Iguatu
Coluna Semanal: Prevenção e Riscos

Correr riscos, lato sensu, é inerente à condição humana. Embora evidente, é necessário observar tal peculiaridade, pois o ‘óbvio ululante’ deve ser dito.
Ulrich Beck entende a sociedade contemporânea como de riscos potencializados pela vontade ou atuação do homem, prescindindo dos perigos da natureza. Entretanto, toda sociedade é de risco na medida em que a condição humana se torna ameaçada pelas decisões do próprio homem.
Proteger-se contra os riscos é instintivo e, quando a prevenção falha, devemos estar preparados para o fardo que nos será imposto durante a recuperação das consequências não evitadas.
No Brasil, a mudança de paradigma prevencionista ocorreu somente depois que, nas décadas de 1970 e 1980, do Século passado, houve grandes incêndios em edificações verticais: Andraus (31 pavimentos – 1972), Joelma (25 andares – 1974), edifício Andorinha (RJ – 1986)… Até o referido período, eram exigidos somente sistemas de extintores e hidrantes e, ainda assim, tais medidas não eram adotadas em todos os estados da Federação. Infelizmente, o despertar veio com a tragédia e a catástrofe – pela dor.
Atualmente, existem legislações mais complexas e exigentes que se tornam inócuas sem que exista o devido treinamento humano para a utilização dos sistemas preventivos disponíveis. Não adianta criarmos suntuosos aparatos sem treinar o homem.
O acidente não tem existência própria, ocorrendo por erro humano (ato inseguro) ou falha de equipamento (condição insegura) em mais de 98% dos casos. Excetuando-se as catástrofes naturais, quando a natureza se ‘revolta’ contra seu maior agressor, está na ação antrópica a causa dos sinistros.
Portanto, nosso maior propósito é, entendendo os riscos da vida humana, trabalharmos preventivamente junto aos cidadãos para, coletivamente, mitigar esses riscos. E, na impossibilidade de evitá-los, que estejamos preparados para o enfrentamento.
Nijair Araújo Pinto – Maj QOBM
Comandante da Seção de Bombeiros de Iguatu-CE