Americando
AMERICANDO: O cheiro do meu avô
“A coroa dos velhos são os filhos dos filhos, e a glória dos filhos são seus pais.”
(Provérbios 17: 6).
Hoje o dia amanheceu com aquele “cheiro de chuva”. De imediato tive a lembrança do senhor. Seu porte firme, robusto, chapéu na cabeça, braços fortes, camisa longa por conta do sol, calça rasgada, botas, sua faca na cintura e muito suado. Quando eu ia a sua casa e o senhor estava sentado debaixo do alpendre, olhando a estrada e o gado no curral, assim que me conhecia perguntava de supetão: “Quê que vei ver?” eu ria e dizia: “Estava com saudades, vim conversar com o meu avô… Benção?”. Isso era seguido de um abraço e um aperto de mão que se eu não colocasse forças na mão era perigoso os dedos ficarem machucados… No abraço tinha algo mais interessante: mesmo sujo e suado da luta com o gado, na roça consertando alguma cerca ou limpando o roçado, o seu cheiro era de mato com chuva… por isso, essa manhã, lembrei-me de você vovô…
Após os cumprimentos da chegada o senhor pedia para nos trazer café e logo, logo me perguntava se eu conhecia os versos de Ferrabrás, Rubéulo, José de Souza Leão ou da mulher desesperada. Aqueles versos talvez seria o ideal de coisas que ele queria sentir, ser ou admirava por demais… a literatura de cordel era a arte que ele cultivava… a vida do matuto do Sertão, criador de gado, fazendeiro, comerciante e acima de tudo o medo nunca fez morada em seus sentidos… ele recitava vários versos “de cor” para mim…
Meu avô nunca teve medo de absolutamente nada… Lembro-me da nossa última conversa, ele me disse: “Tô morto meu filho, viu?”, mas a sua face apesar do pouco brilho que a dor do corpo ofuscava, não tinha em nenhuma parte, principalmente no olhar, um aspecto de medo, nada… Ele sabia que a morte estava chegando, mas não temia, disse-me que estava morto da mesma forma que sempre me afirmou qualquer outra coisa naturalmente como sempre fez…
Essa manhã o cheiro da chuva me fez lembrar você meu avô… Eu não tenho nenhuma pretensão de entender, tentar entender ou adivinhar o futuro após essa vida, não tenho religião e nem tão pouco dou crédito ao circuito religioso de nossos dias, que na minha humilde percepção, porém destemida, nada mais, nada menos é do um grande negócio que vende uma mercadoria invisível usando a fé de pessoas inocentes.., mas, de uma coisa eu sei, até enquanto essa consciência que escreve essas linhas existir, o senhor estarás em minha memória… estarás em muitas lembranças várias delas felizes, outras nem tanto, mas o senhor para mim é inesquecível… O maior homem que já conheci, com sentimentos mais elevados em relação ao meu próprio pai… Eu não sei se estás em um lugar que as religiões ousam dizer ou determinar, mas em minhas memórias, enquanto vivo eu estiver, e dotado de raciocínio, em minhas memórias mais sentimentais o senhor sempre estarás… O cheiro da chuva é o seu cheiro vovô…
Iguatu – Ceará, 15 de maio de 2025.
Por Américo Neto.
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