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Americando: O que a quarentena fez? O que nós fizemos com ela? O que fizemos uns com os outros?

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Lembro-me do dia 17 de março do corrente ano quando fui até o local onde leciono e ao chegar lá fui dispensado das aulas. Ordem superior, pandemia, decreto. A priori eram apenas 15 dias… então me preparei para consultar a mídia, ver o cotidiano do meu estado, cidade e não pensei que íamos tão longe no medo, caos, angústia, saudade e números de mortos… aliás… pessoas amadas que deixaram um vazio em muitas famílias… isso não se quantifica… Ficamos em quarentena, trabalho remoto, suspensão de saídas, visitas e idas à casa de pessoas que gostamos… sobretudo para quem tem parentes com comorbidades e em idade de risco…

Não foi fácil… aliás, não estar sendo, ainda remotamente privando-se de muita coisa, muita gente está… Lembro-me que no primeiro dia fui a um supermercado e fiz as compras para alguns dias… e entre as compras pus um sabão, uma barrinha azul semelhante a uma pedra de calçamento portuguesa… era o recomendável, e ainda é, lavar as mãos com água e sabão… além do sabão, álcool gel e álcool 70. A pandemia nos confinou, nos deixou em casa, nos afastou, nos deixou até mais chatos em casa, querendo proteger as pessoas que amamos… Nos trouxe angústia, medo e certamente aumentou nossa ansiedade e problemas psicológicos… infelizmente, se não pela covid, mas mentalmente teremos sequelas…

O trabalho remoto é cansativo… não é como o presencial e em meio a um certo ócio, maior do que os fins de semana, nos embreamos em filmes, séries, leituras e procuramos pela casa algo para se consertar…. Os dias foram passando e os decretos sendo renovados; mais casos, mais mortes, caos na saúde, desemprego, aumento da cesta básica… enfim… a coisa ficou feia, está e pode piorar… Espero que as vacinas em teste logo em janeiro nos socorram… Tomara meu Deus…

Vi um repertório completo de especulação, negação da ciência, insanidade à flor da pele; pasmem! Até no meio cristão…. uma lástima… sem contar o show de horrores de alguns poucos chefes de estado sem nenhuma empatia pelo ser humano, pelos pobres, os quais não possuem condições de comprar equipamentos de proteção individual, sabão, álcool e outras coisas… sobretudo comida em meio ao caos também na economia, que mesmo antes da pandemia já pairava de norte a sul do país…

Pessoas que estavam perto, distanciaram-se; pessoas que estavam longe, chegaram-se; gente que nunca pensei que fosse minha amiga era; outros que confiei muito simplesmente sumiram… ignoraram tudo que antes passou, usaram de amizade e outros sentimentos para o seu próprio favor… é isso… Conversei isso com uma pessoa que conheci após 7 meses de pandemia… ela evidenciou isso para mim… uma pessoa maravilhosa, responsável, educada e dedicada à família… refletimos sobre isso e tentamos, em meio ao medo do inimigo invisível, ajudar na ansiedade um do outro…

A pandemia no início trouxe um sopro de empatia, solidariedade entre pessoas que se ofereciam para fazerem as compras de pessoas idosas, mas após 4 meses, e agora 8, evidenciou-se em um egoísmo prático do individualismo nosso… Tem gente que gosta da sua utilidade, não de você, creio que a pandemia selecionou muita coisa em nossa vida, embora após mais de 30 primaveras não me surpreende o nosso caráter de filho de Adão, bem versado a Judas, porém confesso que as pessoas com ou sem pandemia, boa parte, agem em interesse próprio e se não conseguirem te ferir podem usar até quem você gosta para isso… Sabe aquele sabão azul que comprei no início da quarentena? Pois é… ele tá fininho… como uma batata frita em bastão… Às vezes, exaurido por este estado de coisas, já me senti como ele…

O bom do tempo é que ele passa… e tudo um dia se apresenta como atualização em seus sentimentos te mostrando que aquilo que aconteceu foi necessário para um bom aprendizado, embora sofrido…, mas é isso, conhecimento, já disse o sábio Salomão, é dor.

A pandemia fez um luto, um caos e mostrou que um microrganismo é mais forte do que a nossa tecnologia quando desprevenido estamos. Fizemos com a pandemia o amadorismo normal do evento inesperado… erramos querendo proteger quem amamos, erramos em não nos darmos conta do perigo em se aventurar em ideias conspiracionistas de uma onda que se instalou nesse país, infelizmente… O que fizemos uns com os outros? Geralmente somos covardes… cobramos lealdade quando também não somos leais… vimos em muitos casos o nosso individualismo em alto grau… contudo, para não ficarmos ainda no tédio e no caos que nos rodeiam, vejo que os profissionais da saúde merecem respeito, muito respeito… sem eles e o Sistema Único de Saúde, que uma ala sem noção de políticos até mensurou privatizar, estaríamos muito pior… Tem mais uma, para terminar…

Professores e escolas são necessário, as famílias perceberam isso com a pandemia…
Bem… apesar dos pesares, do luto por amigos que se foram, agradeço a Deus pela vida até aqui, em meio a esses rabiscos, tenhamos uma porção de fé, que Deus sempre proverá, tudo vai dar certo, apesar das angústias, luto, caos, tédio, ansiedades e decepções em meio a pandemia…

  • Por Américo Neto

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