Ceará

Violência reduz expectativa de vida de negros em dois anos

Disparidade é grande entre homens e mulheres. O sexo masculino vive 3,6 anos menos, contra 0,54 do feminino. Não-negros têm índices bem menos alarmantes. Especialistas criticam falta de acesso ao mercado de trabalho

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Disparidade é grande entre homens e mulheres. O sexo masculino vive 3,6 anos menos, contra 0,54 do feminino. Não-negros têm índices bem menos alarmantes. Especialistas criticam falta de acesso ao mercado de trabalho

.O simples fato de uma criança nascer preta ou parda no Ceará implica a ela dois anos a menos de expectativa de vida. Uma maior exposição a assassinatos, acidentes de trânsito, suicídios e outras formas de violência leva a isso. Algo ainda mais crônico se considerado apenas o universo masculino, onde a vida recua 3,6 anos (16º maior do País). Entre mulheres, a redução é de 0,54 ano (22º maior). Os dados constam na nota técnica “Vidas perdidas e o racismo no Brasil”, divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base no Censo 2010.

Cidadãos brancos, indígenas e amarelos também sofrem com as chamadas “mortes violentas”. Mas numa proporção menor. No caso dos homens não-negros, a expectativa de vida diminui 1,83 ano (metade do índice dos negros e 17º maior). No das mulheres não-negras, a queda é de 041 (21º maior).

A estatística do Ceará é pior do que a nacional no tocante aos homens negros. Mas o cenário como um todo preocupa. Por ser fruto de uma discriminação secular. “Vivemos num país marcado, sim, pelo racismo. Ser negro sempre foi desvantajoso porque significava atraso para a elite. O negro sempre foi considerado ‘chinfrim’. Isso deságua em desigualdades raciais”, diz a coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (Nuafro/Uece), Zelma Madeira.

Para ela e o mestre em história e militante do grupo Consciência Negra em Movimento, Hilário Sobrinho, é preciso assegurar o acesso da população negra ao ensino, capacitação e mercado de trabalho. A precarização (histórica e permanente) dessa tríade favorece o envolvimento em ações delituosas, nas quais negros são sujeitos e vítimas.

Algo que, atrelado a mais de meio século de negação de outros direitos básicos (saúde, lazer, moradia, saneamento etc), torna ainda mais os negros vulneráveis à violência. “Há todo um estereótipo de que todo jovem negro é um marginal em potencial. Mas não existe uma política pública de desmilitarizar a Polícia dentro da periferia, onde estão muitos negros. Lá, a Polícia só chega com violência. Sei que na periferia existe o tráfico. Mas nem todo mundo é traficante. A violência do racismo no Brasil é muito forte”, frisa Sobrinho.

Melhorias? Só a médio e longo prazo, com a injeção de mais negros capacitados no mercado, acredita o coordenador de Políticas Públicas para a promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado, Ivaldo Paixão. “Está havendo matança da juventude negra. E, na questão do trabalho, os negros ainda estão na base da pirâmide. Têm os menores salários.”

Serviço

O estudo “Vidas perdidas e o racismo no Brasil” pode ser acessado em: http://bit.ly/1bAC7Sj

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