Mundo

Trump se isola e vê sua popularidade despencar

Published

on

A retórica agressiva da lei e da ordem adotada pelo presidente Donald Trump para enfrentar os protestos antirracismo parece não ter colado entre os americanos, que a cada dia engrossam as gigantescas manifestações pacíficas por cem cidades dos EUA. Trump está mais isolado e tem apenas cinco meses para angariar apoio e recuperar o terreno perdido.

Ao ameaçar mandar tropas para conter os protestos à revelia de governadores, ele se descolou de uma parcela de partidários republicanos. Distanciou-se também de seu secretário de Defesa, Mark Esper, que claramente se opôs ao envio de 200 soldados para controlar as ruas da capital Washington.

Ao sair da Casa Branca para posar com um exemplar da Bíblia em frente a uma igreja incendiada, depois que a polícia dispersou violentamente manifestantes que ocupavam a área, foi condenado por lideranças religiosas.

Sua popularidade despenca –70% dos americanos estão ao lado dos manifestantes. Uma pesquisa divulgada pela CBS News apontou que somente 32% dos americanos aprovam a resposta do presidente aos protestos; metade dos entrevistados acha que ele lida mal com mais essa crise. Seu adversário na disputa presidencial, o ex-vice-presidente Joe Biden, ampliou para oito pontos a vantagem sobre Trump, de acordo com o Real Clear Politics, que compila a média das pesquisas.

O estilo presidencial justifica o mau desempenho. Após a morte brutal do George Floyd pela ação de um policial em Minneapolis, ele se escondeu do público. Reagiu aos protestos em larga escala pelas redes sociais, com o habitual tom incendiário contra manifestantes e governadores.

Reforçou o discurso divisivo, que tanto marca a sua Presidência, associando manifestantes, extrema esquerda, distúrbios e terrorismo. O discurso da desordem era endereçado à sua base, mas lá ficou.

O presidente iniciou o quarto ano do mandato com a certeza de que sustentaria a campanha eleitoral na economia exitosa. Colidiu de frente com a pandemia do novo coronavírus, que expôs deficiências no sistema de saúde dos EUA, agravadas em seu governo.

O combate à doença, que confinou 97% dos americanos em casa, se deu pelo confronto — com ciência, governadores e Organização Mundial da Saúde. Mais de cem mil mortos, uma economia dizimada pelo desemprego e o país agora tomado por multidões de descontentes esvaziam as pretensões de Trump a manter-se na Casa Branca por mais quatro anos.

No exterior, o desgaste é evidente. Tradicionais aliados europeus encaram o presidente americano com desprezo. A chanceler alemã, Angela Merkel, pulou fora do encontro do G-7 nos EUA, quando ele insistiu em convidar o presidente da Rússia, Vladimir Putin para encontro. A reunião acabou adiada para setembro. Os americanos agora veem autocracias como China e Irã zombarem da retórica repressora de seu presidente.

Como resumiu o respeitado general aposentado James Mattis, seu ex-secretário de Defesa, os EUA testemunham as consequências de três anos sem liderança: “Donald Trump é o primeiro presidente da minha vida que não tenta unir o povo americano — nem finge tentar. Em vez disso, ele tenta nos dividir.”

Nos últimos dias, os apelos pela reconciliação doméstica vieram de ex-presidentes — George W. Bush, Jimmy Carter e Barack Obama. Primeiro presidente negro dos EUA, o antecessor de Trump enxerga nos protestos desencadeados após a morte de George Floyd sinais de mudança como a diversidade e a união em torno da justiça racial. O atual ocupante da Casa Branca parece aderir ao isolamento social, ao traçar o mesmo cenário como sombrio, inseguro e fomentado por baderneiros.

Fonte: G1

EM ALTA

Sair da versão mobile