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Pequenas corrupções, cola na prova, doping: por que trapaceamos mesmo sabendo que estamos errados?

Pouco antes do início da Olimpíada do Rio, um enorme escândalo tomou conta do noticiário esportivo mundial: com uma exceção, a equipe de atletismo da Rússia foi banida dos Jogos, acusada de envolvimento em um esquema de doping institucionalizado.
Mas aproveitar-se de meios poucos éticos para tirar vantagem não é um “privilégio” do mundo dos esportes. Há vários exemplos em nossas vidas pessoal, profissional e social em que a tentação de secretamente tirar partido de uma situação favorável acaba sendo irresistível.
Segundo especialistas, não se trata de algo movido apenas a ganância. Por que, então, algumas pessoas trapaceiam? Será que elas têm uma moral corrompida ou são ambiciosas demais? Ou será que a natureza competitiva de nossa sociedade acaba estimulando isso?
A ciência da trapaça
Amos Schurr, psicólogo comportamental da Universidade Ben Gurion, em Israel, tem estudado como o comportamento em grupo pode fazer com que a trapaça passe a ser algo aceitável e como ganhar uma competição pode levar um indivíduo a ser mais desonesto.
A equipe de Schurr conduziu uma série de experimentos usando quizzes, jogos de memória e dados e observou como os 23 voluntários relatavam suas vitórias.
Estes sabiam que poderiam ganhar dinheiro dependendo de alguns fatores, por exemplo do número que tirassem no dado. Os cientistas perceberam que quando as pessoas ganhavam na rodada anterior, elas tendiam a ser mais desonestas, faturando mais do que tinham direito.
Os mesmos pesquisadores agora estão investigando como a conduta antiética pode surgir depois do contato com ambientes competitivos e como certos comportamentos sociais e de grupo podem fazer as pessoas trapacearem. “Somos seres sociais – quando estamos em um grupo, seguimos as normas estabelecidas por ele”, explica Schurr.
Parceiros no crime
Segundo uma análise da Universidade de Nottingham, na Grã-Bretanha, as pessoas trapaceiam quando são incentivadas por outras a seu redor. De acordo com o estudo, a cooperação pode criar uma oportunidade ampla para um comportamento antiético.
No experimento realizado pelos britânicos, os voluntários deviam atuar juntos em um jogo de dados para ganhar dinheiro. O primeiro lançava um dado e contava o resultado para o parceiro. Se este tirasse o mesmo número, a dupla recebia um prêmio.
Não é nenhuma surpresa que os pares começaram a mentir juntos para faturar mais. Os pesquisadores descobriram ainda que o maior nível de trapaça ocorria entre duplas que dividiam igualmente o dinheiro e quando havia uma forte ligação entre os jogadores.
Os autores do estudo, Ori Weiseland e Shaul Shalvi, concluíram que a corrupção e a conduta antiética que estão na raiz de escândalos financeiros “são provavelmente movidos não só pela ganância, mas também pelas tendências do ser humano em cooperar com o próximo, principalmente se os interesses estiverem alinhados”.
Novas formas de trapaça
A maneira como as pessoas trapaceiam está mudando, e isso é um problema significativo no mundo das finanças, nas corporações e na política. Graças à tecnologia, há cada vez mais novas maneiras de pessoas comuns entrarem no jogo.
Segundo Phillip Dawson, diretor do Centro para a Pesquisa em Aprendizado Digital da Universidade Deakin, na Austrália, algumas novas fronteiras da trapaça incluem hackear exames e usar ferramentas online que manipulam textos para fazer plágios.
Fraudes também estão cada vez mais frequentes em consultorias que produzem relatórios internacionais, em organizações de mídia e em universidades.
Mas Dawson diz que também há novas maneiras de ser pego, por sites como o Turnitin, que faz checagens de plágio, por exemplo. “Não acredito que hoje estejamos trapaceando mais do que no passado. É só uma maneira diferente de fazê-lo”, afirma.
O cientista acredita que pressões como prazos apertados e um maior custo de vida fizeram muitas pessoas dependerem de outras fontes de renda além do salário regular, o que pode fazer com que mais indivíduos passem a pensar em maneiras antiéticas ou ilegais para ganhar mais dinheiro.
Da mesma maneira, a enorme pressão sobre jovens para que se saiam bem em exames pode tornar a trapaça uma opção atraente para aqueles que têm pouca vontade de estudar.
Questão de perspectiva
Mas há boas notícias para aqueles que sentem um peso na consciência e querem melhorar seu comportamento ético nos estudos ou no ambiente de trabalho.
Uma pesquisa da Harvard Business School que analisou a influência do comportamento alheio sobre a desonestidade concluiu que podemos reduzir a tentação de trapacear dependendo de como observamos cada caso.
O estudo constatou que quando um membro de um grupo age de maneira desonesta, ele acaba por fazer com que os parceiros tenham mais tendência a se comportar igualmente.
No experimento, um grupo de amigos observou um de seus colegas colando em um exame, o que levou os demais mais propensos a fazer o mesmo. Mas ao observar um estranho trapaceando, a ética e o comportamento do grupo mudaram. Ver um estranho sendo desonesto os levou a ser mais honestos no exame.
“O limite para o comportamento inaceitável não está estabelecido. Ele depende mais da perspectiva pela qual as pessoas observam os seus atos”, conclui Schurr.
Por isso, se quisermos ser mais honestos, talvez seja uma boa ideia manter os rivais desonestos por perto, para colocarmos em perspectiva o nosso próprio comportamento.
Fonte: BBC
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