Política

Mudança de discurso da oposição sobre combate à pandemia coloca prefeitos em saia-justa no Ceará

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As estratégias políticas do grupo de oposição ao Governo do Estado no contexto da pandemia de Covid-19 podem gerar situações pouco confortáveis para prefeitos cearenses ligados ao bloco. Embora costumem ter poucas divergências no campo ideológico, gestores municipais acabam expostos à análise de indicadores objetivos e a eventuais críticas relacionadas às mudanças de posicionamento de alguns discursos.

Na avaliação de cientistas políticos entrevistados pelo Diário do Nordeste, temas como vacinação, tratamento precoce e lockdown têm colocado lideranças em xeque.

O discurso de cobrança por mais celeridade na imunização, por exemplo, indicado pela campanha #AgilizaCamilo, encabeçada pelo deputado federal Capitão Wagner (Pros) e acompanhada por outros parlamentares, acende os holofotes sobre os índices de vacinação dos principais municípios comandados pela oposição no Ceará.

Todos têm indicadores abaixo da média estadual, de acordo com os últimos dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Segundo atualização da última terça-feira (6), o Ceará tem aplicadas 97,42% das primeiras doses previstas para a meta da atual fase e 37,14% das segundas doses.

Entre os municípios com opositores de Camilo na prefeitura, apenas Caucaia, do prefeito Vitor Valim (Pros), tem um dos indicadores superior à média estadual, com 42,44% de segundas doses aplicadas. O percentual de primeiras doses previsto na meta, porém, está abaixo: 86,86%.

Em Maracanaú, do prefeito Roberto Pessoa (PSDB), os índices são de 87,77% (primeira dose) e 35,84% (segunda dose); em Juazeiro do Norte, do prefeito Glêdson Bezerra (Podemos), 88,92% (primeira dose) e 27,16% (segunda dose); e em São Gonçalo do Amarante, do prefeito Professor Marcelão (Pros), 96,10% (primeira dose) e 31,62% (segunda dose).

Caucaia, Maracanaú e Juazeiro chegaram a integrar lista de municípios que teriam suspensos os repasses de doses, devido ao não cumprimento das metas de vacinação, mas o avanço do índice de imunização per capita reverteu o impasse, relacionado a uma decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5).

TRATAMENTO PRECOCE

Outro tema que atrai ruído instantâneo dentro da polarização dos debates é o “tratamento precoce”, combinação de medicamentos sem eficácia comprovada contra Covid-19 defendida insistentemente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e apoiadores, embora sem amparo de estudos que justifiquem a propaganda.

O assunto voltou a ganhar repercussão no início desta semana, quando Jair Bolsonaro postou vídeo em que o prefeito de Chapecó (SC), João Rodrigues (PSD), creditava o suposto sucesso do município em relação à Covid-19 à adoção do tratamento precoce, entre outras medidas. O prefeito mostrava uma ala de tratamento semi-intensivo vazia, com imagem e discurso que passavam sensação de tranquilidade em relação à pandemia. João Rodrigues apontava queda expressiva nos casos confirmados e “internamentos próximos de zero” no município catarinense.

O que mais chamou atenção, porém, foi uma série de omissões por parte do prefeito. Depois que ele assumiu a prefeitura, em janeiro, o número de óbitos por Covid-19 em Chapecó saltou de 123 para 539 (até o último dia 6), aumento de 338%. No início do mandato, em janeiro, João Rodrigues instalou um ambulatório especializado no tratamento precoce. Outras medidas tomadas por ele foram a liberação de eventos e a ampliação do horário de funcionamento de bares, com direito a apresentações musicais ao vivo.

O prefeito também omitiu que, àquela altura, as UTIs da cidade continuavam lotadas e que a redução recente de casos trazia os efeitos de um lockdown realizado entre 22 de fevereiro e 8 de março. A repercussão respingou em apoiadores do presidente, inclusive no Ceará.

LOCKDOWN NO CEARÁ

A resistência ao lockdown tem sido uma marca de gestões alinhadas com o discurso de Bolsonaro, crítico das medidas de restrição desde o início da pandemia.

No Ceará, a adoção do isolamento social rígido em todo o Estado a partir do dia 13 de março foi precedida pela recomendação, no início daquele mês, de que todos os municípios com risco “alto” ou “altíssimo” para Covid-19 adotassem as mesmas medidas impostas inicialmente apenas a Fortaleza. Dos municípios de oposição, apenas Caucaia se antecipou, decretando lockdown no dia 12, um dia antes do início do decreto estadual.

Após as tentativas, sem sucesso, de controlar o avanço da pandemia sobre o sistema público de saúde com medidas menos restritivas, o prefeito de São Gonçalo, Professor Marcelão, foi um dos que reconheceram a importância do lockdown.

FONTE: Diário do Nordeste

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