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Afinal o que querem os brasileiros que clamam por ditadura militar ou intervenção federal?

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(*) Por PATRÍCIA SANTIAGO

Em março de 1964 dava início uma ditadura militar no Brasil, um período que prometia ser curto, que afirmava durar um ano ou dois e que perdurou por longos 21 anos. Nesse período vergonhoso de nossa história, tivemos um Brasil oprimido, sem voto popular, sem organização política, sem parlamento, com muitas censuras. O período também foi marcado por mortes, desaparecimentos, torturas, tudo sob o comando de uma única instituição detentora de todo poder: os militares. Esse setor detinha o poder político, policial e também econômico, visto que setores mais abastados da sociedade estavam fechados com o regime.

Houve no Brasil uma verdadeira caça as bruxas, era comum equipes do exércitos adentrar centros universitários e levar de dentro das salas de aula estudantes, muitos deles desaparecidos até hoje. O parlamento foi dissolvido e os governadores dos estados eram indicados pelo membro do exército que estava sob o comando do país.

A comissão da verdade em 2014 afirmou, segundo seus levantamentos, que aproximadamente 434 pessoas consideradas desaparecidos políticos foram mortos pelo regime, além de também  mais de oito mil indígenas de diversas etnias terem sido mortas pela ditadura, por ações deliberadas que visavam extinguir os povos originários aqui no Brasil.

Mais de quarenta anos depois do fim da ditadura nos deparamos com milhares de saudosistas desse período sombrio. Pessoas que clamam por intervenção militar e ditadura, ao passo que reivindicam  liberdade de expressão; talvez essa gente não se ligou que não há liberdade de expressão em uma ditadura, pois bem, esse grupo foi ignorado por muito tempo e taxados como insanos, até que um representante deles, parlamentar eleito pelo voto popular, elogiou um torturador da ditadura dentro do parlamento brasileiro, e não, ele não saiu de lá algemado, foi ao contrário aplaudido. Anos depois esse parlamentar foi eleito presidente. Essa turma tinha enfim o seu representante com poder nas mãos e mantinham consigo a sede de repressão. Liberdade pra eles e repressão pra nós, algo como o movimento nazista, eles livres pra oprimir e matar e nós pretos, pobres, indígenas, lgbtqia+, feministas, comunistas e progressistas mortos, perseguidos, presos, torturados; talvez se tivessem sugerido a eles: “que tal uma câmara de gás pra botar toda essa ralé dentro?” Seria um momento de êxtase total.

Os saudosos da ditadura estão por todo lugar, não viramos essa página, a ditadura não ficou nas páginas que remetem a um passado vergonhoso, ela ainda é vista como um momento de glória por muitos e o mais preocupante e vergonhoso, é que seja vista assim pelas nossas forças armadas. Nosso exército, marinha, aeronáutica e forças de segurança nacional em quase sua totalidade defendem e admiram o líder fascista que elogia torturador. Não fizemos as pazes com nosso passado, por que ao contrário de nossos vizinhos da América latina que julgaram e condenaram os torturadores e assassinos de suas ditaduras, no nosso país eles morreram de velhice sem pagar por um só crime que cometeram.

O Brasil é um país que não pune seus algozes, que é programado para uma espécie de amnésia social, os momentos históricos mais vergonhosos de nosso passado recente, não passou por nenhum processo de reparação ou responsabilização de culpados. Ao fim da escravidão, as pessoas escravizadas não receberam nenhum tipo de indenização ou reparação, pelo contrário, o Estado brasileiro indenizou os antigos proprietários de escravos, ao fim da ditadura do estado novo, nenhuma morte, tortura foi julgada e punida e ao fim da ditadura empresarial militar de 1964 nada foi feito no sentido de passar a limpo aquele período, colocou-se um pano por cima e fingiu-se que a partir daquela data todo mundo era democrático. Foi a receita para o fracasso.

Hoje, vivemos o fim de um governo com características nazifacistas que cometeu muitos crimes, inclusive de mortes, com o aval dos militares, que estavam em grande número compondo o governo. Não esqueçamos que um militar estava à frente do ministério da saúde quando morriam quase 4 mil brasileiros por dia enquanto o governo negava vacina. Não esqueçamos que o general Mourão que até duas semanas atrás era vice presidente está defendendo os atos do dia 08, que a esposa do General Vilas Boa organizava as ocupações na frente dos quartéis em Brasília.

Nossas forças armadas, salvo alguns gatos pingados, não são democráticas, são saudosistas da ditadura e estão fechadas com um fascista e não se envergonham disso, e sim, eles adorariam que fosse possível dar o golpe que os colocassem novamente no poder. Mais uma vez temos a chance de punir e responsabilizar àqueles que querem ter o direito de perseguir, torturar e matar quem pensa diferente e é necessário que isso aconteça ou estaremos alimentando ainda mais a sanha golpista e fascista que corrói nossa sociedade. Após um processo de passar a limpo e virar essa página, punindo os culpados, poderemos enfim enterrar esse passado que tanto nos entristece. As palavras de ordem para este momento tão tenso é mais do que nunca: “Sem Anistia”.

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