Dia-a-Dia com Maria

Dia-a-dia com Maria: A eterna derrama e os muitos “Tiradentes”

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Hoje, dia 21 de abril, completam-se 230 anos da morte violenta e trapaceira de Joaquim José da Silva Xavier- “Tiradentes”-, um mineiro de fibra que, como tantos outros nãos mais suportavam os desmandos do Império Português e, por seus planos de rebelião, ganhou a forca e o esquartejamento (espécie de sentença que amedrontava a nação).

Como se sabe, a Inconfidência Mineira, tão propagada nos livros nada mais foi do que um “basta” idealizado por um grupo de pessoas atormentadas pelo peso da tributação devida a Portugal. Nesse cenário de traição, estava o antagonista (coronel da cavalaria), Joaquim Silvério dos Reis Montenegro Leiria Grutes, português, que delatou o movimento dos inconfidentes mineiros que planejavam libertar o Brasil do regime colonial, instalado no Brasil

Silvério era fazendeiro e proprietário de minas de ouro, numa época em que a mineração da região das Gerais era o polo econômico da capitania, tempo no qual se calcula que lá, no final do século XVIII, viviam cerca de 300 mil pessoas, sem considerar a população indígena.
A partir de 1711, Portugal passou a exigir altas taxas dos mineradores. Anos depois foi criada a Intendência das Minas, uma administração subordinada diretamente a Lisboa e o pagamento do “quinto” foi estabelecido pela Fazenda Real.

Todas as formas de manter pressão sobre os mineiros falidos e empobrecidos foi engenhosamente pensada, nisso, criaram as Casas de Fundição, onde o ouro taxado recebia um carimbo, como a única forma de poder circular. Por fim, uma atitude mais drástica fixou-se uma cota anual mínima para assegurar o quinto: 100 arrobas, 1.500 kg de ouro. Se os tributos não atingissem essa quantia, a população teria que complementar a soma estipulada – era a “derrama”.

A população vivia revoltada, mas com o quase esgotamento das minas e com a situação precária de Vila Rica (atual Ouro Preto), ameaçada de uma derrama violenta, os inconfidentes, entre eles, o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrada, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto e José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, marcaram um levante para a ocasião da derrama de 1789.

Joaquim Silvério dos Reis, informado do levante, escreveu uma carta de delação, em 11 de abril de 1789, ao governador de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, alertando as autoridades coloniais para a existência de um movimento em Vila Rica, que pretendia proclamar a República e libertar o Brasil de Portugal. A derrama foi suspensa e os principais líderes foram presos.

Como prêmio o delator cobrou o preço de seu serviço: pensão por toda vida, perdão para todas as dívidas, comendas e privilégios. Depois de sofrer alguns atentados fugiu para Lisboa só regressando ao Brasil em 1808, seguindo para o Maranhão, terra de sua esposa.

Segundo alguns historiadores, o delator faleceu em São Luís, Maranhão, no dia 12 de fevereiro de 1819, tendo sofrido atentados no Brasil porque sua fama de traidor correu rápida, com o que fugiu para Lisboa, voltando ao Brasil em 1808. Foi para o Maranhão, onde sua mulher tinha raízes e lá faleceu em fevereiro de 1819.

Mas depois dessa biografia, não paramos de ver Joaquins Silvérios em cada época.

Atualmente, ressentimo-nos, nós brasileiros, pela omissão e inconsequência de governos que forçam a nação a constantes derramas pelo fisco desigual e pela entrega de nossas riquezas materiais ao capital estrangeiro.

Joaquim Silvério ainda tem a desculpa de ser português nato, ter cargo de confiança e agir com a vileza comum de uma época em que Brasil era canteiro de mera exploração do colonizador.

E hoje, quantos Tiradentes morrem asfixiados pelo peso das injustiças, da vida indigna, sem saúde, sem esperança, sem terra ou teto e, aos poucos, regredindo no seu direito de gritar por socorro.

Estamos bem mal.

*Por Maria Lopes

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