Dia-a-Dia com Maria

Dia-a-Dia com Maria: A última Coca-cola do deserto

Segundo Freud há dois tipos de narcisismo: primário e secundário.

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Segundo Freud há dois tipos de narcisismo: primário e secundário.

Em Psicanálise, narcisismo representa um modo particular de relação com a sexualidade e não leva apenas à patologia, ele também é um protetor positivo do psiquismo. Um narcisismo “que promove a constituição de uma imagem de si unificada, perfeita, cumprida e inteira”. 

Para Freud, o narcisismo do indivíduo surge deslocado em direção a esse ego ideal, que como o ego infantil, se acha possuidor de toda perfeição e valor, ressalte-se que o narcisismo não constitui por si só uma patologia, ele é um integrador e protetor da personalidade e do psiquismo.

Estudiosos falam que estamos vivendo em uma cultura com características crescentemente narcisistas; onde há um predomínio do uso da imagem de ação em vez da reflexão para lidar com a ansiedade e um incentivo exagerado ao consumismo e ao culto ao corpo.

Nas condutas de funcionamento narcisista, segundo pesquisas, há uma exagerada preocupação com a aparência; pequenos defeitos físicos são intensamente valorizados, apresentam uma necessidade exagerada de serem amados e admirados, buscam elogios e se sentem inferiores e infelizes quando criticados ou ignorados. Têm pouca capacidade para perceber os outros, levando a vida emocional superficial. 

Vamos à rede social onde as relações, na grande maioria dos casos, são desenvolvidas a partir de imagens para as quais você tem três sugestões: “curtir, comentar, compartilhar”.  

Nas dezenas de curtidas você sente o gosto majorado pelas poses e reincidências de mais fotos, claro que na busca do perfeccionismo para cumprirem os ditames narcisistas, a tecnologia entra dando de lavagem na realidade:  estica, limpa, encolhe, esfrega, faz chamego e torna tudo lindo demais. As pessoas são perfeitas do primeiro fiapo de cabelo ao dedão do pé, desenho que não foge à realidade material de um mundo em que todos correm, buscam superarem-se uns aos outros, tornarem-se “perfeitos” mesmo que sejam sob a ilusão da ótica, em que as amizades costumam ser tão verdadeiras quanto à maquiável sintomática das cores e poderes cada dia maiores da tecnologia utilizada na representação imagética.

E “Sissi, quem seria? A “Última Coca-Cola do deserto”, aquela mulher que não vê ninguém muito além de seu espelho que de si não desgruda. É o espelho imaginário, invisível a olhos carnais e do qual a criatura se apoderou como pendão de vida. Sissi, uma deusa divina, linda, perfeita, manhosa, ímpar, solitária, vulgar, superficial e que quando acorda para a vida com os cacos de seu ilusionista nas mãos (o espelho do se achar), cai em depressão, tem crises de espanto, porque sua vida há de conduzir-lhe ao pânico, do vazio, do indecifrável, no caos da bolha.Sissi, a musa que deu letra a uma música por sinal bem recebida pelos pagodeiros e que não mente. 

E o nome dela é Sissi, Sissi

‘Si’ sentindo, ‘si’ achando

Si adorando, si amando

Ela se acha a última Coca-cola do deserto

A bunda mais linda do pagode esperto (…)

“E o nome dela é?

E o nome dela é Sissi

Eis a realidade freudiana com os requintes de uma geração tendente à cocacolagem no deserto, quando, na verdade, um dia acordarão e sentirão que não há como sorverem a si próprios e haverá uma convulsão nesse deserto pessoal pelo que não souberam viver e escolher.

Fontes acessórias:

https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/introducao-ao-conceito-de-narcisismo 

http://letras.mus.br/alexandre-pires/1668637/

 

*Mariazinha é Servidora do IFCE Campus Iguatu e Advogada

 

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