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Sondas criadas por alunos do ensino médio do Ceará fornecerão dados à 1ª missão lunar brasileira

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Os laboratórios do quarto andar do colégio Ari de Sá, em Fortaleza, estiveram bastante ocupados nos últimos meses. No local, um grupo de 45 pessoas desenvolve sondas e experimentos que serão colocados em um balão aeroespacial, que voará a 30 mil metros de altitude e cujos dados servirão como base para o Garatéa, a primeira missão 100% brasileira a enviar um satélite à Lua, em 2020.

As sondas Gleiser I, II e III, sementes e os experimentos biológicos que viajarão até a estratosfera terrestre são criados por alunos do ensino fundamental e médio, de 12 a 17 anos, com apoio da escola e acompanhados por uma professora auxiliar.

“A gente está envolvido desde a construção das sondas ao teste dela, com o procedimento biológico, metodologia científica… tudo sendo testado pra que depois seja possível comparar de que forma o voo espacial alterou a fisiologia dessas sementes levadas na sonda”, explica o diretor do projeto, o estudante Luiz Serravale, de 17 anos.

O voo do balão será realizado em São Carlos-SP, por uma equipe da USP, em 24 de junho, com a presença de quatro dos 45 estudantes cearenses responsáveis pela tríade de sondas Gleiser. Outras equipes de outros estados desenvolvem materiais e pesquisas semelhantes, e todos os dados serão compartilhados com a USP. Na equipe cearense, há participantes da olimpíada nacional de química e outros que competiram nas olimpíadas internacionais de biologia e robótica.

“A equipe começou a ser formar com uma proposta da USP, que nos convidou pra participar desse programa. A gente começou a convidar os alunos para discutir um pouco com eles o que seria feito. Apareceram vários interessados, aí fizemos uma seleção, traçando perfil acadêmico, das propostas que eles tinham para o projeto e da vontade deles de se engajarem nisso”, explica Marcos Manoel, coordenador das turmas preparatórias para o ITA no Ari de Sá e responsável pela equipe.

“A equipe é dividida em três partes: a mecânica, responsável pela parte de carga; especialistas em voo e especialistas biológicos. Cada um desses três grupos, de cinco pessoas, tem especialidades de como fazer tudo dar certo”, completa Débora Cristina dos Santos, de 15 anos, responsável pelas experiências biológicas.

Apesar da pouca idade dos membros, a professora auxiliar Hortência Ribeiro, aluna do oitavo semestre de Química, conta que a dedicação dos alunos trouxe bons resultados para a equipe. “Eles são bem focados, e a dedicação deles é motivadora. É inspirador pra gente que está um pouco à frente e graças a isso o trabalho tem dado certo.”

As viagens e o material eletrônico somaram R$ 6,5 mil, que os alunos obtiveram por meio de crowdfunding, uma “vaquinha” on-line em que as pessoas que acreditam na ideia fazem doações em dinheiro. Um dos apoiadores da campanha foi o astrofísico brasileiro Marcelo Gleiser, homenageado pelos estudantes e cujo nome batiza as sondas.

“O professor Marcelo Gleiser mostrou o apoio dele nos EUA. Com isso a gente conseguiu mais do que a meta, são R$ 7.080, que já estão sendo investidos no projeto”, comemora Luiz.


Experiências e resultados
As sondas desenvolvidas no Ceará vão levar fungos e sementes aos limites da Terra para avaliar os efeitos de níveis extremos de temperatura, radiação e pressão sobre o material orgânico. A experiência faz parte de um projeto maior, que envolve USP, ITA, PUC e outras entidades envolvidas no desenvolvimento do Garatéa.

“Para o Garatéa entrar em operação, é preciso um experimento anterior. Aí entraram os alunos. Eles participam desenvolvendo essa primeira nave que vai começar a testar as condições do envio dela através de um balão e vai dar condições de a USP saber exatamente como fazer esse satélite”, explica o coordenador Marcos Manoel.

Essa primeira etapa realizada pelos alunos é batizada de Garatéa-E; e a fase final, Garatéa-L, com o “L” em referência à Lua.

Débora, a especialista em biologia do time, explica que os experimentos podem baratear o transporte de carga em viagens espaciais ou mesmo obter sementes resistentes em ambientes hostis do nosso planeta.

“As sementes que foram enviadas para estratosfera serão comparadas com as sementes que ficaram na Terra. Se alguma mudança acontecer, a gente vai relacionar isso com a radiação ou temperatura às quais elas foram submetidas. Isso vai ajudar a identificar sementes que possam ser levadas para o espaço ou mantidas em condições extremas na Terra.”

Destino: Lua 

Com o nome em tupi-guarani que significa “busca-vida”, o primeiro satélite brasileiro que tem como destino a Lua deve decolar em 2020. O projeto conta com apoio da Agência Nacional Europeia e a Agência Nacional do Reino Unido. O pequeno satélite brasileiro será lançado com outros quatro, de diferentes nacionalidades, em um foguete indiano e direcionado à Lua por uma nave-mãe inglesa. Em seguida ele entrará na órbita lunar.

Até 1º de dezembro, o internauta pode acessar o site oficial do projeto Garatéa para gravar o seu nome na memória eletrônica do satélite e enviá-lo à Lua.

De acordo com um dos organizadores do projeto do Brasil, Lucas Fonseca, engenheiro espacial, a missão deverá custar R$ 35 milhões e será uma Parceria Público-Privada (PPP).

Os valores começaram a ser levantados com órgãos de fomento à pesquisa e outros patrocinadores.

“Essa missão vem sendo planejada desde 2013 e, cerca de um mês atrás, fomos aceitos numa iniciativa europeia para embarcar uma missão brasileira numa missão conjunta de vários países para ir até a Lua”, disse Fonseca.

Foguete indiano que vai lançar a sonda brasileira em 2020, o PSLV-C11 (Foto: ISRO)

Fonte: G1/CE

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