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Separados por risco do coronavírus, mães mantém contato com bebês na UTI por videochamadas

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A dona de casa Vanessa Moreira, 30 anos, ia visitar a pequena Layla Vitória, dois meses, todos os dias desde que a filha foi levada para a UTI, por complicações de malformação. Ontem (15), completa um mês que não vê a pequena. A separação foi determinada para evitar riscos de contaminação de coronavírus na unidade hospitalar. “É difícil porque eu passava o dia todo lá e eu não posso mais estar com ela nos momentos que precisa”. O que diminui a saudade é que agora elas se reencontram através de telas de celulares através de videochamadas. “Só de vê-la no vídeo meu coração já acalmou um pouco”, emociona-se.

Além de Vanessa, outras mães que visitavam com frequência os filhos internados na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC) tiveram que adotar o distanciamento social para evitar o risco de contaminação. Na tentativa de aliviar a falta de contato entre a família e os recém-nascidos, a Unidade de Atenção Psicossocial, do complexo hospitalar da Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolveu o projeto de visita virtual, por meio de videochamadas, durante pandemia do novo coronavírus.

Após a interrupção das visitas no último dia 17 de março, foram inicialmente permitido telefonemas diários e, mais recentemente, o recurso da imagem foi implementado. Conforme a coordenadora do projeto, Socorro Leonácio, a ideia foi inspirada nos encontros entre familiares e pacientes internados com Covid-19 em outros países. Na maternidade, são até dez chamadas por dia, sempre no turno da tarde, sendo responsabilidade da equipe de psicólogas e assistentes sociais da neonatologia.

Meiriane de Sousa, 27 anos, foi a primeira contemplada pelo projeto, já tendo recebido duas chamadas desde o início do mês. A agrônoma, moradora da cidade de Acarape, a quase 70 Km de Fortaleza, seguia visitando a sua filha, Mariana, de três meses, quase todos os dias quando as visitas foram interrompidas. “A gente ficou triste, mas estamos ligando diariamente para saber informação”, afirma. A primogênita nasceu de 25 semanas em estado grave devido à prematuridade e depende de respiradores.

“É o primeiro filho, ficar longe é bem pesado. Então, fiquei muito feliz e nervosa com a chamada, porque fazia uns dias que eu não tinha visto ela. Foi muito bom. Por mais que seja um bebê e que não tenha o entendimento de estar olhando para a gente, acho que reconhece a voz da mãe”, compartilha Meiriane.

Cuidados

Para Bruna Nayara, 32 anos, mãe da Manuela, o atendimento na maternidade ajudou a lidar com a saudade. Sua filha, de 3 meses, recebeu alta na última quinta-feira (9), mas durante todos os dias em que não pôde fazer a visita, recebia fotos e atualizações da equipe médica. Ao todo, conseguiu fazer quatro chamadas de vídeo. “Apesar de ser um hospital cheio, por ser de referência, o atendimento que eu tive da maternidade, nesses 90 dias, foi excepcional. Elas já fazem o que podem e diante da pandemia conseguiram fazer mais ainda”, comenta.

Vanessa Moreira segue aguardando a melhora da filha, mas se sente menos preocupada porque vê amor e carinho no tratamento. “Eu sei que está sendo bem cuidada, as enfermeiras tratam ela (Layla) como se fosse filha”. Meiriane da Sousa, também, elogia o atendimento. “A equipe médica é maravilhosa, o pessoal da limpeza, as médicas, enfermeiras e técnicas. A gente fica mais despreocupada por causa da equipe, que não tem palavras para descrever”, afirma.

Para a coordenadora do projeto, o encontro virtual já faz parte da rotina da equipe. “Os benefícios são visualizados no momento da vídeo chamada. Podemos ver o sorrisos de quem está do outro lado, a emoção dos pais e o envolvimento da equipe. A pandemia tem causado um carga emocional muito intensa e buscamos aliviar este distanciamento através da tecnologia. É uma forma de manter o vínculo, acionar a ‘microbiota do amor’”, finaliza.

Fonte: Diário do Nordeste

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