Dia-a-Dia com Maria

DIA-A-DIA COM MARIA: Fofocar

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Passando por cima da “teoria da fofoca”, à qual nem de perto atinarei, a fofoca- esse sal danoso (ou não) que amolda o mundo-, tal qual é seu poder, que pode repercutir a ponto de frear atitudes diante da sociedade, pressionando as pessoas a se cuidarem dos impiedosos olhos, ouvidos e principalmente das bocas dos fofoqueiros, falarei um pouco desse caos animador enquanto o telefone toca e deve ter algum na linha. Deveras me tenta, sim, mas resisto até encerrar esse texto, tão breve quanto os stories de um amigo que na revolta pessoal faz um moídos da rede social.

Por mais que na maioria das vezes a fofoca seja associada a uma prática maliciosa, estudos enxergam nela um lado positivo, por gerar comunicação e vínculos de identificação entre indivíduos pertencentes a grupos sociais, afinal, ela não existe sem a comunicação e somente com a evolução do homem e a criação de sociedades mais complexas e o desenvolvimento de linguagens, como defende Klaus Zuberbuehler, da Universidade de St. Andrews, na Grã-Bretanha, passou a ser mais sentida.

Dá para viver sem fofocar, evitar os rastilhos de maledicências quando as comunicações entre humanos acabam por gerar conflitos decorrentes de tantos comentários partilhados?! Naturalmente, com o avanço tecnológico e a teia de redes sociais, a fofoca deu uma turbinada calórica inimaginável, nisso, a maioria das populações viram-se expostas a comentários excessivos e apimentados com a meta de rebaixar, envergonhar, ferir…destruir mesmo!

A grande questão é como se distinguir um leve comentário de ser ou não uma fofoca, o ponto, então, seria a maledicência, afinal, se alguém chegar e contar que ‘Marise’ casou-se, é uma coisa que pode ser acatada como mera informação, mas se a falácia é que a tal moça casou-se grávida e o noivo nem deve ser o pai da criança, o peso da informação se enforma com tom maldoso e nessa nata informativa (excedente e desnecessária) reside a fofoca.

As redes sociais, sem dúvida, têm uma importância imensurável para levar informações preciosas a longo alcance, no entanto, quando o teor do que publiciza é capaz de supliciar alguém, aí sim, estar-se diante de uma fofoca que, apesar de causar um frisson de energia motivadora, pode levar a tragédias.

Para quem não sabe, a fofoca é considerada um dos hábitos mais antigos da humanidade, sendo responsável por impactar diretamente o rumo histórico Grandes nomes históricos, como a Elizabeth I, o renomado artista Michelangelo e o alemão Johannes Brahms foram vítimas de intensos boatos que colocaram seus nomes em evidência.

“A rainha inglesa Elizabeth I, por exemplo, foi intenso alvo de disse me disse entre 1560 e 1570”, segundo afirma o historiador Bernard Capp, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, é que a majestade tinha fama ruim e cogitavam a paternidade de seu filho e outros boatos de casos amorosos.

Já Michelangelo foi apontado como assassino, inclusive, na época, surgiu o boato de que o pintor renascentista, teria matado uma pessoa para analisar a anatomia do corpo humano.

Johannes Brahms, por sua vez, foi apontado como assassino de gatos, uma vez que, acreditavam que estrangulava os felinos para reproduzir seus gritos em trechos de sinfonia.

Dom Pedro, segundo espalhavam, era seboso, andava com um frango assado no bolso e tinha uma sovaqueira do inferno, nessa parelha, conheci um que não era Pedro (de Iguatu), mas que apesar de fazer sorvetes para comercializar, nunca lavava as mãos.

Fato é que quase ninguém escapou de uma fofoca, famoso ou anônimo, já foi vítima de algum boato ao longo da vida, contudo, algumas fofocas foram responsáveis por impactar diretamente a história da humanidade, não esquecendo de Marcus Valerius Martialis, epigramatista latino, autor de versos denunciadores e de ampla fofoca. Assustava os alvos de seus epigramas* com textos mordazes, retratos satíricos, anedotas, quadros, trocadilhos e poemas de ocasião, uma verdadeira crônica de seu tempo, com ironia e mesmo obscenidade retratava o cotidiano e as fraquezas da sociedade romana da época. Era temido porque não se apiedava!

Hoje a fofoca virou hobbie ou meio de vida para muitos profissionais ou amadores dedicados… Vixe, Luana Piovani continua denegrindo o indelicado Scooby, que a mim não engana. Ah, pelo amor de Deus, todo mundo sabe das galhas que Wanessa Camargo meteu no ex, ok, ok, e do namoro daqueles parlamentares dupla face… nossa, é animador fofocar, porém, Deus me livre e guarde!

Iguatu apresenta boa seiva dessa tendência, claro, com o devido cuidado para que um comentário despretensioso não vire processo criminal nos moldes do que capitulam os crimes contra a honra, mas que animam bastante os expectadores. Vale lembrar que “de boas intenções o inferno tá lotado”, mas o povão ama fofoca, tanto é que uns dizem anunciam: “Tenho uma bomba chiando para soltar” e muitos ficam à espera, quando outros de pressa, até acodem: “DIZ LOGO!” Outro apela: “Corre nos stories”, forma de espalhar o babado, jeito mais feliz de se referir à maledicência, repito, tão boa.

Não vou me estender, leitores, porque uma amiga acabou de ligar contando do chifre de uma colega de trabalho e do desfecho da briga do casal, não resisto, depois conto com suavidade o babado sem entregar os atores. E o caso daquele doutor… Fica entre nós!

Beijos!

*Por Maria Lopes, advogada, escritora, colunista.

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