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Dia-a-Dia com Maria

Dia-a-Dia com Maria: Música em decadência

[caption id="attachment_18250" align="alignleft" width="640"][/caption]O título dessa matéria certamente produz um efeito nauseante, com vistas a reportar-se tanto à podridão, como a insetos, vermes, ferimento, biscate… 

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O título dessa matéria certamente produz um efeito nauseante, com vistas a reportar-se tanto à podridão, como a insetos, vermes, ferimento, biscate… 

Certa vez um cronista de excelente humor e criatividade (até profética) apostou que a falta de empreendedorismo do brasileiro decorre das canções de ninar típicas da nossa cultura. Pois vejam, leitores, ao re-ouvir as que tal colunista citou, questionei se ele não teria mesmo uma certa razão: primeiro, dei uma sacada em “Atirei o pau no gato, mas o gato não morreu, Dona Chica, admirou-se do berro que o gato deu..”, trecho para o qual ele postara representar o descaso massacrante com os animais” (nossa fauna sendo dizimada não desmente a afirmação). 

O próximo toque foi da canção “O barco virou, não deixou de virar, porque o (…) não soube remar…”, atinei para a quebra dos milhões de Eike Batista nos dois últimos anos, sem contar com aqueles que começam um negócio e que prematuramente vão à falência. Por fim, recordo daquelas duas fileiras formadas pela meninada no meu sítio, em que uma canta, “Eu sou rica, rica, rica…” e a outra, “Eu sou pobre, pobre, pobre…”, então a ala rica vai pedindo um a um, à pobre, os filhos, já que eram muitos miseráveis, prometendo dar-lhes um ofício e, sem objeções, a fila da ralé segue a ‘brincadeira’ entregando as pobres criaturas, para serem exploradas. 

Sigo adiante e vejo que isso é fato, apesar de ter melhorado muito a consciência acerca da exploração do trabalho infanto-juvenil e a diferença cáustica entre ricos e pobres no Brasil. 

A Música, como outras manifestações de arte e usos, bem reflete os valores mais prementes da sociedade. Então vejamos, ligo o rádio e o que ouço?! Uma voz sem o menor afinamento repetindo: 

“Na madruga boladona,

sentada na esquina.

Esperando tu passar

altas horas da matina

Com o esquema todo armado,

esperando tu chegar

pra balançar o seu coreto

pra você de mim lembrar”… 

Primeira reação, não acreditar no que ouço; a segunda, pesquisar de quem é esse desatino sonoro, descubro a cantora e também o mais lastimável, vejo que é campeã em venda de discos e está na iminência de se tornar milionária. Respiro profundo e imagino as universidades lotadas, o povo jovem se instruindo, as oportunidades sendo amplamente facilitadas, penso nos nossos monstros sagrados, recomponho-me com uma gotícula de paz na alma, mudo a faixa do meu rádio, escolho uma programação de forró de que tanto gosto e escuto: 

“Cadê minha rapariga 

Onde é que ela está 

Eu não me casei com ela 

Para o cantador carregar

Rapariga, rapariga 

não me faça assim sofrer 

Eu te amo eu te adoro

não me bote pra moer…” 

Chacinada por dentro, sinceramente entristeço e decido dar a mim a última chance de tentar salvar minha manhã de ouvinte, e sintonizo:

“A muriçoca soca soca soca e pila

Acende a fumaça pra ela sair daqui

E você coça coça coça e pira

Não há repelente que faça sair daqui”

Analogia à libertinagem, aos ímpetos sexuais descortinando todos e quaisquer zelos pela essência de um ser que não pode ser arremessado aos ventos como se não fosse provido de sentimentos, além do desejo de consumir-se pelo furor dos hormônios sexuais. 

Ressalto que nada postulo contra os desejos, o desafogar de uma necessidade de se viver plenamente esse aspecto comum dos viventes normais, porém, sem que se perca a elegância de uma escolha, de um encanto, propícia aos humanos. É assim que enxergo o contexto!

Mas aí recordo que isso não é fato novo, e que no ano de 2000, estrondou na voz de Mc Serginho e Lacraia o sucesso Nacional “Égua Pocotó”. Aliás, o êxito dessa opulência de lástima alcançou provas de vestibulares do país e que numa dessas, ficou claro que o feito seria digno de tornar-se provável introdutório do Movimento Literário “Pocotoísmo”. Ora, vejam!

O jumento e o cavalinho…

eles nunca andam só.

Quando saem pra passear

levam a égua pocotó!

pocotó pocotó pocotó pocotó…

minha eguinha pocotó!

pocotó pocotó pocotó pocotó…

minha eguinha pocotó!

Eis parte da questão do certame: 

“O texto de MC Serginho, precursores do movimento literário-cultural denominado Pocotoísmo, propõe uma nova métrica e abordagem ao texto poético. Alguns críticos da época chegaram a compará-lo à “Pedra no caminho” de Drummond, um poeta de menor importância no século XX, injustiça revertida mais tarde com a identificação de sua efetiva quebra de paradigma literário. 

Compare o estilo da obra de Mc Serginho com os autores clássicos do século XX e justifique a relevância de sua obra”.

Pasmem!

Entendo ter mesmo havido uma troça intelectual ao disparate que seria comparar o feito de Drummond ao outro. Eu até diria que a distância extremada chegaria à do ouro maciço com ao flandre, em pleno estado de decomposição.

Sem querer piorar o estado de desmérito da toada funk, afirmo haver inequívoca apologia à prática se sexo grupal, em que jumento e cavalo (humanos irracionalizados) são exaltados pela força bruta e possíveis dimensões orgânicas, a usarem uma mulher, na verdade, simbolizada pela refranizada “Égua Pocotó”, sem expressões de decisão, apenas acompanhando os outros dois parceiros em passos propostos e orientados pelos machos.

Mas, então, poder-se-ia indagar-me sobre os outros, que cantam lindo a natureza, as coisas profundas do ser, com toda a elegância dos sem retirar a nobreza da arte e digo que existem e não tão raros, contudo, a cultura de maneira geral tem sido embalada com músicas desclassificadas e até doentias, sem conteúdo aproveitável, que envergonham pelo que teorizam: promiscuidade, derrocada dos valores morais, do pudor, o ser humano decaído no mundanismo desenfreado… É a isso que também chamamos de liberdade?

Sem falsos moralismos e entendendo que o mundo mudou, acho que não ganhamos nada com esse potencial acervo de lixo sonoro, visual (net, etc.), sem contar que os reflexos estão por aí, e não neguem ou se enganem os que acham que isso que falo é bizarro, careta ou ultrapassado.

 

*Mariazinha é advogada e servidora do IFCE Campus Iguatu

 

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