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Saúde e neurofarmacologia: Carta à minha saúde

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Carta à minha saúde

Luiz Paulo da Penha Ferino                                                                                                          Neurofarmacêutico

Iguatu, 21 de outubro de 2016

Olá, Corpo, Mente, Alma, estão todos bem?
Há quanto tempo não temos uma conversa a quatro, não é? Não falamos mais sobre metabolismo, reações químicas, espiritualidade, excessos, atividades, potencial de ação, medicamentos, interações, relações, sensações. Parece-me que estamos em dimensões completamente diferentes mesmo sabendo que precisamos estar cada dia mais juntos – eu diria, conectados, pra ser mais preciso – pro nosso relacionamento, nossa amizade não se perder no caminho. Tantos amigos se desencontram, tantos amores à deriva, mas nós precisamos permanecer juntos. Vamos resolver logo esse dilema?

Porque não nos encontramos diariamente? Se não der, pelo menos semanalmente. Por favor, topem, sejamos como nós éramos nos nossos tempos de criança. Tantos elementos nos uniam, tantos lugares nos faziam muito bem, éramos muito grudados e felizes como se não houvesse outro dia pra viver.

Vocês lembram aquele tempo que vocês sentiam sede e eu que bebia água praticamente o dia inteiro pra pensar em vocês, melhorando nossa convivência, trabalhando nossos grupos de escola, a gente pensava tanto que não tínhamos tempo para outra coisa.

E quando sentávamos na calçada – ou quando a gente saia escondido para o parque – cada um levando uma coisa para compartilharmos. A Alma adorava iniciar nossos momentos com uma oração, às vezes com uma meditação, parece que a gente estava em outro mundo. E a Mente querendo nos desafiar levava sempre brincadeiras, livros de palavras-cruzada, testes de raciocínio, até estimulava nosso humor com tanta piada que nos contava. E como esquecer as delícias que o Corpo levava, maçã, leite, pães, queijos, iogurtes – parece que estou sentindo o cheiro daquela cesta aqui – era uma alegria só. Esse tempo foi o momento em que me senti mais forte porque eu agregava ao meu dia os ensinamentos de cada um.

Hoje não é mais assim. Ficamos mais velhos, né? O tempo vai passando e a cultura do “a gente marca de se ver” nos distancia tanto que cada um mesmo morando tão perto não tem mais tempo para o outro. Mas nunca é tarde, né, amigos? Vamos nos ver logo! Pode ser na minha casa. Vai ser um enorme prazer reencontrar vocês. E a gente vai relembrando cada detalhe, cada projeto, cada função, cada sonho que tínhamos e fortalecendo um ao outro para irmos realizando e prosseguindo nossa vida. Lembram que nós sempre falamos em longevidade? Ela existe mesmo?

Tanto assunto que a gente nem sabia que existia e temos que colocar todos eles em dia: hipertensão, diabetes, depressão, AVC, sexualidade, medicamentos, estresse, hormônios, gravidez, câncer, tecnologias, mídias sociais, transplante; afinal, eu também preciso da opinião de vocês porque crescemos e precisamos entender o que se passa nos dias de hoje? Será que os outros grupos da nossa época ainda se encontram nos parques? Sentam na calçada? Elas se conectam pelas válvulas cardíacas ou apenas pelos cabos de fibras óticas? Elas tocam na alma do outro ou só no teclado dos telefones?

Conto com vocês. Vamos preparar momentos leves, doces e de muito conteúdo para mergulharmos ainda mais na intimidade de cada um. Não se esqueçam de trazer as novidades de vocês. Afinal, agora eu tenho um tempo reservado para vocês.

Até logo, amigos,
“SEU” organismo

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