ARTIGO: 6×1, que jogo é esse?!

Verdadeira síndrome de pânico acometeu a sociedade brasileira nos últimos dias, em função da alardeada proposta de alterar a escala de trabalho em nosso país. Fiquei estarrecido ao me deparar com um trabalhador aqui em Iguatu que, ao ser perguntado sobre a sua opinião em relação ao tema, exclamou: “6×1, onde foi esse jogo?!”. No país do futebol, nada mais natural seus habitantes estarem preocupados em saber quem ganha e quem perde o pódio de uma taça qualquer.

Esclareça-se que 6×1 é a maior jornada de trabalho semanal entre os países do G20; a quarta maior jornada anual de trabalho no mundo (1936 horas/ano); o valor pago pela hora trabalhada no Brasil está em trigésimo lugar entre os países da OCDE; é a escala semanal de 82% dos Setores Econômicos de Comércio e Serviços, que ocupa 90% da força de trabalho feminina negra/parda, pagando menos de 2 salários mínimos, com queda de 1,3% no valor do salário real.

Não é de hoje o “negacionismo à brasileira” quando o assunto é mudanças no Mundo do Trabalho. Em 1888 a pergunta era: “quem vai trabalhar se abolir a escravidão?”. Em 1932 afirmavase: “jornada de 8 horas vai desmantelar as empresas!”. Em 1943 enfrentamos irredutível resistência da Classe Patronal para a implantação dos 30 dias de férias. Em 2024: “alterar a jornada 6×1 não tem como dar certo, as empresas quebram!”. Não obstante, a Elite Dominante deste país sempre
impõe barreiras às ínfimas concessões à Classe Subalterna Trabalhadora: criação do SUS (Sistema que atende, pelo menos, 80% d@s negr@s nacionais); eleição de operár@s, em especial a cargos majoritários; voto feminino; dentre outras.

Experimentos feitos em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, revelam justamente o oposto de todas as “lorotas” alardeadas. Na Islândia desde 2022 mais de metade dos trabalhadores já se encontram lotados na escala 4×3. Em 2023 aquele país registrou um crescimento econômico de 5%, desemprego de 3,4% e a produtividade tem registrado aumento de 1,5% ao ano. Na França esta jornada gerou imediatos 300 mil empregos. Na China desde 1995 essa jornada tem contribuído para tornar a Indústria do Turismo Interno a maior do mundo. Na Inglaterra, reduziu 71% do esgotamento físico dos funcionários e aumentou 35% das receitas das empresas.

A Fundação Getúlio Vargas realizou experimento de 9 meses com 21 empresas com no máximo 50 funcionários. Mantra do experimento:”salários e resultados iguais, 20% menos trabalho”. Resultado: produtividade aumentou 71,5%; engajamento aumentou 60,3%; exaustão caiu 49,6%; ansiedade caiu 30,5%; insônia diminuiu 49,6%; sensação que a saúde física e mental
melhorou 77,3% dos funcionários; melhorou a criatividade e a inovação para 80,7%; sentindo mais energia para amigos e familiares 71,3%.

Percebe-se que ao redor do mundo e no Brasil implantar jornada de trabalho humanizada demanda engajar lideranças, repensar o modo de trabalho, fazer diferente, redesenhar processos, ambientes de trabalho, tecnologias utilizadas e atualizadas, processo de comunicação eficiente, educar e treinar o chamado “chão de fábrica”, redistribuir tarefas, delegação de responsabilidades, escuta ativa intergeracional, mudança da cultura empresarial, contratação adicional, pois segundo a
ONU, o atual modelo 6×1 tem resultado em 13% dos trabalhadores do mundo com debilidade
mental, perda anual de 12 bilhões de dias de trabalho a um custo de 1 trilhão de dólares.