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Cearense que monta ossadas animais tem uma das profissões mais raras do mundo

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A cada ano cerca de 80 baleias jubartes encalham nas areias do litoral do Nordeste. Parte desses animais se tornam o material do trabalho de Antônio Carlos Amâncio, que desenvolve uma das profissões mais raras do planeta: a osteomontagem, a montagem de ossos que dá forma a animais.

Muitas baleias não resistem à grande travessia na migração anual que pode chegar a 20 mil quilômetros de ida e volta, do local de alimentação – perto da Antártida – até as águas quentes do litoral nordestino, em uma viagem para o acasalamento. O mesmo ocorre com os peixes-bois marinhos que são capturados pelos humanos. Apesar de estarem ameaçados de extinção, são presas fáceis, pois se enroscam nas redes de pesca.

Quando encontrados com vida, são levados para a organização não governamental Aquasis, em Iparana, na Grande Fortaleza, onde são cuidados e em seguida são devolvidos ao mar. Os que não resistem, são estudados e, em um segundo momento, têm o esqueleto montado para exposições e estudos.

Esse trabalho de montagem é feito pelo biólogo cearense Antônio Carlos Amâncio. “Fui convidado para fazer um minicurso de montagem de um pequeno golfinho aqui no Aquasis e comecei a ver que tinha uma habilidade diferenciada para trabalhar com essa questão da osteologia, da osteomontagem”, conta.

“Eu tive que estudar bastante, mas na verdade o que eu descobri foi um dom especial ao compreender a anatomia desses animais e conseguir fazer a estruturação do esqueleto e deixar ele montado para exposição”. Para a montagem de um peixe-boi marinho, por exemplo, Amâncio gasta de três a quatro dias em um trabalho meticuloso, onde não pode haver erros.

Unindo peça por peça, Amâncio vai montando o esqueleto: cada osso tem de se encaixar à estrutura original do animal. “Para fazer essa sequência lógica é preciso olhar algumas estruturas das vértebras, a estrutura do corpo para encontrar a sequência perfeita porque senão, no final, vai dar erro”. Primeiro é formada a coluna vertebral. Depois, são montadas as costelas dos dois lados do corpo. Um peixe-boi marinho tem de 16 a 18 pares de costelas.

Trabalho admirado 

 O esqueleto é montado pela por peça, cuidadosamente, para se encaixar à estrutura original do animal (Foto: TV Verdes Mares/Divulgação)

No Aquasis há um peixe-boi marinho montado por Amâncio de forma artesanal. Através da arte do biólogo, muitos animais marinhos são reconstruídos e expostos para estudos e admiração. Na Seara da Ciência, da Universidade Federal do Ceará (UFC), o osteomontador refez a ossada de uma baleia cachalote.

“Essa baleia cachalote, de cerca de nove meses de comprimento, encalhou na praia de Mundaú, no litoral oeste do Ceará, em 2009. Em 2010 a gente recuperou esse esqueleto, enterrou ele até estar pronto para montar – demorou mais de um ano sendo preparado – e aí conseguimos montar todo o esqueleto em 2012”, conta.

No museu aquático do Rio de Janeiro, o esqueleto de uma baleia montado por Amâncio teve, nos primeiros 10 meses após a inauguração do AquaRio, a visita de mais de um milhão de pessoas. Através da arte, do dom natural de exercer profissão tão rara, se tornou possível a reconstituição das maioria dos mamíferos aquáticos do planeta.

Baleia Jubarte em exposição no Aquasis foi montada por Amâncio (Foto: TV Verdes Mares/Reprodução)

 Fonte: G1/CE

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