Momento Psi: Qual a explicação psicológica para as pessoas gostar tanto de reality shows?

1- Projeção: Alienação de nós mesmos. Algumas pessoas não conseguem, não querem ou nem foram ensinadas a lidar com suas questões pessoais, dessa maneira se torna possível, aceitável e interessante, perceber esses conteúdos em outras pessoas, deixando a sua vida de lado e tornando a vida do outro mais “interessante” do que sua.

2- Identificação: Diferente de outros tipos de programa, os reality shows criam uma sensação de identificação, as pessoas de alguma maneira, enxergam partes delas nos participantes, por isso agora, os integrantes são pessoas famosas, ou influencers, na qual, as pessoas já os seguiam e se identificavam com os mesmos. Juntando isso com a “projeção”, o desejo de acompanhar a vida dos outros se torna mais interessante, lembrando que a curiosidade é uma coisa natural da vida em sociedade.

3- Reproduzir opressão: Usando uma afirmativa de Paulo Freire, onde fala que “O sonho do oprimido é ser opressor”. Juntando em nossa atual realidade, caracterizada pela opressão de cancelamento, conseguimos entender o motivo de existir tantos “juízes” da vida alheia, onde qualquer pessoa pode virar Réu por algum erro, com direito a julgamento do mais cruel possível e sem piedade. Assistir o reality é uma maneira de MONITORAR e manipular comportamento das pessoas, e de colocar em prática o prazer do julgamento e reproduzir a opressão vinda da sociedade.

4- Participação: Não adianta as pessoas apenas achar que pode oprimir e julgar as outras, o prazer está em colocar isso em prática e de forma anônima, onde não há peso da responsabilidade, então os programas permitem que as pessoas participem nas decisões do jogo, dando espaço para interferir na vida do outro, e dessa maneira o programa manipula até mesmo quem está fora das paredes de confinamento.

5- Voyerismo virtual: O termo, que designa a “desordem sexual que consiste na observação de uma pessoa no ato de se despir, nua e que não se sabe observada”, ou ainda a “curiosidade mórbida com relação ao que é privativo, privado ou íntimo”. Comparar o consumo destes programas de televisão com o termo voyeurismo exagerado e um tanto quanto perturbador, mas é o que acontece de fato.

As pessoas chegam até a pagar para assistir 24h, para sentir o prazer de matar a curiosidade mórbida com relação ao que é privativo, privado ou íntimo, assistimos sem desgrudar os olhos da tela os participantes fazendo as coisas mais comuns do dia a dia, como lavar louça ou a roupa, se alimentar, tomar banho e conversar, por exemplo.

Dois artigos publicados, explicam esse comportamento – I Am What I Watch: Voyeurism, Sensation Seeking, and Television Viewing Patterns (Eu sou o que eu assisto: voyeurismo, busca de sensações e padrões de televisão), de Zhanna Bagdasarov – Mediated Voyeurism and the Guilty Pleasure of Consuming Reality Television (Voyeurismo mediado e o prazer culposo de consumir reality shows), pesquisa de Lemi Baruh, descobriu que as pessoas com classificações altas de voyeurismo são as que preferem assistir reality shows a outros programas, também encontrou uma vantagem positiva entre assistir aos programas de realidade na TV e o voyeurismo. Segundo o estudo, assistir a reality shows é uma forma segura e acessível de ter acesso à experiências e informações que, de outra forma, seriam ilegais e inacessíveis.

6- Compensar a necessidade de companhia: vivemos em uma realidade social, em que o individualismo é exaltado e a solidão se faz presente, Assistir um reality, não necessariamente significa que a pessoa seja adepta do voyerismo, envolvendo questões sexuais, como diz Bagdasarov, indivíduos que possuem baixos níveis de interação pessoal e mobilidade são mais propensos a assistir aos programas não só para suprir seus desejos voyeurísticos, como também para compensar a necessidade de companhia.

*Por Gleydson Henrique Pontes de Oliveira, Psicólogo – CRP: 11/12538