Reportagem Especial: O lixão de Iguatu e suas peculiaridades

A Rádio Educativa Mais FM vinculou nessa semana uma série de reportagem especial sobre a situação do Lixão de Iguatu abordando seus principais problemas e trazendo depoimentos das pessoas vivem nas proximidades do local.

Instalado em 1989, o Lixão de Iguatu prejudica diretamente a população local, principalmente as que têm problemas alérgicos e respiratórios.  Localizado a 5 km da cidade no Bairro Chapadinha, Rodovia CE 282, além da fumaça tóxica, outro grave problema é a contaminação do solo e do lençol freático.

O termo mais utilizado para relatar o lixão é “O Cartão Postal de Iguatu”. Isso porque ele fica na entrada da cidade e é o primeiro obstáculo enfrentado pelos motoristas que trafegam nas estradas e rodovias em condições desagradáveis que cortam nossa cidade.

Recentemente foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Municipal que investiga irregularidades na construção do aterro sanitário. Obra essa que foi alvo de operação da Polícia Federal e Ministério Público Federal.

O principal objetivo desta comissão é apurar os possíveis desvios de verbas federais, estaduais ou municipais para a construção do tão esperado e necessário aterro. A obra foi embargada através da Operação Fumaça da PF e MPF em 2007. 

A CPI do Aterro já está na reta final e já entrevistou várias pessoas envolvidas nos processos de licitação, estudos e construção do equipamento incluindo engenheiros, donos de construtoras, representantes da PF e MPF, entre outros. 

O convênio lançado no ano de 2005 que gerou a concorrência pública para construção do aterro em 2006 estabelecia o valor licitado de um milhão, seiscentos e trinta e sete mil, duzentos e seis reais e oitenta e três centavos. Segundo a CPI, valor esse diferente do acertado com a construtora.

Em diversas ruas da cidade pode se observar nas noites de fim de semana uma névoa escura que ofusca a luminosidade das vias. Muitos moradores reclamam de irritação nasal e falta de ar. A fumaça é oriunda do lixão. O vento traz a cortina de fumaça que invade ruas, praças, avenidas e até residências. Uma das causas das queimadas pode ser a grande concentração de gás liberada pela decomposição de toneladas de lixo despejadas no local diariamente. Como não há coleta seletiva de lixo, o lixão recebe detritos orgânicos e inorgânicos.

Próximo ao Lixão pode-se perceber a presença de alguns pequenos açudes. À noite quando a fumaça chega ao seu momento mais crítico os bairros mais afetados são: Vila Cajazeiras, Vila Moura, Vila Neuma e Alto do Jucá, mas ultimamente até os bairros da sede do município são invadidos pela fumaça. Isso atrapalha e prejudica severamente os motoristas que trafegam por lá. Em alguns momentos a visibilidade na rodovia é quase zero. 

O Ministério Público Estadual enviou em 18 de agosto de 2014 uma Recomendação a Prefeitura Municipal de Iguatu e Secretaria do Meio Ambiente para que tomassem medidas preventivas sobre o funcionamento do Lixão deste município.

O documento pedia aos órgãos municipais competentes que:

-Tomem todas as providências necessárias para suspender de imediato a queima de materiais no lixão;

-Acondicione os resíduos sólidos em valas apropriadas, destinando uma especificamente para o lixo hospitalar, com correta impermeabilização do solo, realizando cobertura diariamente e compactação dos materiais depositados, no mínimo duas vezes por semana;

-Toda a área do terreno, onde atualmente funciona o lixão, deverá ser cercada com cerca de arame farpado de modo a não permitir a passagem de animais, e ainda dispor de vigilância;

-Seja determinado de imediato o controle de pessoas que acessam o local, sendo permitida somente a entrada de maiores de idade credenciados junto à Associação de Catadores que opera no município, desde que usando os equipamentos de segurança e higiene obrigatórios;

-Sejam abertas valas específicas para resíduos de saúde, com placas indicativas e cerca interna para este local, no prazo de trinta dias, impedindo a presença de quaisquer pessoas que não atuem na cobertura deste material, até mesmo dos catadores.

Dado o prazo de 15 dias para que o Poder Público Municipal informasse ao MP o acatamento da Recomendação tomando todas as medidas para o seu cumprimento, até agosto de 2015 nem todas as medidas foram acatadas.

Não bastasse o risco de doenças respiratórias e agravamento de outras enfermidades pela proximidade com o lixão. Aquele ambiente também apresenta sérios riscos ambientais pelo manuseio inadequado dos detritos despejados.

A população Iguatuense já vem percebendo alguns impactos ambientais, no entanto, outros ainda mais sérios não são vistos a olho nu, e podem demorar alguns anos para aparecer. 

Ano passado um Professor de Biologia da Universidade Estadual do Ceará Campus Iguatu visitou o lixão, fotografou o local, e levou suas considerações para sala de aula e discutiu com seus alunos.

O Sr. Célio Moura que não é Iguatuense e se mostrou surpreso com a realidade encontrada e tendo visitado outras regiões afirma que a maioria das cidades brasileiras ainda não estão se adequando ao que foi estabelecido no Plano Nacional de Resíduos Sólidos.

Além da construção do tão necessário aterro sanitário, cerca de 10% de todo lixo não é reutilizado de nenhuma forma, sendo materiais tóxicos, hospitalar entre outros. Alguns deles poderiam ser reciclados, a parte orgânica (restos de comida) pode ser aproveitada em compostagem na preparação de adubos por exemplo.

Dentre centenas de famílias que residem nas proximidades do Lixão de Iguatu, algumas tiram dali o seu sustento, outras sentem na pele os prejuízos ocasionados pela área que vem crescendo enormemente a cada ano.

A Sra. Josefa Alves foi moradora da Vila Chapadinha por mais de 20 anos, um dos motivos que a levou a sair da localidade e morar na sede do município foi o próprio lixão. A ex-moradora presenciou o crescimento e desordenamento do lixão que futuramente poderá invadir as casas do bairro, pois ao longo dos anos não foram realizadas ações que impedissem o avanço do lixo nem mesmo para a rodovia.

As primeiras vítimas da fumaça tóxica são os catadores de resíduos sólidos, que andam e manuseiam os materiais sem usar máscara ou qualquer equipamento de segurança. Além de inalar a fumaça, eles convivem com materiais que não foram devidamente descartados e com o chorume – líquido originado da decomposição do lixo.

No atual lixão alguns catadores se instalaram pequenos barracos, onde eles passam a maior parte do dia. Os catadores até participaram de um curso de capacitação no IFCE de Iguatu, em parceria com a prefeitura municipal, a aula inaugural aconteceu em setembro de 2014.

A Sra. Alderina faz parte da Associação de Catadores do lixão e disse que se fosse dado a eles as máscaras, luvas, botas e outros equipamentos, o trabalho seria mais seguro e menos sofrido. 

O projeto, denominado de “Cooperar Reciclando, Reciclar Cooperando, Formação de Catadores de Resíduos Sólidos” tinha o objetivo de capacitar os catadores que atuam no lixão de Iguatu para que eles atuem nessa atividade de forma mais lucrativa e com condições de um maior aproveitamento dos produtos recicláveis. 

Foram ministrados conteúdos nas áreas de relações humanas, direitos sociais e cidadania, saúde pública, reciclagem, cooperativismo e legislação sobre resíduos sólidos.

Passados mais de 20 anos, o Lixão continua como apresentamos, o “cartão postal da cidade”, envergonhando quem chega e quem sai de Iguatu.