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Qualidade do ar: a chance que virou fumaça

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Um laboratório a céu aberto sobre como seriam cidades sem congestionamentos: o que era impensável há até pouco tempo, mostrou-se real durante a pandemia. Com a imposição do isolamento ao coronavírus, o mundo pôde experimentar uma rotina que deixou claro que, sim, é possível -e necessário- fazer diferente. Mas o que poderia ficar de legado com os aprendizados do período no Brasil, virou uma chance desperdiçada. A retomada das atividades indica os mesmos hábitos de antes, com ainda mais uso do transporte individual.

Logo nos primeiros meses da pandemia, diferentes capitais brasileiras mostraram uma redução significativa sobre a emissão de gases poluentes atribuídos ao transporte. Indicadores da melhora da qualidade do ar também foram associados à mesma causa. Os meses em que a diminuição se mostrou mais intensa foram março e abril de 2020, quando o isolamento foi mais rígido. A percepção foi confirmada em São Paulo, Curitiba e Minas Gerais. Mesmo levando em consideração as condições meteorológicas do período, a conclusão é idêntica: houve menos emissões, o que significa mais saúde e qualidade ambiental.

Na região metropolitana da capital paulista, onde veículos leves -como carros e motocicletas- são a maior fonte de emissão de partículas à atmosfera, a concentração do monóxido de carbono, geralmente emitida por esses veículos, foi inferior em praticamente todos os meses, se comparado a 2019. Monitoramento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) coloca abril de 2020 como o mês de mais baixa redução. Além de menos veículos na rua, a falta de congestionamentos fez com que os carros, ônibus e motocicletas, que estavam em circulação à época, poluíssem menos.

“No isolamento social houve uma redução dos poluentes que são emitidos basicamente pelos veículos. Então, o monóxido de carbono, que é o CO2, e os óxidos de nitrogênio tiveram uma redução mais sensível porque, em alguns períodos, realmente, a circulação foi muito menor”, explica Patrícia Iglesias, diretora-presidente da Cetesb.

Com monitoramento realizado diariamente em quatro áreas próximas a vias de tráfego intenso de São Paulo, a companhia também detectou uma emissão menor de gases provenientes dos veículos de transporte de carga. Tanto em locais onde normalmente há mais circulação quanto em áreas mais afastadas. Mas os níveis de monitoramento voltaram a subir com a retomada da circulação, a partir de maio deste ano.

O impacto do transporte é também a principal aposta em análises da qualidade do ar. Em Minas Gerais, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fenam) atribuiu a melhora percebida no início da pandemia à suspensão de atividades. Entre março e abril de 2020, uma estação de monitoramento em Belo Horizonte identificou redução de 45% na concentração de partículas respiráveis em comparação ao mesmo período de 2019.

“Foram verificadas reduções consideráveis no chamado material particulado, conjunto de poluentes constituído de poeira, fumaça e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém em suspensão por conta do pequeno tamanho, e também do dióxido de enxofre, que resulta da queima de combustíveis que contém enxofre, como óleo diesel, óleo combustível industrial e gasolina”, diz comunicado enviado à reportagem do SBT News pela fundação.

O mesmo período em abril de 2020 é destaque nas análises do Instituto Água e Terra do Paraná. A redução foi significativa. Principalmente em zonas de maior circulação, como a metropolitana de Curitiba. “A região que tem mais movimento de veículos foi onde a gente percebeu a maior queda. Porque, realmente, na primeira semana a circulação de veículos foi parada. E em todas as cidades onde a pandemia foi avançando, houve decretos municipais de restrição, tanto no transporte coletivo, quanto no de pessoas em veículos. A gente viu que a queda foi considerável”, declara João Carlos Oliveira, técnico em meio ambiente e qualidade do ar do instituto.

A engenheira civil Patrícia Boson, que tem mais 30 anos de experiência em planejamento e gestão ambiental na área de transportes, lamenta a oportunidade perdida, mas mostra otimismo na troca do transporte individual pelo coletivo. “Está claro que quanto menos carros nas ruas maior a qualidade do ar.” Os desafios, entretanto, não são pequenos. “Para as pessoas abandonarem o transporte individual, é necessário melhor a qualidade do transporte coletivo, deixando a cidade mais humana”, diz Patrícia Boson, que é consultora da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Uma cidade mais humana significa uma cidade com pessoas nas ruas. “E aí entram as ciclovias e os próprios investimentos em espaços públicos”.

Cidades sem trânsito

A menor circulação de veículos permitiu experimentar o que seria uma cidade sem congestionamentos, o que também tem grande interferência sobre as emissões. O Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) acompanha o fluxo de transportes públicos em São Paulo e constatou que na pandemia, só ônibus reduziram em até 15% a produção de poluentes e gases de efeito estufa, mesmo sem saírem das ruas. “Foi como se todos eles circulassem em vias exclusivas, com os motores dos veículos operando em boas condições, sem o exigente anda-e-pára”, explica o coordenador de projetos do instituto, David Tsai.

