Número de suicídios em Iguatu passa do dobro da média mundial

Um tema delicado e pouco tratado com a seriedade devida, o suicídio, apenas em Iguatu, já vitimou 21 pessoas de setembro do ano passado a junho desse ano. O dado é preocupante e, segundo especialistas, podemos classificar como uma epidemia, pois o número teve um aumento significativo. Embora possa parecer uma tragédia pessoal, afetando mais diretamente as pessoas próximas à vítima, o suicídio já é tratado como um caso de saúde pública em face ao número de casos nos últimos anos, que tem aumentado.

No mundo, uma pessoa morre por suicídio a cada 40 segundos. Foram registrados aproximadamente 804 mil casos em 2012, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No caso de jovens entre 15 e 29 anos, o suicídio é a segunda causa de morte. Ainda segundo estimativa da OMS, as taxas de suicídio poderão dobrar até 2020, matando mais que homicídios e guerras. Outra estimativa é de 20 tentativas de suicídio para cada óbito registrado.

Enquanto a taxa no Brasil é de 6 suicídios ao ano para cada grupo de 100.000 habitantes ( dados de 2014 da Organização Mundial da Saúde, OMS ) e no mundo a taxa fica em torno de 11 casos para cada 100 mil habitantes, em Iguatu esse número, pelas estimativas, passa do dobro.

Dificuldade de informação
As informações são de Lumara Alves, psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial, Caps III, que afirma que os números são difíceis de ser obtidos. “A única forma de conseguir oficialmente falando seria através do IML, mas existe todo um procedimento jurídico para conseguir oficializar através do IML. Para você ter uma ideia, nesse mesmo período, o registro do IML é 6 suicídios”, afirma. Lumara também explica a dificuldade em se conseguir as informações, pois, segundo ela, “Existe um procedimento muito demorado para se concluir a perícia de um suicídio e esse dado não pode ser fornecido publicamente, é um processo particular, como com outras perícias de morte existe toda uma burocracia para se conseguir os dados”.

Suicídio x Comportamento suicida
O médico José Péricles, residente em psiquiatria em Iguatu, destaca a existência, além do suicídio em si, do comportamento suicida, que reúne uma série de comportamentos que alertam para um risco, como pensamentos de morte recorrentes, um histórico de doença mental, como o transtorno depressivo, entre outros. Antes do suicídio, o paciente está em um estado de sofrimento psíquico. “O pensamento suicida não é algo raro, pois existe uma estimativa que de cada 100 pessoas, 17 irão pensar em suicídio e desses, 5 podem esquematizar um plano e apenas 1 irá procurar tratamento”, comenta.

Preconceito e tabu
O preconceito e o silêncio em relação ao tema dificultam a abordagem e a prevenção, já que ainda existe uma grande barreira em torno de se falar sobre o assunto. Segundo o médico, a dificuldade de falar sobre os pensamentos e sobre o sofrimento psiquico em si acabam isolando ainda mais o paciente. José Péricles ressalta que até mesmo simples conversa, pode ajudar muito quem está passando por esse sofrimento.

Prevenção ao suicídio
A prevenção e o tratamento ainda são uma realidade difícil por conta do preconceito que existe até mesmo em procurar ajuda. No caso de Iguatu, José Péricles desta que a cidade conta com uma das melhores estruturas para a saúde mental do estado, não apenas para pessoas com depressão.

O Setembro Amarelo
O Setembro Amarelo é um movimento mundial realizado há alguns anos e estimulado por entidades médicas e pelo IASP (Associação Internacional para Prevenção do Suicídio). Com uma ideia simples como o Outubro Rosa e o Novembro Azul, que visam, respectivamente, sensibilizar a população sobre os riscos do câncer de mama e das doenças masculinas, o Setembro Amarelo pretende iluminar grandes símbolos das principais cidades e incentivar ações que levem o amarelo e chamem a atenção da sociedade para a questão do suicídio como um problema de saúde pública que deve ter a atenção de todos e pode ser evitado.

Onde procurar ajuda em Iguatu
Centro de Atenção Psicossocial – CAPS III
Rua 27 de Novembro, 646

Secretaria de Saúde, Setor CAPS
Rua 27 de Novembro, 203
Tel.: (88) 3581 9233