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Opinião: A indústria do mal

Vivemos num mundo bagunçado, incerto, caótico e apocalíptico. Não há dúvidas em relação a maldade que há no ser humano.

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Vivemos num mundo bagunçado, incerto, caótico e apocalíptico. Não há dúvidas em relação a maldade que há no ser humano.

Como tornar invisível o ódio ao próximo? Como não ouvir a trombeta de satanás? A desumanidade com que os humanos tratam seus semelhantes? Como não temer o abismo profundo que nos aguarda? A nação brasileira esta armada de violência para combater as injustiças. Vivemos dias ruins, na verdade já são anos, que retratam uma visão de que se há de fato amor no coração das pessoas, o coração delas está em outro lugar que não aqui na terra. Não somos feitos para a finalidade específica de amar ao próximo como a si mesmo? Então o que justifica a banalidade da violência que arrasa o país? Talvez porque o mal não provém do desejo de fazer o mal, mas sim das falhas de pensamento, de educação, de julgamento que a sociedade não consegue enxergar. Somos massacrados pelas leis injustas que devemos obediência, somos sugados ate a ultima gota de esperança por governantes que exploram a nossa fraqueza, na verdade se alimentam dela, conforme a corrupção, ignorância e a passividade do povo aumenta.

A atual classe política do Brasil explora seus cidadãos em proveito próprio, de forma descarada, o que causa um sentimento de injustiça na população já abandonada à própria sorte. Assim, praticamos o mal que não queremos, pelo simples fato de termos uma tendência para praticá-lo. O sentimento de injustiça torna normal certos atos que possivelmente consideraríamos “impensáveis”.  Ser civilizado significa saber que se é potencialmente um bárbaro. A ironia desta frase é que o exemplo mais óbvio vem da tragédia.

No ultimo sábado, uma mulher de nome Maria de Jesus foi espancada ate a morte por um grupo de pessoas que achavam estar fazendo justiça. O Motivo:  um simples engano, uma simples nota num site que vem desgraçando a juventude brasileira, feito provavelmente por uma simples pessoa, e simplesmente acreditada por uma cambada de imbecis. Chega a ser inacreditável as imagens de tal ato bárbaro, uma selvageria gratuita sem causa nenhuma, que dizer, há uma simples causa: o veredito do destino que aceitamos sem saber o porque. Somos animais pensantes, que desenvolvemos uma linguagem, de interesses e valores, e esta capacidade é o que nos torna humanos. Hoje, o homem vive uma síndrome de desumanidade. Encontra-se totalmente desnaturado. Chegamos ao ponto em que valores morais, como justiça e igualdade, a própria educação, nosso coeficiente de racionalidade resumem-se a um mero clique na tela. A mesma linguagem que desenvolvemos agora é uma doença que nos mata. E como ansiamos pela cura! Mas só rezar e desejar o caminho não é o suficiente, calar a boca muito menos. O que é roubo de milhões de reais do nosso bolso, pelos “nossos” políticos, em comparação ao pobre menino que furtou a carteira do tiozinho? Qual a diferença entre o crime de abandono de incapaz e abandono de uma nação? O que é o linchamento de uma inocente mulher por civis em comparação ao corpo daquela outra vitima arrastada pelas ruas do rio por policiais? Como dizia Chico “morreu na contramão atrapalhando o sábado”. Os responsáveis por esta situação não estão nas ruas, nem nas favelas, nem nos bairros pobres. Estes também são vítimas.

Os verdadeiros criminosos, linchadores, bandidos, estão no poder, exercendo-o em nosso nome. Para eles a copa do mundo, para nós o futebol de várzea. Para eles os melhores lugares, para nós o picadeiro. Para eles a paz, a segurança e a impunidade. Para nós o caos, o medo e a barbárie. E eu vos pergunto: até quando aceitaremos?  Aceitaremos?

Eu não vos reconheço, nem me pareço com vocês. Já não tenho mais saco para isso. Eu quero mais é que a igreja reze, que a bola balance a rede, que a injustiça seja feita, que a esperança morra e que o povo pague por isso. Deus fugiu e nos abandonou em meio a esse desamor. O homem deve se olhar no espelho e sentir vergonha de si mesmo.

*Pierre é professor e coordenador do curso de Direito da Universidade Regional do Cariri (URCA)

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