Judeus são cristãos?

No evento de domingo na Avenida Paulista, convocado pelo ex-presidente Bolsonaro, ocorreram algumas coisas estranhas, mas que não são normais da extrema-direita. Alguns posts tinham um tom paranoico: “Cuidado com o que vocês vão beber e comer dos ambulantes dia 25 na Paulista. É melhor levar lanche de casa”. Também houve a seguinte advertência: “Não comprem nada dos ambulantes. Eles colocam vacina na água e cospem no lanche, esses esquerdistas”.

No entanto, essas senhoras que estavam na Avenida Paulista para defender Israel, porque Israel é cristão assim como nós, podem não ter visto um vídeo que mostra judeus ortodoxos cuspindo no chão perto de uma procissão de cristãos em Jerusalém, causando indignação e acirrando tensões religiosas naquela capital, cujas três religiões abraâmicas (islamismo, judaísmo e cristianismo) consideram sagrada. Em 4 de outubro, a polícia de Israel informou que prendeu alguns dos suspeitos envolvidos no ato. É difícil acreditar.

O ministro de Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, um sionista, defendeu que não é crime que colonos judeus cuspam em cristãos. O feriado judaico do Sucot, naquela semana, foi marcado por uma onda de crimes de ódio contra cristãos em Jerusalém. Os ataques, considerados crimes de ódio em muitos países, para o regime israelense eram apenas uma “antiga tradição judaica”. Estava tudo certo, né? E não reclame, senão será chamado de antissemita. Aceite a cusparada. Afinal, somos cristãos. E aqui uma diferença importante: Nem todo israelense é judeu, assim como nem todo brasileiro é cristão.

Mas o conflito entre israelenses e palestinos é religioso? Não. É uma questão de terra, um conflito por território. Os palestinos não aceitam e nem reconhecem israelenses morando em suas terras. Eles invadem as terras dos palestinos, formam assentamentos e os expulsam, e os palestinos reagem. Isso tem séculos e só piora. Em 7 de outubro de 2023, um grupo de palestinos armados uniu-se ao Hamas no ataque terrorista mortal a Israel. Neste ataque, milhares de israelenses e dezenas de americanos, brasileiros, europeus e asiáticos que estavam na festa no deserto morreram. A reação de Israel foi dura e considerada desproporcional, bem ao estilo da extrema direita, que, para matar os carrapatos de uma vaca, acredita que o melhor é matar a vaca. Isso está em andamento com o apoio dos EUA. O que acontece em Gaza é, sim, um genocídio. Os palestinos não podem sair, exilar-se, não recebem comida e ajuda humanitária. Cercados, não têm para onde ir, e se não podem sair, pois estão em um gueto sem saída, e mais da metade das vítimas são mulheres e crianças, isso é genocídio. O resto é a história sendo contada.

E aqui uma curiosidade que muitos que vão à missa toda semana não sabem. Historicamente, Jesus Cristo foi um profeta judeu que viveu na Palestina no século I d.C. Durante sua vida, ele trouxe uma mensagem de libertação a Israel, prometendo a formação de um reino de Deus na Terra. No entanto, ele não é aceito como Messias pelos judeus. A maior parte dos acadêmicos concorda que Jesus foi um pregador judeu da Galileia, foi batizado por João Batista e crucificado por ordem do governador romano Pôncio Pilatos. Pela tradição cristã, Jesus Cristo nasceu na cidade Palestina de Belém, onde, até 2022, a época do Natal era um tempo de festa e de luzes. Em 2023, o cenário esteve bem diferente. Perto da Praça da Manjedoura, um dos pontos turísticos de Belém, decorações apagadas e ruas vazias. Portanto, judeus não são cristãos. É importante notar que “israelense” se refere à identidade nacional, enquanto “judeu” refere-se à identidade étnico-religiosa.