UTI Neonatal de Iguatu: 8 anos de promessas, descaso e vidas perdidas

Iguatu, CE – Setembro de 2025 – A novela da UTI Neonatal do Hospital Regional de Iguatu completa oito anos sem funcionamento. Desde 2016, quando a estrutura foi inaugurada, o equipamento nunca atendeu um único recém-nascido. Nesse intervalo, dezenas de bebês perderam a vida por falta de assistência adequada, e até hoje não se sabe onde foram parar todos os aparelhos e utensílios adquiridos para a unidade.

Recentemente, um caso envolvendo gêmeos prematuros nascidos em Iguatu voltou a expor a falência do sistema: sem UTI Neonatal na cidade, eles precisaram ser transferidos para Fortaleza, a 400 km de distância. Sobreviveram, mas a história mostrou que nada mudou — a região Centro-Sul segue desassistida, sujeita à espera por vagas em hospitais superlotados da capital.

Linha do tempo

• 2006 (26 de janeiro) – O Hospital Regional de Iguatu inaugura um berçário de médio risco com apoio do então governador Lúcio Alcântara, do prefeito Agenor Neto e do secretário de saúde Ilo Dantas. Era anunciado como primeiro passo para, no futuro, instalar uma UTI Neonatal.
• 2015 (22 de julho) – O prefeito Aderilo Alcântara anuncia a ampliação do hospital com a construção da UTI Neonatal, Casa da Gestante e novo Centro Obstétrico. Estrutura física concluída, mas não haveria verba de custeio.
• 2016 (agosto) – A Defensoria Pública realiza vistoria e denuncia precariedades: apenas um médico atuava na neonatologia por falta de profissionais e de recursos para contratar mais neonatologistas, a Casa da Gestante estava fechada e a UTI Neonatal foi inaugurada. Como era período eleitoral, a legislação impedia novas contratações. Pouco depois, Aderilo perdeu a eleição para Ednaldo Lavor e Marcos Sobreira, que assumiram em 2017 com a responsabilidade de contratar os profissionais e ativar a UTI — o que nunca aconteceu. O secretário de Saúde era Marcelo Sobreira.
• 2017 (abril) – Em apenas quatro meses, 10 recém-nascidos morreram por falta de atendimento adequado.
• 2019 (7 de março) – O deputado estadual Agenor Neto denuncia na Assembleia Legislativa que a UTI Neonatal segue fechada e viaja a Brasília para cobrar providências. Responsabiliza a gestão de Ednaldo Lavor (PDT) pela omissão.
• 2025 (setembro) – Oito anos depois da inauguração, a UTI Neonatal permanece fechada. A população não tem respostas sobre o paradeiro dos equipamentos anunciados em 2016. Famílias seguem vivendo dramas de transferências arriscadas para Fortaleza, como no caso dos gêmeos deste ano.

A participação de cada um

• Aderilo Alcântara (2013-2016) – inaugurou a obra em ano eleitoral, sem poder garantir contratações nem funcionamento efetivo.
• Ednaldo Lavor (2017-2020) – recebeu a estrutura pronta, mas nunca ativou o serviço.
• Gestores seguintes (2021-2025) – se revezaram em discursos e promessas, mas a UTI nunca saiu do papel. Até hoje não explicaram o destino dos aparelhos comprados para a unidade.

UTI Pediátrica confirmada no HMAA

Apesar do fracasso da UTI Neonatal, uma nova frente foi confirmada: a UTI Pediátrica do Hospital e Maternidade Agenor Araújo (HMAA), fruto de convênio com o SUS, que será inaugurada em 12 de outubro de 2025. A conquista, porém, quase não saiu do papel:
A gestão atual deixou de repassar R$ 2.400.000,00 em 2025 — dos quais pagou apenas R$ 1.988.000,00.

Já a gestão de Ednaldo Lavor acumulou débito de R$ 3.600.000,00. Houve audiência de conciliação entre as partes, mas detalhes não foram informados.

O atraso colocou em risco a habilitação da UTI junto ao Ministério da Saúde e poderia ter inviabilizado a abertura. Com os pagamentos regularizados parcialmente, a inauguração foi confirmada, mas o histórico com a saúde infantil em Iguatu ainda pesa como uma ferida aberta.

Um símbolo de descaso

A UTI Neonatal de Iguatu tornou-se um “elefante branco” da saúde pública. Estrutura inaugurada, recursos anunciados, mas nenhuma utilidade prática. Enquanto políticos disputam responsabilidades, famílias continuam a enterrar seus filhos ou enfrentar peregrinação em busca de vaga em Fortaleza.

Oito anos depois, a promessa de salvar vidas segue apenas na placa da inauguração. Pior: a população de Iguatu não sabe **onde estão os equipamentos comprados com dinheiro público** nem por que a UTI nunca abriu as portas.

Em entrevista ao programa Baião de Dois, o ex-prefeito Aderilo Alcântara afirmou que deixou a UTI Neonatal pronta para ser ativada pela gestão seguinte, uma vez que não conseguiu a reeleição em 2016. Segundo ele, a estrutura física estava concluída e caberia ao novo governo municipal contratar os profissionais e garantir o custeio do serviço. A Prefeitura e os envolvidos não se pronunciaram.

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