesanato e da agricultura no tempo das chuvas. “Sou mãe e pai, não desanimo e não deixo o grupo cair”, disse.

A mais jovem artesã é Elaine Feitosa Andrade, 28 anos, que aprendeu com as outras artesãs a partir dos nove anos de idade. “Por falta de opção permaneci aqui e comecei a bordar as peças em ponto cruz”, contou. “Ocupa a gente e estimula a habilidade e memória”.

Há uma exceção no rito de aprendizagem. A artesã, Socorro Feitosa não aprendeu a arte com a mãe, mas com as filhas que participaram de oficinas, treinamento e cursos na Associação ofertados pelo Sebrae, unidade de Tauá, e pela Central de Artesanato do Ceará (Ceart). “Eles me ensinaram, mas depois casaram, foram embora e eu permaneci fazendo em caso, onde montei um ateliê”, explicou.

Rede de dormir

O destaque do artesanato local é a rede de dormir bordada em ponto estrela com desenhos variados e cores dos fios que realçam a peça. Cada unidade custa R$ 500,00. Outros artefatos são comercializados com preços que variam entre R$ 18,00 e R$ 300,00, dependendo do tamanho. Além de desenhos de revistas especializadas, as artesãs da Barra inspiram-se na flora sertaneja, na fauna (bois e ovinos), nos vaqueiros, valorizando a história e a cultura do lugar.

Fonte: Diário Centro Sul

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