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Seca nos Inhamuns castiga população local

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Um cenário cinzento dos galhos tortuosos da caatinga sob o sol escaldante do sertão, animais emagrecidos com as costelas à mostra, carcaças de animais vistas com muita frequência, servindo de alimento aos urubus, o solo de açudes secos rachados ou com apenas uma pequena poça de água lamacenta, agricultores com olhos tristes olhando os céus e clamando por chuva.

Alguns roçados de solo escurecido por causa das queimadas a espera doe um inverno para se revestir da plantação de milho e feijão. É o retrato da região dos Inhamuns, considerada uma das regiões mais secas do Estado do Ceará. Na maioria dos municípios, muitos animais já morreram devido à falta de água e pastagens, proprietários se submeteram a vender seus rebanhos a preço de banana, e a população sofrendo com o excesso de calor e a dificuldade de conseguir água potável, submetidos ao precário abastecimento com carros pipas por causa da falta de água nos seus reservatórios. Esse é o drama dos sertanejos, que ainda sofrem com as previsões de um ano seguinte de seca e só tem a fé a lhe acalmar o coração.

Manoel Araújo, presidente da Federação das Associações Comunitárias do município de Aiuaba, afirmou nunca ter visto em toda a sua vida como agricultor, uma seca tão grande quanto essa. Relata que na zona rural a situação é ainda mais grave, porque a grande maioria dos reservatórios está completamente seca, principalmente no distrito de Bom Nome, que fica na divisa com o Estado do Piaui. Lá, de acordo com Manoel, a população está tendo que comprar água para sobreviver, e o cenário em volta é de angústia e desespero. A pouca água que chega à comunidade é através da operação carro pipa, oriunda do açude Benguê, distante 70 km do distrito.

O açude Benguê é ainda o único reservatório que dispõe de água para atender a demanda populacional do município, embora com sua capacidade e qualidade da água muito comprometida. “Nossa estimativa é que, aproximadamente seis mil pessoas estejam passando sede no município de Aiuaba. Uma das alternativas são os agricultores cavarem cacimbas ou pequenos barreiros, buscando na Prefeitura Municipal o auxílio das máquinas do PAC, que nem sempre está disponível por causa da grande demanda, e assim às vezes o esforço é em vão, porque se cava o solo e muitas vezes não se encontra água”, afirmou o presidente da federação. De acordo com ele, além do Distrito Bom Nome, as comunidades Assentamento da Lindreza e Barra Verde estão também muito afetadas pela seca, apesar do número de carros-pipas que estão fazendo o trabalho de distribuição de água.

Água tratada
Francisco Jailton de Castro Feitosa, secretário de Finanças do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aiuaba, considera alarmante a situação no município, pois nem mesmo acesso à água tratada a população da cidade de Aiuaba tem. Isso, complementa o sindicalista, tem acarretado outros problemas de saúde pública, como o aumento dos casos de diarreia, e problemas estomacais entre outros, que tem gerado um acréscimo significativo nos atendimentos ambulatoriais e hospitalares no município, há mais de 56 anos que a tubulação da cidade nunca foi modificada, e como isso nunca ocorreu tudo isso é reflexo desses problemas, e quem está sendo afetado somos nós que residimos aqui na sede do município, pontua ele.

A presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Arneiroz, Francisca Francenilda Feitosa, disse que um dos mais emblemáticos problemas que os trabalhadores rurais do município enfrentam hoje, está sendo a seca, que acarreta a morte de animais. A água distribuída pelos carros-pipas não é suficiente nem para o consumo humano e as atividades domésticas, quanto mais para o consumo animal. De acordo com ela, os locais em maior dificuldade são os sítios Condador, Novo Horizonte e Agro Vila, e em Arneiroz cerca de 60% dos agricultores estão dependendo exclusivamente da operação carro-pipa.

Arneiroz
O prefeito de Arneiroz, Monteiro Filho, disse que o município está vivendo um momento crítico com a seca. “Esperamos que o Governo do Estado e o Governo Federal, sejam solidários com as pessoas que residem na zona rural da região dos Inhamuns, e no caso específico de Arneiroz, venha a nos ajudar com a perfuração de poços artesianos”. De acordo com o gestor, para suprir a demanda de necessidades de água, seriam necessárias a perfuração em torno de 30 poços profundos, onde a maior preocupação além de matar a sede do trabalhador rural, é assegurar água para os rebanhos, porque os animais já começam a morrer por não ter água para beberem.

Monteiro Filho destaca que o Rio Jaguaribe, que corta o município, após a construção do açude Arneiroz II foi perenizado e há locais que inviabilizam até para se cavar uma cacimba, pois o seu lençol freático não dar na água. “Estamos com seis a sete anos com a operação carro pipa em Arneiroz, mesmo assim não está resolvendo esse angustiante problema. Se não chover daqui para o próximo ano, nós iremos entrar em colapso no sistema de abastecimento d’água, mesmo porque o açude Arneiroz II, que é responsável pelo abastecimento de água no município, está com menos de 6% de sua capacidade. O Governo Municipal está gastando mensalmente algo em torno de 100 mil reais com aluguel de outros carros-pipas, ampliando para dez o número de veículos transportando água, e mesmo assim, é ainda insuficiente”, declarou o prefeito.

Catarina
Em Catarina, a situação se repete. O Secretário de Agricultura do Município, Francisco Elkison Soares, disse que a maior preocupação é com um quadro de desolação na zona rural, e que a Prefeitura municipal está investindo na contratação de mais carros-pipas, e na cavação de cacimbas com retroescavadeiras, mas que também não está sendo suficiente, porque a demanda é grande, e a maior parte dos reservatórios já secou. “O semblante de tristeza do homem do campo é comovente.

Os agricultores chegam a encher os olhos de água ao falar da seca castigante, da morte dos animais, e no caso específico de Catarina, não estamos recebendo nenhum apoio do Governo do Estado. Acho que já é hora do Governo esquecer quem foi aliado político ou não nas eleições, e cumprir o seu papel, olhando para todas as pessoas e municípios vitimados com a seca de modo igual”, disse ele. Elkison afirmou que hoje, no município, nas localidades Figueiredo, São Gonçalo, Manto, além de outras regiões, mediante um levantamento estatístico de cada uma dessas comunidades, realizado pela Secretaria de Agricultura, praticamente 50% de toda a zona rural do município está passando sede, e a água distribuída pelos carros pipas, só minimiza a sede dos trabalhadores rurais, pois são distribuídos apenas vinte litros por pessoa.

Fonte: Miséria

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