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Tradição: Milhares de fiéis celebram o Senhor do Bonfim em Icó

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O final da tarde desse dia 1 de janeiro em Icó foi marcado pela tradicional festa do Senhor do Bonfim, uma festividade com quase 300 anos de existência. Durante tarde milhares de fiéis tomam as ruas históricas de Icó acompanhando a procissão que se encerra com a também tradicional queima de bombas. Na ocasião muitos fiéis também aproveitam para pagar as promessas pelas graças alcançadas. A cidade recebe também muitos visitantes para o evento, chegando a contar até cerca de 30 mil pessoas caminhando juntas pelas ruas.
Muitas famílias aguardam a passagem da procissão das calçadas de suas casas, em muitos casos com altares improvisados nas janelas. Muitos também vão acompanhando o cortejo com a imagem, que percorre o centro antigo de Icó, passando pelas principais igrejas históricas da cidade.

Angelim do Icó sempre acompanha a procissão da calçada de casa

O professor Angelim do Icó, agitador cultural e defensor do patrimônio e das tradições de Icó acompanha a festa desde de criança, tendo caminhado com as bombas em muitas ocasiões. “É um momento mágico em que as pessoas entram quase que em um transe, na adoração ao Senhor do Bonfim, na gratidão pelas graças alcançadas e nos novos pedidos”, afirma.
Pedro Lucca Cândido, arquiteto, cantor e compositor, participa da festa desde criança e relata que de crianças a idosos participam do momento. “Até mesmo meu avô, até recentemente, apesar da idade, ainda caminhava com as bombas, porque é uma emoção muito forte, as pessoas vão vibrando junto com as explosões”, conta.

A tradição das bombas

As bombas são arrumadas em varas de madeiras e colocadas no caminho até o ponto central das explosões

No final da tarde a procissão com a imagem secular tem início, percorrendo as ruas da cidade também enfeitadas com tapetes. Ao final da procissão é dado início ao ponto alto da festa, a queima de bombas, uma tradição com mais de 150 anos e que surgiu de uma briga de vizinhos, segundo conta Angelim. Dona Glória, mulher poderosa, tinha em frente à sua casa frondosos tamarineiros, árvores que ainda existem, e no local as pessoas amarravam seus cavalos. Isso incomodava um morador de perto, o Barão do Crato, que ameaçou cortar os tamarineiros. Diante disso Dona Glória mandou comprar pólvora e ameaçou explodir o sobrado do Barão caso os tamarineiros fossem cortados. Como o barão mudou de ideia, Dona Glória doou a pólvora para igreja, e assim teve início a tradição.

Relato do repórter

Muitas pessoas acompanham as explosões bem próximo às bombas.
Foto: Samuel Gurgel

Caminhar entre as bombas do Senhor do Bonfim é uma experiência fantástica. A expectativa pelo acontecimento começa ainda a tarde, quando a procissão começa a percorrer as ruas da cidade. Muitas pessoas já começam a se aglomerar próximo às bombas arrumadas no chão da rua. Homens que parecem meninos, já sem camisa, tirando brincadeiras uns com os outros. Volta e meia começam os gritos de “QUEIMA, QUEIMA, QUEIMA”, incitando ao começo das explosões. Pela praça bombas vão assustando os mais desavisados.

Depois de alguma espera e muita expectativa começa a queima após o sinal vindo da Igreja.
Enquanto acompanham o rastilho de bombas os passos vão se apressando e todos juntos no calor da pólvora e das pessoas aglomeradas. Volta e meia alguém sente uma queimadura e apressa o passo empurrando os demais. Gritos de alegria e são ouvidos e os participantes parecem estar em um transe.

Para terminar, depois de caminhar até a praça central é que acontece o grande momento, em frente ao Santuário do Senhor do Bonfim, onde se concentram muitas bombas. Nesse momento os participantes pulam, gritam e celebram mais um ano. O que sobra é uma chuva de papel picado, muita fumaça e o cheiro de pólvora por toda a praça. Nos participantes, sem dúvida, a adrenalina ainda dura algum tempo e a memória fica marcada por um momento tão emocionante, o que fortalece ao longo dos anos essa tradição tão única.

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