Dia-a-Dia com Maria

Dia-a-Dia com Maria: Ecos e manecos, puxa saco e derivados

Mesmo que não seja o primeiro a chegar na empresa onde ocupa a vaga, o babão não é dado a atrasos no dia a dia.

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Mesmo que não seja o primeiro a chegar na empresa onde ocupa a vaga, o babão não é dado a atrasos no dia a dia.

Costuma ser deslambido, cumprimenta o maior número de pessoas possível, buscando dar-lhes títulos relacionados a poder: chefe, doutor, marajá, autoridade, ilustre, pedra 90, até magnata etc., seguido do aperto de mão e dois tapinhas no ombro que completam seu ritual babanáceo.

Mesmo que inconsciente, costuma observar os modos do chefe e até imitar-lhe as roupas (estampa de camisa), repetir seus dizeres, mostrando que reza na mesma cartilha, já que personalidade definida inexiste para o adepto da bajulação. Nos eventos, costuma dirigir olhares intersilhados* para seu ‘modelo’ (superior), mostrando uma lealdade quase canina. Nas discussões polêmicas, o babão não é de se definir claramente, na maioria das vezes, balança o garguelo feito lagartixa, diz sim com a cabeça, diz não com o resto, e vice versa. A confusão o segue: paralelamente é ansioso e bem informado. Analisa bem as tendências populares para saber se vale a pena se manter na banda na qual se insere, no entanto, defende seu ídolo até o limite. Briga, cria desafetos, torna-se risível.

Ao perder a vez, vira a casaca de forma impressionante, anulando todos os pontos de vista e pregações expressos anteriormente. É de  uma camaleonagem estapafúrdia. Grande invencioneiro, costuma capitular ideias plagiadas para se exibir diante do “chefim” como sendo criativo, engenhoso e eficaz. Se fosse flor, seria melífera! Mas seu forte mesmo é catar converses, retocar-lhes para fazer sua média.

Costuma destacar-se pelo cavalheirismo, bons modos e educação primorosa como se porta.

Essa tipagem poderia ser mais rentável profissionalmente se não gastasse tantas passadas rumo ao reduto do seu comando, de onde entra e sai sem saber ao certo o que procura. Ao olhar seu mentor (quando é do tipo mais romântico) faz verdadeiras declarações silenciosas.

O estilo crônico tende a se manter intacto na sua  neutro-flexibilidade, principalmente em se tratando de política, sendo esta a forma de declarar sua adesão às opiniões do chefe. Quando toma uma posição, coisa rara, diante do líder não se retrata, optando pela mudez.

O babão habitualmente é considerado “um filé” e o patrão, é seu “peixe”.

Essa ordem  ‘amoral ‘ dispõe de uma série de distintivos: babão, chaleira, cheleléu, puxa-saco, baba-ovo dentre outros e estudos acurados demonstram que há discrepâncias comportamentais em cada gênero. 

O babão de fato, é mais hábil, obediente, rápido no agir, fuxiqueiro de destaque e irrequieto. Já o baba-ovo, é mais quieto, contemplativo, simplório, digno de piedade e comoções. Achegado aos solilóquios e a dizer “sim sim” ou “sim sim”. Certamente é o mais humilde da estampa. Até porrada suporta, mas não larga seu ‘pilar’. Chega a choramingar sozinho  as humilhações por que passa, sente-se injustiçado por ser tão amoroso e pouco reconhecido. O descaso o fere, porém, justifica qualquer atrocidade a ele direcionada.

O chaleira está sempre de prontidão para “acudir” o chefe, dar-lhe um chazinho, daí sua derivação. Faz tanta bobagem para ser visto, até atos desnecessários e palavras dispensáveis para mostrar-se “ali”. Gosta de repetir: “vai dar certo, vai dar certo”; “ os home tão com medo, chefe!” É desprezível!!!!!!!!! Dificilmente chega ao posto almejado, contido, seu ego carente se plenifica de migalhetes de elogios e supostos reconhecimentos de lealdade e pelos “bons serviços prestados”.

O cheleléu é o tipo mais falante. E o eloqüente do magote, propaga sua fascinação pelo superior, é meio descarado e mesmo quando é maltratado pelo chefe, faz-se de burrinho, preferindo confinar-se na sua aura lunática a cair na real do quanto sua valia é micha. Oculta seus insucessos e dá asas à sua campanha devocional.

O puxa-saco é o pior tipo, talvez, faz fuxico, embora se esquive um pouco para passar despercebido. É o fã opaco. Sendo o oportunista que é, dificilmente perde a bocanhada. Se pudesse, vivia enroscado no chefe, admira-o, copia-o, repete-o, mas não se enganem, o bicho é capaz das mais absurdas leviandades. Assim como puxa o saco faz-se de imprescindível, também pode detonar o idolatrado “saco”, estourando-lhe aos chutes, abandonando seu “ícone” por quem tiver numa situação mais favorável. É possível, segundo os pesquisadores, que tenha atravessado traumas irreversíveis na primeira infância. Enxerga no superior “o pau que lhe dá sobra”. Teme insolação, vê-se, portanto, obrigado a caçar amparo.

De todos os outros, o puxa é o mais mercenário. Os outros buscam em primeira mão o destaque, status, sendo assim, perfilam0se com o pai d1égua do chefe para Serem notados. Arrastam até as esposas, quando as tem, para serem amigas íntimas da patroinha.

O clima entre a agremiação que categoriza esse “cordão” é deveras tenebroso. Competem-se entre si, contudo, não ousam detonar suas despeitas. Tentam aclimatar-se, tornando-se camaradas, organizando programas de lazer coletivo.

Os pobres são distanciados do itinerário do babão, sendo admitido apenas nas campanhas de caridade das quais uma vez na vida ele participa para mostrar que pode ser solidário e bom cristão. Aliás, costuma fazer comentários terríveis sobe as pessoas, sem a menor piedade, sempre repetindo a deixa “Aquilo é gente!”.

Quando mísero, o bajulador submete-se a qualquer sacrifício par transparecer um padrão de vida mais animador. Nessa meta, pode até incluir rigorosa dieta alimentar (verdadeira crucificação estomacal) de forma que lhe garanta  economia. A isso vale o refrão mental: “cuscuz com ovo e carro novo”.

Mas, dissertá-los, é tão extenso quanto buscar concha na areia da praia, eles existem aos montes e de todas as formas. Maiores, menores… são nocivos porque tendem a cegar seus líderes, uma vez que lhes impedem de ver o que de fato ocorre, seja nas administrações públicas, nas relações empresariais, pessoais… São os papa-figos da era moderna.

 

*Mariazinha é Servidora do IFCE Campus Iguatu e Advogada

 

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