Tsai também destaca como o meio ambiente responde de forma rápida às mudanças nas atividades, principalmente no que diz respeito ao transporte: “Fica evidente que se alterarmos os padrões de deslocamento na cidade, teremos imediatamente um lar mais livre de partículas danosas”. Para tanto, relembra a importância em se seguir a priorização da Política Nacional de Mobilidade Urbana, que define uma ordem entre os modos de transportes em cidades. Iniciando na caminhada e bicicleta para o transporte coletivo, urbano, de cargas e automóvel particular, respectivamente. “É coerente com a forma mais eficiente das pessoas se deslocarem, consumindo menos energia, e, portanto, gerando menos poluentes.”

Como alternativa, o instituto indica o uso de veículos elétricos e os movidos a hidrogênio como forma de zerar as emissões em cidades. Além da aposta no transporte coletivo para pôr fim aos congestionamentos e possibilitar uma locomoção mais efetiva pelas limitações de espaços viários. “Não é possível que todos usem automóveis ao mesmo tempo, pois eles ocupam muito espaço por pessoa.”

A necessidade em se planejar outras alternativas em transporte para maior qualidade de vida e preservação do meio ambiente também são necessidades apontadas por Augusto Brasil, professor do programa de pós-graduação em Transportes da Universidade de Brasília (UnB). O pesquisador destaca a influência cada vez maior dos impactos de veículos, principalmente em grandes capitais. “Como a mobilidade é muito intensa, a poluição do ar é muito influenciada pelas emissões veiculares”, diz.

O professor Brasil considera que um dos maiores aprendizados deixados pelo período de isolamento é o de que a mobilidade pode ser reduzida. “Não precisamos circular tanto. Algum nível de atividade podemos retirar das ruas, e temos aprendido isso tanto no sistema de ensino, quanto no trabalho.” Uma das alternativas, segundo o pesquisador, seria a adoção de estratégias em rodízio de veículos individuais. Além do incentivo à mobilidade ativa, como uso de bicicletas, patinetes ou skates e o deslocamento a pé, com incentivos ao transporte público.

“No pós-pandemia, acho que temos que tirar algumas lições do transporte público: ele precisa se adaptar com mais qualidade nesse caminho ambiental e de mais segurança à saúde da população. Saúde por causa do vírus, mas saúde também pelos poluentes atmosféricos”, diz o professor da UnB.

Bicicleta como aposta

O transporte em bicicletas ganhou destaque no período de isolamento e pode ser uma aposta para após a pandemia. Seja por ser um transporte que permite cuidados frente à covid, pela locomoção ao ar livre, sem grandes proximidades a outras pessoas, seja pela possibilidade de atividades físicas que permitem mais cuidado com a saúde. A pandemia, inclusive, estimulou positivamente o comércio de bicicletas. Dados da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) apontaram um aumento médio de 50% nas vendas em 2020 em comparação ao ano de 2019. O mês de julho foi o que apresentou o maior impacto: crescimento de 118% em relação ao ano anterior.

“É um modo de transporte de zero emissões, não polui o ar, não contribui com as mudanças climáticas, além de ser uma importante aliada contra o sedentarismo e para que os espaços sejam mais humanizados”, pondera o pesquisador do Iema. “Algumas cidades no mundo também perceberam isso e estão investindo acertadamente em sistemas cicloviários que garantam que os cidadãos possam se deslocar com segurança e conforto”, completa.

O brasiliense Marcelo Carvalho Castanho, 28 anos, foi uma das pessoas que optou migrar para o uso da bicicleta durante a pandemia. No caso dele, foi quando optou a dar as primeiras pedaladas. “A bicicleta foi a solução perfeita para a prática de exercícios físicos. Eu precisava sair um pouco do ambiente que estava 24h por dia. Andei uma vez na minha vida e tive que reaprender agora”, conta o publicitário.

Entusiasta do tipo de transporte, o designer gráfico Rafael Araújo, 30 anos, utiliza a bicicleta como principal forma de locomoção. Diariamente, ele percorre 14km de distância entre casa e trabalho. Um hábito que começou como transporte alternativo há sete anos. Segundo ele, a pandemia deixou ainda mais forte o principal medo dos ciclistas: a irresponsabilidade de motoristas no trânsito.

“No início da crise, eu tive muito medo de montar em uma bike. No caminho para o trabalho, eu poderia sofrer algum acidente e para no hospital, com alto risco de infecção pelo novo coronavírus”, diz.

Segundo o designer brasiliense, o caráter atípico da situação exigiu flexibilidade. Com adaptação no percurso e negociação de horários, Rafael voltou às pedaladas: Principalmente nesse momento da pandemia, acho que não é ter uma uma opção maravilhosa”.

Fonte: SBT Jornalismo

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