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Professora no Ceará recebe homenagem de alunos após denunciar transfobia

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Na Escola de Ensino Médio Padre Coriolano, em Pacajus, um corredor humano cercado de estudantes foi formado para receber a professora Jhosy Gadêlha, na última quarta-feira, 8. Entre palmas e trocas de afetos, os estudantes prestaram apoio à educadora, que denunciou ter sofrido transfobia em um loja de roupas na cidade.

Jhosy é mulher trans e professora na rede estadual de educação do Ceará. Na última segunda-feira, 6, ela resolveu compartilhar um vídeo no Instagram denunciando o caso de discriminação: “A todo momento ela [vendedora da loja] me tratando com pronomes masculinos. Até que cheguei para ela e pedi, com muita educação, que ela parasse com isso porque estava me ofendendo”.

“Ela olhou na minha cara e disse que não ia me tratar por mulher porque eu não sou mulher, porque minha voz não é feminina, se por acaso eu fiz cirurgia de mudança de sexo. Ela se valia a todo momento da religião evangélica dela para me atacar. Ela disse que pessoas como eu vão para o inferno”, contou a professora.

Segundo a professora,  o vídeo foi feito como uma forma de se posicionar diante do preconceito: “Depois do ocorrido, eu cheguei em casa tão mal. Eu resolvi ligar para uma amiga e contar tudo o que tinha acontecido. Eu estava muito abalada, não conseguia fazer nada naquele momento. Minha amiga me disse para não me calar, pois essa não era eu”.

Transfobia em loja de roupas

Jhosy conta que tudo começou quando procurava saias mais longas para usar na escola, e uma amiga evangélica indicou a loja Jacira Modas, em Pacajus. “Quando eu cheguei, eu fui bem tratada pela funcionária que estava no local. Algum tempo depois, a dona da loja chegou, pediu para a atendente que fosse comprar um café para elas. Ficamos eu a Jacira no local. Eu sou muito comunicativa, então nós começamos a conversar sobre as roupas”, relata.

O assunto começou a fluir, e a professora afirma que Jacira começou a tratá-la usando o pronome masculino e falar de religião. Jhosy já frequentou igrejas evangélicas, mas disse ter parado de ir ao local por causa do preconceito. “A dona do estabelecimento ficava me questionando o motivo de eu ter parado de ir para a igreja e dizia que Deus não aceita pessoas como eu.”

“Chegou um momento em que eu comecei a pedir para ela me tratar no feminino, mas ela se recusou. Ela dizia: ‘Meu Deus não aceita você assim’. Naquele momento, eu não elevei meu tom de voz, não usei palavras ofensivas, só tentava conscientizar ela o tempo todo. Eu sou professora, eu sempre respeitei todo mundo. Eu me sentia culpada por causa daquela situação. Eu fiquei pensando: como você precisa pedir respeito a uma pessoa?”

Posicionamento da proprietária da loja

Ao O POVO, a proprietária do estabelecimento, Jacira Oliveira, conta que não imaginava que o caso iria gerar repercussão. Jacira nega as acusações, mas confirma ter errado o pronome da professora: “Eu tenho clientes homossexuais, e eu os trato como filhos. Em um momento, eu chamei essa pessoa pelo pronome masculino, eu não sabia o que era transfobia, eu não acompanho jornal nem mídia social”.

“Ela procurou minha loja, sabendo que eu sou evangélica. De maneira nenhuma eu vou aceitar essas coisas, mas também eu não tenho preconceito. No momento, eu estou sem estrutura para comentar o assunto, pois estou me recuperando de uma doença e tomando calmante para lidar com a situação”, explica Jacira.

Para Jacira, Jhosy usou a loja para tentar “ganhar fama e aparecer”. “A pessoa queria fazer mídia e aparecer. Todo mundo diz que ela só quis aparecer para criar nome, estragando minha reputação, para futuramente se candidatar como vereadora e até prefeita”, disse em alusão a um diálogo de Jhosy durante uma live, na qual ela afirmou ter vontade de se candidatar a um cargo eleitoral.

Jacira também informou que foi encaminhou o vídeo do atendimento para a Delegacia. “Eu também queria avisar para as pessoas que me difamam, os seguidores da pessoas que me caluniaram, que intolerância religiosa ou qualquer outra coisa é crime.”

A professora foi questionada sobre o comentário de Jacira a respeito da possível candidatura e de usar o caso para se promover. “Eu nunca vi essa mulher antes. É impossível eu ter premeditado algo. Lá era referência de roupas evangélicas, por isso eu fui lá. Eu precisava de uma saia para ir para a escola”, disse Jhosy.

Fonte: O Povo

https://open.spotify.com/episode/3htQVrKcbfQrwzKOggsNTq

 

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