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‘A emoção bateu’, diz intérprete que traduziu para libras depoimento de órfã da Covid à CPI

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Estudante de psicologia João Gleverson de Oliveira, de 33 anos, relatou ‘respiração descompassada’ durante manifestação de jovem de 19 anos que perdeu pai e mãe para a Covid.

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A reação de um dos intérpretes de libras (língua brasileira de sinais) da CPI da Covid, João Gleverson de Oliveira, chamou a atenção nesta segunda-feira (18) durante depoimento de uma jovem de 19 anos que perdeu o pai e a mãe para a Covid-19.

Estudante de psicologia, o intérprete de 33 anos viralizou nas redes sociais ao levar a mão ao rosto e, em seguida, ter sido substituído no meio o depoimento da estudante Giovanna Gomes Mendes da Silva. A cena foi transmitida ao vivo pela TV Senado.

Nesta segunda, a comissão ouviu familiares que perderam parentes em decorrência da Covid-19. Os relatos expuseram a emoção dos depoentes, que narraram aos senadores situações de dificuldade, tristeza e indignação com a morte de familiares pela doença.

Giovanna da Silva perdeu os pais em um intervalo de 14 dias. Órfã, ela passou a assumir a responsabilidade de cuidar da irmã, Juliana, de 11 anos.

“Eu, meus pais e a minha irmã éramos muito unidos, muito mesmo. Quem conhece sabe que, onde nós estávamos, a gente estava junto. Então, quando meus pais faleceram, a gente perdeu as pessoas que a gente mais amava. E eu vi que eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. Eu me apoiei nela e ela se apoiou em mim. Então, desculpa…”, contou, interrompendo o pronunciamento com a voz embargada.

Nesse momento, o intérprete levou a mão ao rosto. Em seguida, juntou as mãos e conversou com uma pessoa. Outro intérprete de libras imediatamente o substituiu.

Ao g1, o intérprete de libras afirmou que a sessão desta segunda-feira reuniu “histórias bem pesadas” e que, “de fato, a emoção bateu”.

“Se analisasse nas imagens um pouco antes de eu ter saído, dava até para ver que a minha respiração estava um pouco descompassada – aí sim era uma emoção”, disse.

“Como intérprete de libras, o meu esforço é não só de transmitir para o surdo o que estão falando, mas a minha atribuição também é transmitir para o surdo a emoção está havendo. Ou seja, por mais que eu esteja emocionado ou não, as minhas expressões faciais, meu corpo por inteiro têm que tentar transmitir a emoção de quem está palestrando. Mas às vezes não dá para separar. A emoção é tão grande que a gente mistura a nossa com a da pessoa que está falando”, contou.

Revezamento
João Gleverson afirmou que os intérpretes de libras costumam fazer um revezamento a cada 20 minutos, e que a troca coincidiu com aquele momento do discurso.

“Está girando na internet que o fato de eu ter colocado a mão no rosto era um sinal de que eu estava ali contendo um choro, alguma coisa assim. Mas foi um equívoco. Não foi isso”, afirmou, ressaltando que o movimento foi “natural”.

“E outro equívoco que pode ter criado um cenário fantasioso é que meu colega me substituiu naquele exato momento por causa disso. Digo que é fantasioso porque a gente, como intérprete da TV, trabalha com revezamento. Então, de tempos em tempos a gente troca cada um no seu turno. E ali coincidiu que, naquela hora, naquele momento, era a hora dele. O meu tempo já tinha acabado, era hora de ele entrar, e ele ia entrar de qualquer forma, acontecendo alguma coisa ou não”, disse.

Intérprete de sessões do Senado Federal, João Gleverson afirmou que já ficou emocionado em outras circunstâncias, “mas nunca de forma tão aparente”.

“Sempre tem discursos que falam de racismo, preconceito, humilhações que as minorias enfrentam. Principalmente por causa da Covid, em si, que tem muitos casos de injustiça e trágicos nas famílias. Então a emoção, uma vez ou outra, acontece. Mas acho que nunca de maneira que transparecesse ou que eu chorasse na câmera”, afirmou.

Fonte: G1 Ceará

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